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DIARIO DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO 243

dade dos meus adversarios, se transtornam os meus argumentos e os meus conceitos, para se transformar em armas que se voltam contra o governo.

De que me servia ouvir e ver fazer isso tudo? Para que?

Pelo gosto de estar n'estes logares por mais alguns mezes, por mais alguns dias, ou por mais alguns annos; para gastar a saude e a vida, que empregâmos com dedicação no serviço publico?

Creia o digno par que de boa vontade, repito, annuiria aos seu s desejos, mas não o posso fazer.

Sr. presidente, tenho entrado no ministerio por diversas vezes, e diga-se a verdade, tenho entrado como a camara, sabe; par droit de conquête, porque tenho sempre aberta e francamente tomado no parlamento a posição que se deve tomar em frente dos ministerios quando se entende que é conveniente á causa publica hostilisal-os.

É assim que tenho sempre praticado.

V. exa. dirigiu, com a illustração, o zêlo e a prudencia que. lhe são proprios, uma situação politica que antecedeu aquella a que tenho a honra de presidir, e sabe que eu passei a maior parte do tempo que durou essa administração, fóra do paiz.

Quando cheguei aqui, sr. presidente, fui recebido nos escudos pelos meus amigos politicos; foram elles que me incitaram a tomar a posição politica que actualmente occupo foram elles que na camara dos senhores deputados promoveram uma votação, que deu em resultado a substituição do governo.

Não fui eu que conquistei este logar; não fui eu que dirigi os meus amigos, e deixei-me estar tão afastado dos negocios como quando estava em Berlim, visto que não desejava occupar tão cedo estas cadeiras.

V. exa. sabe perfeitamente que eu não vim aqui uma unica vez, que não dirigi ao governo uma unica palavra, que não dei um passo; e quando, em virtude de circumstancias que eram estranhas á minha acção politica e pessoal, eu me achei investido novamente na direcção dos negocios publicos, tratei de corresponder, quanto em mim cabia, á confiança da coroa, ás necessidades da nação e aos sentimentos dos meus amigos politicos.

Sou um homem politico, governo com o meu partido, e sairei d'aqui quando não poder governar com elle, porque os partidos devem ter a coragem de estar á frente dos negocios publicos emquanto as necessidades constitucionaes o determinam, mas devem tambem retirar-se quando as circumstancias o exijam.

Esta é a historia da minha vinda para o ministerio e da minha permanencia n'este logar.

Que culpa tenho eu, se depois d'isto, amigos antigos, valiosos, e que prezo como a irmãos, têem entendido dever retirar-me o seu apoio? Estão no seu direito. Não terão da minha parte uma palavra de censura, sobre tudo uma palavra amarga.

Não o posso fazer; não tenho direito de o fazer. Cada um segue o seu destino.

Mas, sr. presidente, eu é que não posso faltar aos meus deveres para com a coroa, para com as maiorias parlamentares, e para com o meu partido; não posso retirar-me d'estas cadeiras a um simples aceno de quem quer que for. (Apoiados.)

Sr. presidente, eu tenho assistido a esta discussão desde o principio, tenho ouvido as observações mais ou menos benévolas que me têem dirigido alguns dignos pares que se acham na opposição parlamenter, e ouvi manifestar ao sr. Miguel Osorio, meu antigo amigo, o desejo de que novas capacidades venham robustecer o governo, que elle tambem disse que queria ver caír.

Não pude perceber bem, diga-se de passagem, porque, desejando s. exa. ver caír o ministerio, póde desejar que o robusteçam, principalmente capacidades de cuja existencia ninguem póde dmvidar.

Não pude perceber, repito, salvo se a aspiração de s. exa. querendo ver robustecidas as forças do governo com intelligencias reconhecidas, tem por fim livrar o campo politico, no qual occupa um logar tão distincto, de personalidades, que talvez lhe não agradem; mas, o que não me parece é que s. exa. quizesse que essas intelligencias robustecessem o governo.

Sei que se tem tocado em varios pontos, aliás importantes, a alguns dos quaes tenho respondido já; mas sei tambem que as minhas respostas não servem senão para tranquillidade da minha consciencia e para uma parte d'esta assembléa, porque, para os meus illustres contradictores de nada valem; porquanto eu respondo aos argumentos que se apresentam e quando julgo ter satisfeito, tendo dito tudo quanto da minha parte sei e posso, elles voltam de novo aos mesmos argumentos, e exigem-me as mesmas respostas. Assim ficaremos n'uma eterna discussão, respondendo eu ao que já tenho respondido, e sendo aggredido com os mesmos argumentos com os quaes fôra já tambem aggredido. Refiro-me, por exemplo, á nomeação de pares.

A nomeação de pares, que o governo aconselhou á coroa, não teve por fim, como já por mais de uma vez aqui o disse, reforçar a maioria, porque essa não carecia de reforço. Quando respondi ao sr. conde de Rio Maior, declarei que o governo em nenhuma occasião, mesmo até ao momento de entrada dos novos dignos pares, havia perdido a maioria, e por consequencia não precisava de robustecel-a. O governo entendeu, como tinham entendido outros governos anteriores, e este mesmo, e em outras occasiões, que devia propor ao augusto chefe do estado a nomeação de alguns cavalheiros para membros d'esta camara, os quaes pelos seus talentos, serviços e capacidade não desmereciam dos outros cavalheiros que têem aqui logar.

Por essa occasião disse eu que me parecia que a ultima lei votada por esta casa sobre o pariato tinha naturalmente essa tendencia, que forçava indirectamente a aconselhar o poder moderador a usar mais largamente da faculdade de nomear pares, augmentando o seu numero, e ainda estou d'isto convencido. Ninguem póde duvidar, e foi mesmo expresso aqui no debate d'aquella lei, proposta pelo meu nobre amigo o sr. conde do Casal Ribeiro, de que o que se teve em vista foi procurar restringir o direito de hereditariedade e diminuir o numero de pares que possam entrar n'esta casa em virtude do mesmo direito. Foi essa a tendencia manifesta da referida lei; e como esta camara não póde acabar, como é necessario que se mantenha na altura que lhe compete, é indispensavel que se preencham as lacunas que desgraçadamente a morte vae deixando n'este corpo politico do estado, arrebatando alguns dos nossos collegas. Assim, pois, a nomeação de novos pares ha de necessariamente fazer-se, ou então ha de acabar a camara por falta dos seus membros.

Digo a verdade, não esperava que aquelles que pertencem ao partido historico, partido illustre pelas suas tradicções, partido que tem as condições precisas para ir ao poder, fossem exactamente os primeiros a incriminarem-me pela nomeação de pares que aconselhei ultimamente á corôa, quando é certo que esse mesmo partido, a que pertence o digno par o sr. Miguel Osorio, usou mais de uma vez da mesma faculdade, como estava perfeitamente no seu direito, fazendo entrar n'esta casa, não seis ou sete pares, mas vinte ou trinta de uma vez. E é s. exa., membro do partido que aconselhou uma nomeação em tão grande escala, que accusa o partido regenerador de promover a nomeação de tão pequeno numero dos seus amigos para membros d'esta camara, quando o fizemos sem o intuito, nem disso havia necesssidade, de modificar a opinião d'esta casa do parlamento, com cuja maioria contavamos já no momento de aconselharmos aquella nomeação?

Acho estranho argumentar com a Inglaterra. Pois ha alguma paridade entre o nosso systema e o systema inglez? É só por se chamar uma camara hereditaria e vitalicia, porque, de resto, em Inglaterra a condição de hereditarie-

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