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200 ANNAES DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO

Eu disse então ao Sr. José Luciano que se elle não abandonasse a orientação a que se tinha subordinado, mal iria a S. Exa. e ao partido de que era chefe.

Na outra Camara deram-se acontecimentos que tiveram por origem a attitude da maioria da commissão de fazenda, relativamente ao projecto dos tabacos.

Em consequencia d'essa attitude, houve crise ministerial, e houve tambem a formação de um grupo politico, conhecido hoje pelo grupo dos dissidentes progressistas.

Sustentaram então todos, tanto n'esta Camara, como na outra, a necessidade primaria de que a concessão dos tabacos fosse feita em concurso publico e que se desaggregasem as duas operações.

A verdade, Sr. Presidente, é que nós vencemos, nós, aquelles que combatiamos as intenções do Governo progressista de 1904, vencemos porque, estando á beira o concurso para o monopolio dos tabacos, arrancámos essa forma de concessão á condição simultanea da conversão, prestando assim ao paiz um dos maiores serviços de que ha memoria nos annaes parlamentares.

Escuso de dizer quanto se distinguiram n'essa occasião esses homens que constituem o grupo chamado da dissidencia, homens de enormissimo valor, com altos serviços prestados na tribuna, no Parlamento e na imprensa.

Succedeu-lhe o Governo regenerador, e como eu não regateio a justiça a quem é devida, devo dizer, sem occultar a importancia do movimento que na imprensa favoreceu a separação das duas operações, devo dizer, repito, que ao Governo regenerador se deve a sua execução; e assim não posso n'este momento deixar de pôr em perfeita evidencia o nome do homem que então sobraçava a pasta da fazenda, o Sr. Conselheiro Teixeira de Sousa.

Escusado será referir-me ao embale politico, ao conflicto a que no seio do partido progressista deu origem toda esta cambiante de questões administrativas.

Assim fomos vivendo até ha pouco tempo, quando ha semanas se deu um acontecimento cujo alcance immediato não foi apreciado por muita gente, ma cuja importancia deve ter um reflexo no teclado parlamentar.

Um bello dia, esse grupo de homens de talento, valor e estudo — os dissidentes — entendeu que era do seu direito reunir-se e reunindo-se fizeram-n'o na defesa do seu direito e iniciativa politica, mostrando assim que essa reunião significava ao mesmo tempo que a nitidez da comprehensão do mo mento politico que atravessamos, o direito de proseguir no esforço de uma activa lucta, como estadistas que eram e homens de acção, de quem muito temos a esperar.

N'esse momento é que o genio propriamente portuguez começou a manifestar-se á volta d'este facto de singela e legitima expansão politica.

Começaram então os racontars, os cancans, as atoardas..

Houve referencias ao nome do Sr. Julio de Vilhena, ao nome do Sr. Hintze Ribeiro e até, mercê de Deus, houve quem se lembrasse do meu modestissimo nome.

O resultado, Sr. Presidente, a pouco trecho se conheceu, e os elementos que n'este paiz se arrogam o direito supremo de intervir na governação do Estado, entenderam dever acautelar aquillo que significava o seu monopolio.

A concentração liberal formou, para uma revista geral de forças, de maneira que se estabelecesse em face da civilização moderna uma defesa inatacavel e indiscutivel, com elementos novos, para que todo aquelle que tentasse levantar a cerviz, ficasse esmagado.

O Sr. João Franco, permitta-me S. Exa. a expressão popular, é muito videiro, entendeu que para elle era esta uma excellente occasião de firmar a plenitude dos seus recursos politicos e parlamentares.

Pois que! Os meus colligados amedrontam-se ?

Ora, Sr. Presidente, a assembleia escolhida para tratar da acção foi a nossa.

Creio que V.- Exa. não teve o prazer de assistir a essa sessão, mas ha de ter conhecimento d'ella, por iodos os motivos: em primeiro legar, pela alta posição que occupa no seu partido; em segundo logar, pelo elevado cargo que occupa n'esta casa.

Sr. Presidente: o regimem do trabalho dentro d'esta assembleia legislativa é variado.

Aqui ha uns directores, leaders, ou como lhes queiram chamar, que pertencem á concentração liberal e que são os que trabalham.

Um é o meu illustre amigo, por quem tanta consideração tenho, o Sr. Mello e Sousa, que exerce as funcções de leader, acolytado peles symphaticos granadeiros Luciano Monteiro e Teixeira de Vasconcellos.

S. Exa. é que dirigem as discussões politicas d'esta casa, e muito bem. O Sr. Mello e Sousa dá-nos, no logar que exerce, a demonstração d'aquillo que vale ; eu já conhecia S. Exa. como homem de profundos conhecimentos, sobretudo em materia economica e financeira, mas aqui, n'esta casa, tenho tido occasião de mais de perto apreciar o seu valor.

O Sr. Mello e Sousa é homem pratico, de acção, de assistencia dedicada.

Quando, porem, se trata de grandes solemnidades, de dias de Lausperenne, em que seja precisa uma exhibição completa da phrase parlamentar com espectaculosidades publicas, então o Sr. Mello e Sousa descansa e vem o Sr. Beirão, que não está presente, mas como nas minhas palavras cousa nenhuma de pessoalmente desagradavel ha para S. Exa., não tenho a mais pequena duvida em me referir a S. Exa. O Sr. Beirão, não posso dizer, Sr. Presidente, que seja n'esta casa um elemento activo parlamentar.

Não é.

S. Exa. mostra-se pouco, vem só nas occasiões solemnes em que é necessario ouvir, através da sua tuba, não direi sonora, mas firme, a voz do Jehovah que troveja do alto da Rua dos Navegantes.

O Sr. Beirão é exhibido poucas vezes, apenas quando uma manifestação externa do poder se torna necessaria. Isto, Sr. Presidente, dá-me a impressão do ultimo dos merovingios, uma especie de Childerico do partido, que passeia pela sala, em dias de excepção, sob o pallio, com os Srs. Villaça, Sebastião Telles, Dias Costa, Espregueira e outros marechaes progressistas ás varas do mesmo.

A impressão que tenho de S. Exa., Sr. Presidente, é que S. Exa. representa uma especie de prelado orthodoxo, de fartas barbas brancas, deitando a benção ao cortejo, do alto da Presidencia, em nome do Propheta. Veio o Sr. Beirão e falou. V. Exa. sabe que isso deu origem a um incidente que, pela sua natureza especial, entendo que não deve ter a menor referencia da minha parte. As hostes progressistas reuniram-se. A demonstração de confiança, fé e adhesão ao Sr. Presidente do Conselho estava dada e o momento de se votar uma lei de meios chegara.

O Sr. Beirão tinha officiado solemnemente, de pontifical, e os fieis acudiram, como convinha, a escutar-lhe o verbo sagrado.

Eu refiro-me ao Sr. Beirão porque não me posso referir ao Sr. José Luciano.

S. Exa. só veio a esta casa, desde que abriu o Parlamento, duas ou tres vezes, e dizem me pessoas bem intencionadas que duas vezes veio para me dar a honra de me ouvir. Depois creio que só aqui veio para dar um conselho politico ao Sr. João Franco. Em seguida recolheu-se, nunca ninguem mais lhe pôs a vista em cima. E hoje venera-se no templo da Rua dos Navegantes, onde os crentes mais fanaticos vão vê-lo e adorá-lo, como os da Asia Ceritral ao Grão Lama de Thibet.

Eu já não tenho a impressão politica que tinha deante da pessoa de S. Exa.,