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2 DIARIO DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO

versar com os srs. ministros, sobre assumptos de interesse publico, que esta minha saudade deve ser-me desculpada.

Outro assumpto:

Recebi de Pretoria, na republica do Transvaal, um jornaal, que de certo foi tambem recebido pela imprensa de Lisboa, que me parece já vi n'um jornal nosso referencias áquelle. Esse jornal traz algumas noticias que vou relatar á camara e cuja leitura eu desejava recommendar ao sr. ministro da marinha.

Nós temos um ponto, talvez unico, na? nossas possessões africana onde póde facilmente estabelecer-se, aclimar-se e reproduzir-se a raça europêa: é o planalto de Mossamedes. Tive eu já o desejo ardente da ir ali para ver se fazia alguma cousa util, o que não é muito facil de conseguir já agora n'este paiz, mas imaginaram n'essa occasião que eu queria vender caro os meus serviços, quando eu os offerecia gratuitos e da melhor vontade; tenho d'isso testemunhas.

Parecia-me sr. presidente, que nós podiamos estabelecer ali uma grande succursal do nosso paiz, onde estivessem representados os nossos interesses, (Apoiados.) fundar ali um grande imperio com gente nossa, podendo talvez, sem a despeza e o sacrificio de grandes exercitos, assegurar na Huina a mais efficaz defeza dos nossos dominios coloniaes.

Acredito mesmo que talvez o caminho do ferro, que deve ligar o planalto com os portos maritimos, se não se poder fazer directamente pelo estado, em vista das circumstancias das nossas finanças, poderia ser feito, por essa gente que ali for estabelecer-se. Ou por virtude d'ella.

Ora, o planalto de Mossamedes acha-se, é certo, occupado em differentes pontos por gente portugueza; mas é tambem certo que muita d'essa gente, parece, não poucas vezes tem já appetecido abandonar-nos, á força de por nós se sentir abandonada.

Ora, é sabido que os boers, essa raça somada de caracter arrojado e activo, acostumados aos seus carros habitações que fazem transportar para toda a parte, tirados por grande quantidade de juntas de bois, têem ha tempo amiudado para ali as suas visitas; e agora n'este jornal de Pretoria declara-se que os que vieram do planalto tratam de engajar uma grande leva de gente para irem com ella installar-se ali, onde encontram, a par de um clima excepcional na Africa, terrenos de uma feracidade exuberante, e todas as condições emfim de prosperidade e desenvolvimento.

Em vista d'isto, parece-me de bom conselho que tratemos de precaver-nos contra possiveis, senão provaveis conflictos futuros, em que a auctoridade portugueza ali póde vir a ficar muita abalada, porque os boers são muito valentes e muito emprehendedores; e promptos e aptos a lançar raizes em quaesquer territorios onde possam estabelecer-se, sendo comtudo rebeldes, ao dominio da gente que não seja da sua raça. As suas auctoridades hão de ser suas, e não nossas, porque elles a nenhuma auctoridade estranha se submettem.

Desde que os inglezes se apossaram das suas colonias do Cabo, elles tornaram-se errantes, só para se não sujeitarem ao dominio estrangeiro e errantes se conservam emquanto não acham um ou outro ponto em que se estabeleçam sob a sua propria administração. Saídos do Cabo dirigiram-se para a contra costa. Os inglezes, vieram, porém, espreital-os e querel-os para si? Novo exodo os levou ao rio de Orange e ao Transwal, onde após muitas luctas conseguiram ser de si. Portanto, estes homens não acceitam por fórma nenhuma governo que não seja exercido por gente que não seja da sua raça.

Ora os boers vieram encontrar no planalto de Mossamedes condições boas para se estabelecerem, em terrenos excellentes para cultivar.

Estes homens estão formando corpos de emigrantes que se vão estabelecer em Huila e suas proximidades, e não querendo elles acceitar dominio alheio hão de provavelmente crear auctoridade sua.

Ora, porque é que o governo não ha de olhar muito attentamente para este assumpto, e trabalhar para remediar um mal que ainda é remediavel?

Ali, é ali que deve fundar-se a Nova Luzitania; este era eco meu ideal.

Como não vejo presente nenhum membro do governo, mais uma vez appello para a benevolencia de v. exa. a fim de que as minhas palavras sejam levadas ao conhecimento do sr. ministro dos negocios da marinha e do ultramar e para que ao menos não seja por falta minha que se deixe de avisar os poderes publicos de um perigo que parece ser tempo ainda de remediar se pensarmos muito attentamente sobre esta questão, e talvez se possa fazer alguma cousa proveitosa para o paiz sem grandes despendios.

Mas como não está presente o sr. ministro da marinha e do ultramar, que é muito conhecedor d'estes assumptos, termino por aqui as minhas considerações.

(O digno par não reviu as notas tachygraphicas ao seu discurso.)

O sr. Presidente: - Communicarei aos sr. ministros das obras publicas e da marinha as observações do digno par.

Tem a palavra o sr. Jeronymo Pimentel.

O sr. Jeronymo Pimentel: - Sr. presidente, pedi a palavra para mandar para a mesa um requerimento, pedindo alguns esclarecimentos, pelo ministerio dos negocios estrangeiros, que é do teor seguinte:

(Leu.}

Sr. presidente, espero que o sr. ministro dos negocios estrangeiros, a cujo caracter presto inteira homenagem, não deixará de, sob pretexto de quaesquer reservas diplomaticas, remetter os documentos que peço.

Desejo discutir e apreciar o acto da demissão d'aquelle funccionario, e não quererá de certo o nobre ministro recusar-me esses documentos, que me são necessarios para bem poder apreciar esse acto.

Já que estou com a palavra aproveito a occasião para pedir a v. exa. que consulte a camara sobre se consente que seja aggregado á commissão de administração o sr. Vasconcellos Gusmão, porque, como v. exa. sabe, tem havido grandes difficuldades em se reunir essa commissão por se acharem ausentes alguns dos seus membros.

O sr. Presidente: - Vae ler-se, o requerimento mandado para a mesa pelo digno par o sr. Jeronymo Pimentel.

Leu-se na mesa, É ao teor seguinte:

Requerimento

Roqueiro que, pelo ministerio dos negocios estrangeiros, sejam com urgencia enviadas a esta camara copias dos telegrammas que nos dias 15, 16 e 17 de fevereiro ultimo foram expedidos para áquelle ministerio pelo nosso ministro então em Haya, visconde de Pindella, bem como dos officios pelo mesmo dirigidos nos dias 15 e 16 d'aquelle mez e dos documentos que os acompanhavam. = Jeronymo Pimentel.

O sr. Presidente: - O requerimento vae ser immediatamente expedido.

O digno par o sr. Jeronymo Pimentel pede que seja aggregado á commissão de administração publica o sr. Vasconcellos Gusmão.

Os dignos pares que approvam este pedido tenham a bondade de se levantar.

Foi approvado.

O sr. Presidente: - Tem a palavra o sr. Tavares Pontes.

O sr. Tavares Pontes: - Sr. presidente, quando hon-