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DIARIO DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO 239

guagem mais brilhante e mais eloquente do que eu posso fazer, como foi grande essa desillusão! O sr. Serpa até fez esquecer ao sr. Fontes aquellas aspirações de economias, a necessidade de acabar a divida fluctuante e o compromisso do saldo positivo. Essa desillusão fez com que eu visse que o meu amigo o sr. Serpa não ora aquillo que eu suppunha.

O meu illustre amigo o sr. conde de Rio Maior alludiu aqui á situação triste da agricultura. Peço desculpa de tão perfunctoria e ligeiramente tratar estas questões; mas entendo que a occasião do debate á resposta ao discurso da corôa é a melhor para se discutirem os differentes assumptos relativos á politica e á administração publica, e é preferivel fazel-o neste campo, do que por meio de interpellações, que podem conduzir a actos politicos mais caracteristicos, que não comporta a indole d'esta camara. Este é o ensejo proprio para ligeiramente lembrar ao governo quaes são as necessidades publicas, e isso, sem o menor caracter de aggressão, nem. esse caracter tem documento que seja discutivel. É essa a vantagem d'esta discussão, permitta-me que o diga o sr., relator da commissão, e tambem o sr. presidente do conselho, e folgo que a camara haja abandonado essa norma obsoleta que ss. exas. invocaram, para condemnar o facto da mesma discussão. Felicito a camara por isso, e tambem por ver que antigos amigos do governo venham n'esta opportunidade fazer apreciação dos actos do gabinete.

Dizia eu que se havia fallado aqui na agricultura; e a proposito d'este assumpto devo declarar que não posso concordar com a opinião de que se deve evitar a entrada de pão só para que o lavrador possa vender os seus productos.

Deus me livre de tal doutrina, que não posso acceitar de fórma nenhuma, posto queira que o governo protegesse como devia a agricultura (Apoiados.),
fazendo-lhe ensinar o caminho que- tem a seguir para melhor produzir, ou se os nossos mercados não comportam o que ella hoje produz, impellindo-a a fazer produzir outros generos, que satisfaçam as nossas necessidades.

Disse o digno par o sr. Mártens Ferrão que o governo deve auxiliar a agricultura, como todas as outras industrias. Mas é preciso notar que a agricultura é a mãe das industrias, e nós estamos sujeitos a deixar de existir como paiz, se a industria vinicola, a industria principal, e, por assim dizer, a industria mãe, desapparecer.

Um flagello terrivel Vae annullando esta industria, este flagello é a phyloxera, que o governo manda estudar, quando o unico estudo que ha a fazer é o que fez a Hespanha, a destruição e a queima das vinhas atacadas do mal, depois de indemnisar os proprietarios, porque outro qualquer remedio não produz resultado.

Medidas d'esta natureza eram mais necessarias do que o excesso dos caminhos de ferro, do que os armamentos para um exercito, que não póde ser organisado pelo sr. presidente do conselho, que não satisfaz as- nossas necessidades militares, e é apenas um elemento esplendoroso.

E já que fallei n'este ponto, devo dizer que entendia ser pouco o dinheiro gasto com o exercito, sé s. exa. tivesse apresentado uma lei que organisasse, não só a primeira linha, mas a reserva, e de accordo com o sr. ministro da marinha, fizesse com que o exercito, em logar de servir para figurar em paradas ou em espectaculos no campo de Tancos, podesse correr a qualquer ponto das nossas colonias onde fosse necessario.

Dir-se-ha: este serviço não é da indole do exercito.

Pois organise-se para isso, porque para defender a patria das aggressões da Hespanha, não o precisamos, logo que saibâmos governar-nos.

Assim, sr. presidente, não me opporia a que se gastasse mais dinheiro com o exercito.

Por esta occasião, devo dizer que eu, apesar de combater o sr. presidente do conselho, desde que entrei na vida politica, não obstante nunca, ter recebido offensa nem desfavor da parte de s. exa., não posso deixar de o elogiar, por ter mandado um corpo do exercito para o ultramar, quando perigava uma das nossas colonias, mas quero isto como medida permanente e como actividade do exercito.

Sr. presidente, não é com a venda dos terrenos da Zambezia, não é com companhias em projecto, que havemos de remediar os males das- nossas colonias; (Apoiados.) é com a regularisação da fazenda publica, e com uma organisação do exercito no sentido que, acabei de indicar.

Tenho dito ácerca da organisação do exercito mais do que comportam os meus conhecimentos, e por isso não podia tratar d'este assumpto em uma interpellação, e só perfunctoriamente, como o tenho feito.

Ahi ficam as minhas palavras, para serem tomadas na consideração que merecerem.

É a vantagem da discussão do projecto de resposta ao discurso da corôa, em que, mesmo os que sabem pouco, podem expender as suas idéas.

Já vê o sr. presidente do conselho que eu quero exercito, e que não lhe nego os meios para o organisar; mas desejo que essa organisação seja feita com mais vantagem para o paiz, de que se tem feito até hoje.

Fallou tambem o sr. presidente do conselho no desenvolvimento que tem dado á instrucção publica, " disse n'essa occasião que tinha amor aos grandes commettimentos e queria que o seu paiz se engrandecesse e não ficasse estacionario.

São louvaveis as aspirações de s. exa., e acredito firmemente na sua boa vontade; mas os factos mostram-nos que o caminho que o governo vae seguindo não nos conduz ao engrandecimento em que s. exa. nos falla, e que tanto parece desejar.

Disse-se que o partido regenerador tem creado algumas escolas, mostrando assim quanto deseja que a instrucção se diffunda.

Eu não sei, sr. presidente, que escolas tenha creado o partido regenerador; o que sei é que este governo está no poder ha sete annos, e que, durante todo este tempo nenhuma medida se tem apresentado relativamente á instrucção secundaria.

Poderão dizer que foi nomeada uma commissão encarregada de apresentar um plano de reforma de instrucção secundaria, commissão composta de cavalheiros cujo merecimento sou o primeiro a reconhecer; mas o facto é que até hoje nada se tem feito.

Temos uma lei de instrucção secundaria; mas essa lei está suspensa, acontecendo que ha sete annos o governo está despachando professores interinos e provisorios para os logares que vão vagando, sem que haja concurso, parecendo que está á espera de ver em que param as modas.

Lembro-me a este respeito d'aquella conhecida anecdota de Bocage, na qual este poeta conta do louco que andava com o panno debaixo do braço, á espera de ver em que paravam as modas.

Nós estamos da mesma fórma; vamos nomeando professores sem saber se têem ou não competencia para as cadeiras que vão reger.

O que se vê é que o sr. ministro do reino se arvorou em jury de concurso, preenchendo os logares que vagam com individuos que podem ter muita capacidade e ser professores muito distinctos, mas ninguem póde negar que tambem se póde dar o contrario.

Aqui está, sr. presidente, o estado a que b governo levou a instrucção secundaria.

Houve em tempo uma lei a este respeito, que creio ter sido apresentada pelo sr. bispo de Vizeu, mas essa lei suspendeu-se, deitou-se para o lado como prejudicial, e n'esta suspensão temos estado ha sete annos.

Agora passarei a tratar de um outro assumpto, em que já aqui se fallou.

Sr. presidente, tem-se increpado o governo, não sei se