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196 DIARIO DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO

Obteve os dados necessarios para tomar medidas e a beneficio da nossa agricultura e do paiz?

Quer o sr. ministro da fazenda proceder á revisão das matrizes?

Quaes os resultados destes inqueritos? Era que estado se encontra a agricultura no paiz?

Podem e devem reformar-se as pautas? Em que pontos, em que extensão?

O que lhe ensinaram os inqueritos? Trevas! Trevas!

Appareça a luz, que o povo carece de ser illuminado.

Creio que é melhor cuidar do paiz, como disso o sr. marquez de Ficalho, do que estar a mostrar eloquencia, embora todos a admirem, ou paixão, que seguramente podo illudir a muitos, que póde ser filha de sentimentos muito patrioticos, mas que não póde inspirar, como a reflexão faria, o que melhor convem ao paiz.

Assim se daria uma demonstração das nossas crenças e dos nossos principies, e da firmeza nos intuitos de cumprir o que deve ser o nosso programma, que não deva ter por fim senão a realisação de medidas que tendam a dotar a nação com aquelles bens de que ella carece.

E a proposito de programma, direi que vi trazer para a discussão o programma do partido progressista, e sem querer levantar de novo o debate a seu respeito, sem querer ferir qualquer collega, nem commetter erro, seja-me permittido perguntar a que veiu aqui esse programar? Não sei quem primeiro o trouxe a terreno; mas ouvi declarar ao sr. ministro da fazenda, que o governo havia de cumprir o que n’esse programma se promettia, que elle havia de ser cumprido em todas as suas partes. E isto declarou s. exa. com voz clara, em linguagem eloquente, como homem que sabe fallar e que não sabe faltar.

Portanto ficâmos inteirados e certos porque o sr. ministro nol-o affirmou e prometteu que o governo ha de realisar a reforma da camara dos pares, pois que, cumprindo o programma na sua totalidade, ha de cumprir esta parte d’elle.

É ella como muitas outras que se podem chamar reformas revolucionarias? A promessa deve seguir-se a execução. Mas poderão realisal-a? Aterraria a alguem essa promessa do sr. ministro da fazenda, essa affirmativa que todos ouviram?

A mira do certo não aterrou. Deverei eu ver em s. exa. um novo general de Angoreau entrando na camara dos representantes da Franca e dispersando-os das [...] no decimo oitavo fructidor; ou porventura veremos no sr. ministro um segundo general Bonaparte entrando no conselho dos legisladores, e [...], de accordo com seu irmão Luciano Bonaparte, que mais uma vez mostrou n’essa occasião aquella lealdade de parentesco que é tão proprio dos homens de coração e de que ainda ha pouco deu provas n’esse caso outro homem que, se se não chamava Luciano Bonaparte e nem irmão do um imperador, chamava-se o sr. Barros e Sá, e era sogro do sr. Barros Gomes, actual ministro da fazenda.

Não se pense, pois, que eu, referindo me a este digno par, pretenda fazer de s. exa. um Luciano i3cDaparto. (Riso.}

Foi uma comparação que veiu a proposito, porque o sr. Barros e Sá declarou aqui que os vinculo de sangue o haviam chamado ao debate, que a voz d’esse dever o trouxera á arena. Foi exactamente o que disse Luciano Bonaparte quando presidia ao conselho dos legisladores, e n’elle se pedia o julgamento da Bonaparte no dezenove Brumario, elle se recusára a cooperar no empenho.

Prosigamos. Mais tarde este general ordenava que se entrasse n’aquelle conselho, dissolvia-o e mandava embora os seus membros.

Deverei eu ainda ver no sr. ministro da fazenda o celebre Cromwell, que não só limitou a entrar na ara do parlamento inglez e a mandar embora os seus membros, mas poz n’ella escriptos, e collocando um papel á porta do edificio, no qual dizia:

— Esta casa aluga-se?

