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SESSÃO N.° 21 DE 10 DE MARÇO DE 1896 215

campanhas africanas do que seria a Allemanha, por exemplo, é que possuem uma mais justa apreciação das circumstancias locaes, que a elles mais do que ninguem são familiares. Disto deram agora mesmo uma prova evidente, com a qual devem estar tanto mais satisfeitos, que a imprensa ingleza, interessada no assumpto, se exprimiu sempre com menosprezo e escarneo ácerca da expedição portugueza contra o invencivel Gungunhana."

A New Frei Press, de Vienna, publica um artigo do africanista dr. Emilio Holub, no qual se lê o seguinte:

"A attitude dos portuguezes é a todos os respeitos digna de louvor, até no proceder dos soldados em face do inimigo batido, de modo que muitos bandos, facto raro na historia da táctica dos zulus, depozeram as armas diante dos portuguezes. Os mais importantes episódios nesta guerra foram: o ataque da principal columna portugueza sobre um destacamento zulu, que regressava com uma rica preza, e em que os regimentos deste destacamento soffreram uma completa derrota, e a prisão do Gungunhana e de seu filho Godide, pela força do capitão Mousinho.

"Com a derrota do Gungunhana livrou Portugal a sua colonia do sul de África de um temido contrario, e as tribus negras, que tinham ficado fieis, do seu peior inimigo, mas alem disso Portugal merece os agradecimentos do mundo civilisado pela sua victoria, que poz termo definitivo ás crueldades do Gungunhana."

Isto dizem os jornaes austríacos.

Quer agora v. exa. saber o que diz The Press, do Transvaal, tambem a este respeito?

Descreve minuciosamente a prisão do Gungunhana, enaltece o heroismo de Mousinho, e diz que a historia da prisão "é a mais maravilhosa e a mais heróica da historia negra".

Quer dizer, os estrangeiros apreciam o acto de bravura de Mousinho de Albuquerque por esta forma, e o governo do paiz e o parlamento pagam esse serviço com 300$000 réis. É triste tanta ingratidão.

Vou agora citar um facto que li hoje num jornal, posto que é altamente doloroso para a Itália, mas ao mesmo tempo muito lisonjeiro para nós.

O Gil Blas, que como todos sabem, é jornal um pouco satyrico, apreciando os ultimos acontecimentos que se deram na Abyssinia, e a derrota dos italianos, diz o seguinte: "Pedissem os italianos auxilio a esse punhado de portuguezes que prenderam o Gungunhana, que teriam levado adiante de si todos os abyssinios".

Aqui tem v. exa. como os jornaes estrangeiros apreciam esse facto.

Felizmente que a nossa imprensa os aprecia pela mesma forma. Só o governo e a commissão entendem e apreciam os factos por forma diversa.

Sr. presidente, Mousinho de Albuquerque foi contra tudo, e a despeito das prudentes instrucções do commissario realisou aquelle feito brilhantissimo que ha de illustrar as paginas da nossa historia.

Se elle tivesse seguido as instrucções do sr. commissario régio, e do seu alter ego sr. Lança deixava-se ficar gosando as delicias do clima onde então se encontrava; mas, em vez disso dirigiu-se aos soldados que o rodeavam e disse-lhes:

"Eu não posso obrigar ninguem a partir, mas como ao sair de Lisboa eu trazia a idéa fixa de prender o Gungunhana, vou provar que não era uma loucura o meu projecto, e que será antes uma realidade traduzida em facto.

"Aquelles que quizerem acompanhar-me, podem faze-lo; mas não são a isso obrigados."

A estas palavras, todos os officiaes e soldados validos se dispozeram a acompanhar o seu capitão e, todos sabem como se procedeu á prisão do Gungunhana.

Pois estes factos são do dominio de todos, são apontados pela imprensa de todos os paizes e tratados e apreciados por todos os jornaes de Lisboa e só não chegaram ao conhecimento da illustre commissão?

O nosso illustre collega, o digno par Thomás fiteiro, disse aqui ha dias que fazia votos por que, nesta questão, se pozesse de parte a politiquice, e que muito desejava que o assumpto fosse encarado pelo lado grandioso, pelo lado heróico para galardoar Mousinho.

S. exa. não queria que a politiquice interviesse em assumpto tão serio, mas, infelizmente, desde o principio não se tem tratado senão de politiquice por parte do governo.

Não se comprehende que um governo, onde se encontram homens illustrados, e homens de coração tenham até hoje resistido á corrente da opinião publica.

Dizia-nos ha pouco o sr. ministro da guerra: insistir ou transigir. Pois ceda s. exa. (Apoiados.) pois transija (Apoiados.) e verá que ha de ter o applauso de lodo o paiz.

Quando se disse que o nobre ministro da guerra havia consultado os coroneis, eu disse logo que isso era impossivel.

O sr. Ministro da Guerra (Pimentel Pinto):- Apoiado.

O Orador: - Não acreditei que houvesse um unico official que, pelo facto de lhe passar á direita um dos heroes das nossas campanhas de África, viesse protestar contra os postos por distincção. (Apoiados.)

Pois se nenhum coronel protestou contra os postos por distincção, porque não promoveu esses officiaes?

Deixemo-nos de interpretações cerebrinas, deixemo-nos de apurar que differença existe entre promoções por distincção e por escolha.

Siga o sr. ministro os impulsos do seu coração, e não estejamos a dar á Europa o triste espectaculo de um paiz que por invejas e mesquinhas considerações disputa uma recompensa áquelles que pelos seus feitos passarão á historia, e só esses.

S. exa. sabe que em Lisboa existem addidos militares junto das legações e que elles seguem passo a passo tudo quanto occorre no nosso exercito e tudo o que com elle se relaciona.

Não queira, pois, s. exa., que esses agentes ou delegados diplomaticos digam nos seus relatorios que o governo foi mesquinho, que o governo atraiçoou a opinião do paiz, não dando a esses benemeritos o galardão a que tinham direito.

Citei as palavras do sr. Thomás Ribeiro, e sinto que s. exa. não esteja presente, e, coincidencia notavel, quando ha tempos eu mandei para a mesa a minha proposta que tinha por fim conceder uma pensão a esses bravos, entrava na sala o digno par a quem me tenho referido e disse elle: "Não se faça politiquice nesta questão" e amavelmente advertia o governo a entrar no bom caminho. Ninguem fez questão politica deste projecto ou de qualquer proposta que se referisse aos heroes de África. Se se fez politica, foi o governo que a fez. Nós não fazemos politica, o que queremos é que se faça justiça.

Foram proferidas nesta camara umas palavras que são importantissimas pela sua alta significação.

O sr. Francisco Costa, director geral do ministerio da marinha e ultramar, disse aqui: "Agora é que nós podemos dizer que é nossa a provincia de Moçambique".

Pois ninguem póde apreciar com mais justiça e conhecimento de causa o acto praticado por Mousinho de Albuquerque do que o director geral do ministerio da marinha e ultramar! Nada disto fez impressão na commissão para dar despacho favoravel ás propostas que lá encontrou.

A limpeza daquelles territorios, o aniquilamento de certas ambições, de flibusteiros, que outra cousa se lhe não póde chamar, foi completa.

Foi uma provincia conquistada; a sua posse garantida, despeza e vidas poupadas. Nada disto levou a commissão a galardoar Mousinho.

E digo isto? porque todos sabem que as libras encontra-