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SESSÃO N.° 22 DE 4 DE MARÇO DE 1892

O sr. Sousa A vides: — Mando para a mesa a seguinte proposta:

«Proponho que se lance na acta da sessão de hoje um voto de profundo sentimento pelo terrivel sinistro, que no dia 27 de fevereiro fez tantas victimas nas costas do norte, e que se enviem ás camaras municipaes de Gaia e Povoa de Varzim copias da parte da acta exprimindo a consternação d’esta camara por tão triste acontecimento.

«Sala das sessões da camara dos dignos pares do reino, 4 de março de 1892.= O par do reino peio districto do Porto, Manuel de Sousa, Avides.»

Como representante nesta casa do parlamento do districto onde se deu o desastre do dia 27 de fevereiro, que os jornaes têem noticiado, e que tem confrangido todos os corações, entendi que não podia nem devia ficar silencioso perante tamanha catastrophe, que enlutou, não só os povos d’aquelle districto, mas todo o paiz.

A classe piscatoria, uma das mais sympathieas do nosso povo, acaba de perder no norte grande numero de seus membros, homens amantes do trabalho, empenhados quotidianamentena lucta pela vida e que agora foram encontrar a morte de uma maneira tristissima.

Parece que a fatalidade se compraz em acarretar sobre o nosso paiz desgraças e desastres; parece que ainda não terminou a serie de contrariedades, em que ultimamente temos vivido.

Entretanto, se essas calamidades nos têem perseguido com incrivel tenacidade, ellas têem ao menos servido para mostrar a grande vitalidade desta nação, que tem resistido impavida a todos os embates da sorte.

É notavel que n’este momento, em que atravessâmos uma longa e temerosa crise; n’este momento em que o parlamento acaba de votar uma lei, que pela sua gravidado fui denominada de salvação publica e que o paiz recebeu com uma resignação, que é uma prova do seu admiravel bom senso diante das calamidades da patria; do momento em que todos começâmos a sentir as consequencias de tão angustiosa situação, é que brota do coração de todos os portuguezes mais viçoso e mais exuberante o nobre sentimento da caridade, que n’este paiz não tem limites.

Desde os soberanos, desde a familia real, que, como muito bem disse o sr. Thomás Ribeiro em um eloquentissimo discurso proferido no Porto, nada tem, porque tudo dá; desde a familia real até ao mais humilde rilho do povo, que, não tendo, mais que dar, dá a sua cigarreira, todos á porfia concorrem com o seu óbolo para minorar os horrores da situação, em que ficaram as familias dos infelizes náufragos.

Peço, pois, ao governo, que já se tem apressado em dar os mais urgentes auxilios, que continue a soccorrer as familias dos que foram victimas d’aquelle desastre.

O sr. Presidente:— Vae ler-se a proposta mandada para a mesa pelo digno par.

Leu-se na mesa. É do teor seguinte:

«Proponho que se lance na acta da sessão de hoje um voto de profundo sentimento pelo terrivel sinistro que no dia 27 de fevereiro fez tantas victimas nas costas do norte, e que se enviem ás camaras municipaes de Gaia e Povoa de Varzim copias da parte da acta exprimindo a consternação d’esta camara por tão triste acontecimento.

«Sala das sessões da camara dos dignos pares do reino, 4 de março de 1892. = O par do reino pelo districto do Porto, Manuel de Sousa Avides.»

O sr. Presidente: Os dignos pares que admittem esta proposta á discussão, tenham a bondade de se levantar.

Foi admittida.

O sr. Presidente do Conselho de Ministros (Dias Ferreira): — Vou dizer ao digno par o que ha feito, por parte do governo, ácerca da catastrophe de que foram victimas muitos dos pescadores da Povoa de Varzim e immediações, a fim de que s. exa. fique tranquillo e certo de que foram promptamente tomadas todas as providencias indispensaveis para que nada faltasse ás familias d’aquelles infelizes.

O governo, logo que teve noticia daquella immensa desgraça, desejou, tanto quanto cabia nos limites das suas forças, acudir á situação desses desgraçados e minorar a sua triste sorte.

Tratei de indagar e vim a saber que os barcos ancorados no Douro e que deveriam acudir ás lanchas que estavam em perigo, não poderam largar o ancoradouro, porque a barra estava fechada. Apenas em Leixões o vapor Elbe, cujo commandante honrada e briosamente se prestou a recolher os náufragos que podesse salvar, é que saiu mais tarde e creio que felizmente ainda conseguiu acudir a uma ou duas lanchas.

Depois d’isto ordenei immediatamente ao governador civil do Porto que, emquanto não colhesse informações mais detalhadas a respeito das tristes consequencias do desastre, empregasse todos os meios para soccorrer os infelizes, pedindo ao governo os soccorros indispensaveis para isso.

O governador civil do Porto partiu immediatamente para a Povoa de Varzim, e, em seguida, uma commissão composta das auctoridades locaes, a que se aggregou a associação commercial do Porto e a imprensa, foi tambem distribuir soccorros aos naufragos.

O governo mandou ainda um barco a Vigo buscar os naufrago que ali aportaram; emfim, adoptaram-se as providencias adequadas a tão horrivel conjunctura.

As informações chegadas ao governo dizem que foi de 110 o numero de victimas n’aquelle desastre.

Póde ser que este numero, por qualquer circumstancia que por ora ainda não foi possivel apurar, venha a ser menor; isto é, póde muito bem succeder, e oxalá assim succeda, que alguns pescadores fossem recolhidos no alto mar por vapor que passasse, e que outros aportassem a algum sitio que se ignore; mas presinto que o numero de 110 victimas não soffrerá, infelizmente, nenhuma reducção.

Em Lisboa organisaram-se bandos precatorios e Sua Magestade El-Rei e a Rainha tomaram a iniciativa de uma subscripção para acudir ás familias dos naufragos.

Houve hontem uma reunião no paço de Belem e d’entre os que a ella assistiram, foi nomeada uma commissão para tratar de chegar o mais rapida e satisfatoriamente possivel ao fim que se deseja.

Lá mesmo a subscripção ascendeu a uma somma importante.

Já hoje trabalhei com aquella commissão, e estou convencido que os esforços por ella empregados hão de surtir os necessarios e desejados effeitos.

A questão dos soccorros ás victimas sobreviventes da catastrophe da Povoa de Varzim é partilhada entre ricos e pobres, e parece-me que, desta maneira, hão de ser sufficientes os donativos obtidos para occorrer aos resultados d’aquella horrivel desgraça; mas, se a minha previsão falhar, o governo virá ás côrtes pedir um credito extraordinario que lhe permitia evitar que as viuvas e orphãos dos fallecidos fiquem numa tristissima situação - (Apoiados.)

São estas as explicações que tenho a dar á camara dos dignos pares do reino.

(S. exa. não reviu.)

O sr. Presidente: — Não ha mais ninguem inscripto. Vae ler-se a proposta mandada para a mesa pelo digno par o sr. Sousa Avides para ser votada.

Leu-se na mesa e posta á votação foi unanimemente approvada.

O sr. Presidente: —Vão ler-se os requerimentos mandados para a mesa pelo digno par o sr. Thomás Ribeiro.

Leram-se na mesa. São o teor seguinte:

Requerimentos

Requeiro que, pelo ministerio das obras publicas, seja