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170 DIARIO DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO

nheiros, os movimentos de terra effectivamente realisados não excederam 104:282 metros cubicos. Pagou-se, portanto, a mais, 215:892 metros cubicos, isto é, o thesouro desembolsou 89:670$885 réis, quando deveria ter gasto apenas 25:335$837 réis. resultando dahi um prejuizo efectivo de 64:335$048 réis.

"Esta estrada já estava em 11:000$000 réis por kilometro, e ainda faltava, completar o pavimento."

Já vê à camara o dispendio enorme, e não justificado, que se fez com estas obras. Faço inteira e plena justiça aos sentimentos que levaram os membros do gabinete anterior a dar largo impulso á construcção dás estradas do Algarve.

Aquella provincia atravessava uma crise dolorosa: as circumstancias em que se encontrava deviam inspirar aos poderes publicos a desejo de minorar os soffrimentos daquelles povos, e um, dos meios principaes para lhes valer, embora com sacrificio do thesouro, era promover na mesma provincia o desenvolvimento das obras publicas. Mas pergunto: justificará este pensamento a circumstancia de se haver despendido, com uma determinada obra, improficuamente, em beneficio exclusivo, não posso saber de quem, 64:000$000 réis, que poderiam ter sido gastos, em beneficio dos mesmos povos, conseguindo um desenvolvimento mais effectivo das obras publicas emprehendidas? Parece-me que não.

N'estes termos cumpria, e muito, que se fosse mais parco nas censuras ao governo; e que se não pretendesse lançar-nos em rosto o não terem sido effectuadas mais economias; obras desta ordem não as tem realisado este governo, o que não significa que não possa ainda haver um ou outro abuso; não se consegue tudo de repente, e não se obtem em seis meses aquillo que outros, cheios de experiencia dos negocios, com amplos conhecimentos e sincero desejo de acertar, não conseguiram alcançar em oito annos, como amplamente o demonstram os factos pouco brilhantes que, acabo de narrar á camara.

A estrada, a que me referi, já estava em 11:000$000 réis por kilometro. Não sei em que proporção de despeza ficará depois de completa a sua construcção.

Mas similhante facto não é isolado.

A estrada districtal n.° 128, no lanço de Alportel ao Barranco do Velho, tem uma extensão de 10:658 metros. Custou 277:806$906 réis, foi assim a despeza, por kilometro de 26:000$000 réis, quasi tanto como um caminho de ferro, e note-se que as obras de arte e as terraplanagens ainda se, achavam incompletas!

Os exemplos multiplicam-se.

O lanço de Tavira a Martim Longo, na estrada districtal n.° 127, tem de extensão 8:243 metros, e custou 142:573$505 réis. Neste lanço foi, pois, n'esta estrada de 18:000$000 réis o custo kilometrico, sem contar as pontes e o pavimento que ainda faltam, achando-se concluida unicamente a terraplanagem.

Nestas circumstancias se gastaram no Algarve réis 1.603:000$0OO em obras publicas, desde junho de 1875 até junho de 1879!

Significarão estes factos unica e exclusivamente amor pelo fomento, paixão por que se desenvolvam as obras publicas, cuja iniciativa s. exa. o sr. Fontes. Pereira de Mello, parece querer monopolisar para si?

Quando hontem eu ouvia o digno par com aquelle agrado e admiração que a fluência da sua palavra e os seus altos dotes parlamentares justificam, parecia-me comtudo, que s. exa. se limitava a repetir idéas que se encontram exaradas, quer nos seus relatorios como ministro, quer nos seus discursos, e sobretudo num que proferira em 1869 em circumstancias muito analogas ás actuaes, e, defendendo a administração de que fizera parte.

Era então ministro da fazenda o meu illustre antecessor, o sr. conde de Samodães, que tambem foi accusado de traçar um quadro demaziadamente negro da situação do paiz, de assustar com elle os nossos credores e de promover a baixa dos fundos publicos. Esse illustre ministro, ao qual já hoje se presta-a justiça que lhe é, devida em alguns dos jornaes que mais o arguiram reconhecendo agora esses jornaes que elle effectivamente conseguiu melhorar de modo sensivel a nossa situação com as providencias que propoz, e que successivamente foram sendo adoptadas esse homem muito distincto, que eu ouvi accusar de comprometer os interesses do seu paiz, porque ousou revelar-lhe a verdade, teve na capara electiva um debate com o sr. Fontes? que, em resposta, a s. exa. teve occasião, fazendo-o quasi nos mesmos, termos em que hontem-me respondeu nesta casa, de desenrolar, ante o paiz inteiro as glorias dessa rede de- melhoramentos materiaes, cuja realisação o digno par teima em attribuir ao seu partido com exclusão de todos os outros.

Alludiu então s. exa. aos caminhos de ferro, ás vias de communicação ordinarias, aos telegraphos eléctricas, as obras de barras portos e rios, aos subsidios para a navegação; emfim, a esses emprehendimentos que explicam o grande progresso da riqueza publica.

O digno par Apresentou-nos hontem quasi a reprodução daquelle discurso e a renovação dos argumentos então adduzidos.

Mas, sr. presidente, por muito seductoras que sejam as palavras do sr. Fontes não levemos o nosso amor pelos melhoramentos materiaes a ponto de que nos custe sessenta ou quarenta aquillo que nos póde custar vinte ou dez. Não pretendo affirmar que nós governo actuai, não possamos tambem enganar-nos podemos ser infelizes, mas o que é certo que pela nossa parte diligenciaremos que se não repitam factos como aquelles que acabo de expor á camara, e cujo conhecimento serve como voz de aviso para evitar a sua repetição.

Não sei se o conseguiremos mas se o não conseguirmos, ha muitas vozes, eloquentes nesta casa, que nos lançarão em rosto termos prometido seguir rumo diverso, para a final conservarmos as cousas no estado em que as encontrámos.

Mas voltando ainda ao meu ministerio e sobretudo aquella these que me preoccupa tanto, e que foi, defendida pelo sr. conde de Valbom refiro-me á possibilidade de obter de prompto pela melhor administração do imposto o remedio para o mal financeiro de que padecemos não posso deixar de dizer ainda algumas palavras que tem referencia com esse assumpto.

Accusam-me severamente por eu ter proposto o meio de arrecadação de que trata o projecto que se discute, e até se fallou a proposito da arrematação do real de agua, na intervenção infeliz do espirito da localidade, na administração da fazenda, e nas successivas e inconvenientes transferencias feitas pelo meu ministerio para satisfazer aos, desejos e imposições desses centros e clubs a que estamos subordinados, na palavra dos nossos adversarios politicos com sacrificio da nossa propria dignidade, e esquecendo o decoro que devemos ao logar que occupamos.

N'esta parte seja-me permittido declarar terminantemente que - o governo, não obedece a nenhumas influencias locaes, debaixo do ponto de vista que se pareceu querer inculcar. As influencias locaes, todavia, podem muito bem, dadas certas condições, intervir com vantagem na marcha administrativa de um governo qualquer, concorrendo com a sua iniciativa ou com as suas indicações para a melhor gerencia dos negocios publicos no seu conjuncto geral, será que dahi provenha desaire para quem tem a seu cargo a suprema direcção desses negocios.

Demais, todos os governos obedecem a essas influencias, e não vejo que o digno par, quando esteve no poder apesar da sua energia e incontestavel elevação de caracter conseguisse sempre repelli-las para longe de si.

Mas se é certo que nos deixamos dominar por esses circulos e centros, se para lhes obedecer fazemos transferen-