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DOS PARES. 185

E a este respeito direi, que não sou eu quem desconheça as boas qualidades desse Empregado, mas e um principio obvio que todo aquelle Empregado Publico que não mostra ter confiança no Governo, não tem direito a esperar que o Governo tenha confiança neste: ora o individuo de que se tracta claramente mostrou que não tinha confiança no Governo, e o mostrou como Membro da outra Camara, o Governo retirou-lhe tambem a sua confiança, e por isso usando da attribuição que constitucionalmente lhe compete, intendeu que o devia demittir, acto este que me parece não poderá reputar-se escandaloso; e se S. Exa. pensa que tenha sido considerado como tal pela gente de todos os partidos, eu penso que tem sido o contrario, e que se algumas pessoas tem sentido que essa demissão tivesse logar, tem mentido não menos que o Empregado se collocasse na posição de ser demittido, (Apoiados.) tomando este acto do Governo como uma consequencia necessaria do que antes disso ostentara o individuo a que se tem alludido nesta occasião.

É a unica explicação que tenho a dar sobre este objecto.

O SR. VISCONDE DE LABORIM: — (Sobre a ordem ) Sr. Presidente, peço a V. Exa. consulte a Camara sobre se esta materia está suficientemente discutida, (Apoiados.)

O SR. CONDE DE LAVRADIO: — É verdade que a Camara já, n’uma questão similhante a esta, me fechou a bocca; mas permitta-me esta Camara dizer que os Senhores que apoiam o Sr. Ministro dos Negocios do Reino lhe prestam muito mau serviço impedindo-me que eu responda ao que S. Exa. disse, e parece-me mesmo que o Sr. Ministro não quererá que assim se proceda.

O SR. PRESIDENTE: — O Sr. Visconde de Laborim fez um requerimento que, na fórma-do Regimento, não posso deixar de pôr á votação da Camara.

Assim o fez S. Exa. e decidiu-se pela affirmativa.

O SR. CONDE DE LAVRADIO:— Está proclamado que eu tinha razão. (Rumor,)

O SR. CONDE DE VILLA REAL: — Eu peço a V. Exa. que pergunte ao Digno Par a explicação do seu dito depois da ultima votação:—Está proclamado que eu linha razão.(Rumor.)

O SR. VISCONDE DE LABORIM:— Eu peço o mesmo.

O Sr. CONDE DE LAVRADIO: — Eu declaro aos Dignos Pares que me não hei de explicar.

O SR. CONDE DE VILLA REAL: — O azedume com que o Digno Par fallou nesta questão, ainda e mais um motivo para eu votar contra ella, não podendo approvar a sua Proposta.

O SR. CONDE DE LAVRADIO:—Eu declaro ao Digno Par que não quero responder-lhe. (Rumor.)

O SR. PRESIDENTE: — Vou perguntar á Camara se toma em consideração a Proposta do Sr. Conde de Lavradio para passar a uma Commissão.

Tomados votos sobre este quesito, foi negativamente resolvido. — Proseguiu

O SR. PRESIDENTE: —Não havendo objecto importante a tractar na Sessão de amanhã, parece-me que seria mais conveniente consagrar esse tempo a trabalhos de Commissões. (Apoiados.) Para Ordem do dia da Sessão de Quarta-feira ficam designados os Pareceres das Commissões, entre os quaes, previno a Camara, terá logar a apresentação do Parecer da Commissão especial nomeada para dar o seu voto sobre a Lei que veiu da outra Camara a respeito do chamado bill de indemnidade.

O Sr. CONDE DE LAVRADIO:— Pedia que V. Exa. me concedesse a palavra antes de fechar a Sessão.

O SR. PRESIDENTE:—Tem a palavra o Digno Par.

O,SR. CONDE DE LAVRADIO: —Consta-me que na segunda Cidade do Reino houvera tumultos, que eu muito lamento; porem esta Camara ainda não teve conhecimento, nem lhe foi feita participação alguma deste acontecimento; e como se acham presentes os Srs. Ministros, pedia que nos communicassem as noticias officiaes recebidas daquella Cidade, por que muitas noticias se tem espalhado, que eu sinceramente desejo que sejam inexactas.

O SR. MINISTRO DOS NEGOCIOS DO REINO: — Sr. Presidente, estou habilitado para poder dar ao Digno Par algumas informações, até por que o Governo recebeu pelo correio de hoje communicações daquella Cidade.

Já não e ignorado por ninguem que, tendo sido arruadas as listas do lançamento da decima industrial, alguns individuos que se acharam gravados com a decisão da Junta se reuniram em tumulto, e principiaram gritando contra o procedimento da respectiva Junta do lançamento: estes tumultos, que não são permittidos pela Lei, por que elles são attentatorios da segurança publica, e por que delles podem resultar consequencias graves, fóram (nem podiam deixar de o ser) objecto da intervenção das Authoridades respectivas, que, por meios brandos e suasorios, tractaram de fazer persuadir a esses individuos, que assim clamavam em publico, e em tumulto, contra a decisão da Junta, que deviam recorrer aos meios competentes, e retirar-se a suas cazas. Não obstante todas as admoestações, os tumultos continuaram; e é certo que se faltou ao respeito devido ás Authoridades, e que a tranquillidade publica esteve alterada. Estes tumultos repetiram-se no dia seguinte aquelle em que principiaram; e, não obstante as reiteradas admoestações das Authoridades, não foi possivel que os amotinados cedessem dos seus intentos. Estes acontecimentos, que ao principio se apresentavam com o pretexto dos gravames causados pela Junta do lançamento, tomaram depois um caracter politico attentatorio da ordem estabelecida; alguem queria aproveitar o ensejo para chegar a seus fans, por quanto no ultimo dia os amotinados appareceram em grande numero, e intentaram até fazer persuadir que se devia proceder á eleição de uma nova Camara Municipal, dizendo que aquella que se achava em exercicio não advogava (na opinião dos tumultuosos) os interesses delles. Foi então que a Authoridade, vendo que o tumulto se não podia já dissipar senão pela força, feitas ainda algumas admoestações para que se retirassem, e não querendo os amotinados ceder, mandou carregalos por uma porção de Cavallaria, que (segundo a expressão do Officio) dando algumas sobradas fizera retirar tudo a suas cazas.

Segundo dizem as participações, notou-se que a maior parte dos individuos que se acharam nesse tumulto, tanto os que gritavam como os chefes que os dirigiam e instigavam, a perturbarem a ordem
1843—FEVEREIRO 47