Já se vê que os escriptos são antigos. (Riso.)

Os escriptos são antigos; não são uma novidade do presente; são da historia do passado.

Cromwell poz escriptos e não se contentou com isso; entrou no parlamente, fechou-o á chave e metteu a chave na algibeira.

Mas estaremos nós nas mesmas circumstancias? Não, de certo.

Então para que é aterrar-nos com estas affirmativas do sr. ministro da fazenda? As palavras de s. exa. são muito eloquentes; talvez possam servir de muito para animar os correligionarios, que no meio do debate estejam prestes a esmorecer. É como o general, que vendo, no calor do combate, desanimar alguns recrutas, lhes dirige, com receio que elles desertem, umas vezes palavras de conforto, outras de ameaça.

Mas parece-me, sr. presidente, que as palavras do sr. ministro da fazenda são mais de conforto do que de ameaça.

Sr. presidente, diz-se que o programma do partido progressista ha de ser cumprido. Muito bera. É verdade que esse programma tem aterrado muita gente; mas, repito, que a mim não me aterra.

A proposito do programma da Granja, lembro-me de uma historia que li n’um livro velho latino, a qual peço licença para referir, sem intenção de offender pessoa alguma. E conto-a a proposito do programma da Granja, com o qual o sr. ministro da fazenda nos ameaça.

Vamos, pois, á historia que prometti.

Lembro-me de ter lido no tal livro, que um certo camponez procurára um mathematico, e entrando no seu gabinete de estudo, vira uma esphera celeste. Pegou n’ella, voltou-a, e viu de um lado, um escorpião; do outro, um centauro; de outro, um leão; e por fim, um caranguejo.

Fez-lhe tal impressão toda esta bicharia, que perguntou, ao mathematico o que significam aquelles monstros desde o leão que ameaçava até e caranguejo que retrocedia; ao que o mathematico respondeu dizendo-lhe que tudo que via representava os celestes signos com que se governavam os tempos.

Espantado, porém, o rustico de que houvesse tantas menstruosidades no céu, para que elle observasse melhor o que n’aquella grande bela viu pintado, preparou-lhe o mathematico um formoso astrolabio, e accommodando-lh’o em fórma lh’o entregou ao seu arbitrio.

Principiou então o rustico nas suas diligencias para ver se descobria no céu alguma n’aquellas feras, e, como não divisasse mais do que estreitas, por maior esforço que empregava e por maior actividade que punha no empenho, desenganou-se que o haviam illudido; e então disse ao mathematico as seguintes palavras, que repito em latim, porque em latim está escripta a historia que li e estou contando: «Cur mihi illudis o homo? Ista quex in coelo suspicio non sunt ferce, sunt stalloe.» Porque me enganas, homem? Estes astros que me mostras não são feras, são estrellas.

Applico o exemplo. Se no programa da Granja ha monstruosidade que a muitos espantam, não são de certo foras que amedrontem; é verdade que tambem não são estrellas que esclarecem, são apenas fogos fatuos que enganam e illudem. Ha só isso. Não ha mais.

O que ha n’aquelle programma, repito e não me fatigarei de o repetir, é muito fogo fatuo, muita promessa que não se realisará. E se alguma vez, por acaso esse fogo fatuo, que illudo, se converter em fogueira que abraze, será seguramente para deslumbrar os olhos dos mais cegos.

Tambem farei a comparação do programma da Granja com aquelle celebre navio tão celebrado por Maximo de Tyrio, que um principe aventuroso fez no mar de Colchos, e que em logar de mandar construir um baixel veoleiro,

Ap^iico o exemplo. Sc no progranima da Granja ha iuon&traosidades qr.e a muitos eiipautain, na,o srio de certo feras que amedrontem; é verdade que tr.mbom nilo são ostrclvs que esclarecem, s?ic apenas fogo a fátuos que en-gpiifiin o iiludcni. Ha só isco. 1ão ha mnls.

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