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SESSÃO DE 4 DE JUNHO DE 1887 359

quer moção analoga á do digno par, creia s. exa. que a analysaria do mesmo modo.

Segue-se á moção, do, rev.do arcebispo resignatario de Braga, à do sr. Bocage e a respeito della, eu digo francamente que, se não fosse o meu radicalismo politico aprovaria a moção do digno par.

Parece-me innocente.

Mas como eu disse que aprovava o projecto da resposta o discurso da corôa tal como está redigido, rejeito-a por coherencia.

O sr. Arcebispo de Braga (resignatario): -- V . exa. diz que approva desde a primeira até á ultima letra esse documento?

Mas repare na sua composição grammatical.
N'elle se diz a, camara folgara, o que faz prever uma apreciação futura.

O Orador: - Será essa a interpretação que v. exa. dá a essa phrase; julgo comtudo não ser a que estava no, intuito da commissão.

O sr. Arcebispo de Braga (resignatario):- Demais a moção do sr. Bocage é o complemento da minha.

O Orador: - Se s. exa. pretende com isso indicar que a moção do sr. Bocage pede a discussão da concordata, pelo friamente, eu contesto tal interpretação.

A moção do sr. Bocage diz que a camara folgará de reconhecer que este documento diplomatico mantem o padroado portugues, em harmonia com as tradições gloriosas da nossa historia, e a moção do sr. arcebispo pede que á concordata seja apresentada ás côrtes para ser discutida.

O digno par o sr. Bocage foi correctissimo e claro na sua exposição.

Declarou que não fazia questão politica n'este assumpto, e, por isso, apesar de dizer que sentia que a ratificação da concordata não fosse sujeita ao parlamento, não incluiu esta censura na sua moção, isto ao contrario do que fez o digno par o sr. Arcebispo Resignatario de Braga.

O sr. Arcebispo de Braga (resignatario): - Não posso affirmar nem approvar o que não vi.

O Orador:- De accordo, mas o que s. exa. tambem não póde é dar á moção do sr. Bocage uma interpretação que ella não tem.

Temos ainda à moção do digno par o sr. Fernando Palha. Esta moção tem duas partes. S. exa. exprime por um lado o desejo de acabar totalmente com o nosso padroado, e satisfaz-se, veiado que já alienámos uma parte d'elle.

Já hontem fiz ver de um modo claro que rejeito esta moção.

Porquanto affirmei que o padroado era o resultado de um certo numero de condições entre as quaes se encontrava a acção do governo1.

Eu podia escusar-me de entrar na apreciação dá segunda parte da moção do digno par em que s. exa. apresenta a idéa da conveniencia e necessidade da separação da igreja do estado.

O sr. Fernando Palha: - Esse pensamento não está na moção.

O Orador: - Peço desculpa, suppunha que estava. No entretanto s. exa. apresentou e defendeu essa idéa. Julgo inopportuno discutil-a. Limito-me a comprimentar com muito respeito o digno par pelas suas idéas liberaes, e a affirmar-lhe que, ouvindo-o discorrer, com tanta distincção é enthusiasmo, nessa orientação liberal, parecendo que empunhava o trophéu do radicalismo, senti-me penetrado de uma emoção suave e agradabilissima. Digne-se acceitar os meus comprimentos.

Sr. presidente. Devia ficar por aqui, mas á discussão de hontem obriga-me a dizer mais algumas palavras.

Eu sinto muito que n'esta questão da concordata se introduzissem questões incidentes delicadas.

Não me parece que venha muito a proposito nem mesmo julgo conveniente tratar-se por esta occasião de questões irritantes, graves e melindrosas. Uma d'ellas é a admissão das ordens religiosas nos nossas colonias.

Os dignos pares os srs. Miguel Osorio, Ornellas e marquez de Rio Maior defenderam essa idéa.

Este facto liga-se com a circumstancia de apparecer na camara dos senhores deputados uma proposta para o estabelecimento das ordens religiosas nas nossas colonias.

Pôr isso, esperar da repugnancia que sinto em entrar n'um debate tão melindroso, julgo do meu dever, como representante da nação não deixar sem protesto e sem analyse as affirmações categoricas, dos dignos pares. N'isto vou com o que me diz a consciencia, è creio que interpreto sinceramente o sentimento da parte mais illustrada do paiz.

Devem ou não devem admittir-se as ordens religiosas nas nossas colonias?

Sr. presidente eu começo por declarar que as ordens religiosas não se comprehendem nas sociedades modernas.

O homem foi creado para a natureza e mal se comprehende que o amputem, privando-o da sua qualidade mais nobre-a de propagar se no tempo pela fecundação, e destinando o á clausura, á vida mystica e contemplativa elle o conquistador da natureza, elle a parte mais maravilhosa do grande todo que, se chama o mundo!

Sr. presidente, à vida do claustro repugna á minha rasão, clausurar o homem é deshumanisal-o debaixo de todos os pontos de vista. E depois póde crer-se que a vida do frade seja melhor acceita aos olhos de Deus, quaesquer que sejam os attributos da divindade, do que a vida do homem, que vive com a natureza, que constitue familia, que educa seus filhos, o que exerce no meio social todas as virtudes de um cidadão prestante?

Eu não o penso, sr. presidente, e creio firmemente que estou na verdade.

Eu não comprehendo que se pegue em cem homens e se mettam n'uma casa e que se faça o mesmo a cem mulheres, destinando uns e outros para a vida celibataria e contemplativa.

Este não e o estado social. Sabe v. exa., sr. presidente, o que me appetecia em tal caso?

Era casar os cem homens com as cem mulheres. (Riso.)

Desculpe a camara. Eu trato estas questões muito a serio.

As cem familias constituidas poderiam dar, ao menos, uma media de trinta filhos por anno, e n'um periodo curto estaria fecundada com sangue a colonia em que um espirito rotineiro levantasse os dois conventos.

O homem é a primeira machina de producção. Não ha hoje homem publico, verdadeiramente digno d'esse nome, que não veja na elevação da natalidade, no augmento do numero de familias regularmente constituidas, as primeiras bases para a felicidade e valor de um povo. A que vem, pois, a amputação do homem, pela clausura, a deshumanisação da especie, como medida salvadora, como remedio efficaz para o progredimento da patria? Tristissima idéa!

O sr. Arcebispo de Braga (resignatario): - Mas então v. exa. é tambem contra o clero, contra o celibato. §r. presidente, peço ordem.

O Orador:- Eu creio que estou na ordem, sr. presidente no entretanto submetto-me incondicionalmente ás indicações de v. exa. Fallou-se, e largamente em favor do restabelecimento das ordens religiosas, não me será licito a mim fallar em sentido, contrario? V. exa. é dirá.

Sr. presidente, eu insisto em que mal comprehendo que hoje se venha ao parlamento defender a clausura como meio civilisador de um povo. E affirmo que o homem trabalhando, prestando serviços á sociedade, póde tornar-se dignissimo perante Deus. Portanto reprovo é principio da introducção das ordens religiosas.

O sr. Arcebispo de Braga (resignatario):- Tem-n'as à Hespanha e muitas outras nações.

O Orador:- A Hespanha, coitada! A nossa irmã! E o que seria a Hespanha se não fossem os frades?