O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

DIARIO DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO 129

Ha doze annos desappareceu d’entre os vivos um dos homens mais notaveis desta terra, um talento possante, um vulto parlamentar distinctissimo, um grande e nobre coração. De certo esse homem algumas vezes errou, ou póde ser injusto. Mas ninguem lhe contesta os elevados dotes de espirito e de caracter.

Era José Estevão. Quando elle morreu, acamara dos deputados, a que eu tinha então a honra de pertencer, resolveu, debaixo da impressão da morte do illustre tribuno, crear uma commissão encarregada de adquirir os meios para se erigir em memoria do notavel orador a estatua que perpetuasse a recordação do seu gesto poderoso;

A commissão colheu donativos em importancia superior a 4:000$000 réis. Essa commissão foi reduzida depois a tres membros, eu, como thesoureiro d’ella, o sr. Mendes Leal, que está ausente, e o sr. Rodrigues Camara.

A commissão, segundo a opinião geralmente manifestada, e em conformidade com o que havia resolvido, requereu á camara municipal para collocar a estatua no largo das Côrtes, e os representantes do municipio, resolvendo pela sua parte affirmativamente sobre o pedido, declararam que não podiam dar em definitivo o seu consentimento, sem que as presidencias das camaras legislativas consentissem, pois que, segundo parece, o terreno adjacente a este palacio é considerado como pertença do edificio.

A presidencia da camara dos deputados já deferiu a este pedido, e é uma resposta da presidencia d’esta camara que eu venho solicitar n’este momento. Parece-me pouco rasoavel que o monumento esteja concluido ha tantes annos, e se continue aguardando a auctorisação para o logar em que se deseja collocar.

N’estas poucas palavras dirijo-me ao espirito desassombrado de v. exa. e ao seu generoso coração, convencido de que fallar neste assumpto é o bastante para que seja resolvido.

É claro que trazendo agora a recordação de José Estevão, não trago recordações partidarias, não recordo o homem de partido, que podia agradar a uns e desagradar a outros. Hoje para elle começou já o periodo da historia, e o juizo é imparcial. Homens de grande merito, de grande probidade e de grande coração ha-os em todos os partidos. Honra-los é dever das nações, independentemente das opiniões que cada um professa. Os aggravos que porventura podemos ter de um ou outro, depois da morte acabaram e devem esquecer-se.

Sobre este ponto não digo mais cousa alguma. Mas já que fallo de estatuas, recordo-me n’esta occasião que na sessão passada, o nosso illustre collega, o nobre marquez de Sá recommendou ao governo, numa proposta sua, que se erigisse uma estatua ao duque da Terceira. Não sei se esta recommendação foi attendida, e se o governo mandou fazer algum projecto. Desejaria ser informado a este respeito; e se nada ha feito, recommendaria muito ao meu particular e illustre amigo o sr. ministro da fazenda, que vejo presente, que não descurasse este objecto.

Não será de certo a despeza com esse monumento que fará mais pobre o nosso thesouro. Não será mal dispendido e malbarateado esse dinheiro que se póde gastar em honrar a memoria dos illustres mortos que concorreram para fundar a liberdade no nosso paiz.

É preciso não fazer economias das nossas liberdades, nem das nossas honradas e nobres tradições. Em paiz sobretudo como o nosso, onde tão mal se paga em vida, tanto em dinheiro, como em consideração publica, aos benemeritos da patria, é bem que, ao menos aquelles que teem valor suficiente para o serem, esperem que a sua memoria seja respeitada.

Recommendo pois novamente ao governo, e insto para que de seguimento á proposta do nobre marquez de Sá da Bandeira, proposta que elle fez com tanto empenho, com tanto sentimento, com tanto coração, proposta do bravo em honra do bravo, do general em honra do general, do camarada era honra do camarada, proposta em honra do duque da Terceira,, que igualmente honra o nobre marquez de Sá, propria de heroes que lutaram juntos nas lutas com que se fundou a liberdade portugueza.

O sr. Ministro da Fazenda (Serpa Pimentel): — Sr. presidente, o governo não se esqueceu da recommendação do nobre marquez de Sá, para se erigir uma estatua ao duque da Terceira.

Como bem diz o digno par, quando se trata das glorias do paiz, sobretudo d’aquellas que commemoram os grandes feitos da nossa independencia e da nossa liberdade, não se deve de certo, por considerações mesquinhas de economia, regatear a somma que se possa gastar com os monumentos que perpetuam a memoria dos homens illustres que têem feito serviços á patria. Tanto o governo está nestas idéas, que não será esse o primeiro monumento que deseja levantar.

O digno par sabe que se erigiu uma memoria que recorda os combates gloriosos do exercito portuguez no Bussaco, e o governo empenha-se que outra se levante junto das linhas de Lisboa, para lembrar outros feitos illustres das nossas armas, na mesma epocha praticados.

Com relação á recommendação do nobre marquez de Sá da Bandeira, para se erigir um monumento á memoria do duque da Terceira, direi ainda que já alguns projectos teem sido apresentados, e que o governo não tem menos empenho que elle se leve a effeito que o digno par que o propoz. Tem tratado já até de escolher local apropriado.

O sr. Presidente: — Vae ler-se o projecto de lei que o digno par acaba de mandar para a mesa. Com relação ao pedido que s. exa. fez, vou mandar saber o que ha a este respeito, podendo desde já asseverar ao digno par que pela minha parte não haverá demora alguma na resolução d’este assumpto, que considero digno de toda a attenção.

Leu-se na mesa o projecto apresentado pelo sr. conde do Casal Ribeiro.

O sr. Presidente: — Este projecto ha de ser enviado á commissão de legislação, e o digno par pede que com elle vão tambem as representações que foram mandadas á camara sobre este assumpto. Creio que os dignos pares não terão duvidas ácerca deste pedido. (Apoiados.)

Portanto, vae á commissão de legislação conjunctamente com as representações.

Leu-se na mesa o outro projecto de lei apresentado tambem pelo sr. conde do Casal Ribeiro, tendente á reforma da camara dos dignos pares.

O sr. Presidente: — O digno par pede, que este projecto seja remettido a uma commissão especial.

Os dignos pares que approvam este pedido tenham a bondade de se levantar.

Foi approvado.

O sr. Presidente: — A eleição desta commissão será dada para ordem do dia da sessão proxima. Falta, porem, resolver sobre o numero de membros de que ha de ser composta. Eu proporei que seja de sete, a exemplo do que já se tem feito com relação a outras commissões. Pergunto, pois, á camara se quer que esta commissão seja composta de sete membros?

Foi approvado.

O sr. Presidente: — Em vista da resolução da camara terá logar a eleição desta commissão na sessão proxima.

O sr. Duque de Palmella: — Mando para a mesa um parecer da commissão de marinha.

Leu-se na mesa e mandou-se imprimir.

O sr. Palmeirim: — Pedi a palavra para mandar para a mesa dois pareceres da commissão de guerra. Leram-se na mesa e mandaram-se imprimir.

O sr. Presidente:- — Vae entrar-se na