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SESSÃO DE 20 DE JUNHO DE 1890 321

O orador explica então que o Massingire está aquem do Ruo, que por seu turno esta aquem do Chire e que respondera ao governador de Moçambique que approvava a soffucação da revolta em Massingire, mas que não podia consentir em que as nossas forcas invadissem o territorio em litigio, a fim de não prejudicar as negociações pendentes e em bom caminho, porque de contrario seria enorme a responsabilidade da auctoridade que o fizesse.

Conceitua de expressas, terminantes e até de rudes as ordens que n'esse sentido déra, pelo julgar necessario.

Não sabe se os inglezes podem fazer tudo quanto quizerem, mas é certo que ella não pude castigar os inglezes, nem comprehende como seja possivel estar em guerra com a Inglaterra em Africa, quando estamos em paz com ella na Europa.

Quanto lhe era dado, crê ter nesta parte respondido ás perguntas do sr. Thomás Ribeiro. No emtanto observará que convem não inverter os principios constitucionaes, o responsavel perante o parlamento e o paiz é o governo; portanto, exige que lhe deixem escolher as suas auctoridades de confiança, para que se não diga que essas auctoridades governam mais que o governo.

Tem por necessario que o paiz se convença, antes de tudo, que numa situação melindrosa, como a actual, é ao governo, e só ao governo, que compete tomar a iniciativa de certas medidas o que elle não está disposto a consentir no predominio d'essas auctoridades, por mais convenientes que ellas julguem quaesquer movimentos de patriotismo. Reputa indispensavel dizer a esse patriotismo que o governo trata de empregar todas as diligencias possiveis a fim de conseguir o melhor exito nas negociações pendentes e de concluir decorosamente uma questão que elle não creou, que lhe foi legada e que essa boa solução não depende sómente da politica representada no governo, como tambem da que professam os individuos que formam os diversos grupos opposicionistas.

Sob o ponto de vista da administração interna da pasta da marinha, o orador tem tanto empenho na feliz solução do litigio com a Inglaterra, quanto o seu collega dos negocios estrangeiros, porque nem póde administrar á sua vontade, nem realisar o seu plano de expansão colonial, se não depois de completamente liquidado esse litigio.

Quanto a approvar ou não o governo o levantamento de uma milicia em Quelimane, segundo tambem lhe perguntará o sr. Thomás Ribeiro, cumpre-lhe responder que o governo só extra officialmente tivera similhante noticia. Comtudo, não terá duvida, em approvar a organisação d'essa milicia, desde que reconheça que eram insufficientes as forças de Moçambique, mas que a desapprova se ellas porventura tiverem por fim combater os inglezes e provovocar um conflicto no Ruo.

Quanto aos acontecimentos da Africa occidental, isto é, do Bihé, a que tambem o sr. Thomás Ribeiro se referira, declara que tem todos os documentos, não só ácerca dos factos ali occorridos, mas tambem sobre as causas que os motivaram. Mas teria a imprudencia, se porventura d'elles desse conhecimento á camara no momento actual, em que tem organisada uma expedição para o Bihé, e toma d'isso plena responsabilidade, se bem lhe fora facil ler esses documentos, mas o sr. Thomás Ribeiro deve saber que, gerir uma pasta não se cifra simplesmente em dar noticias ao parlamento e ler documentos.

Como quer que seja, a expedição vae para o Bihé; aguardemos o seu exito.

Consoante vê, cada qual tem o seu modo de entender o patriotismo: os poetas fazendo versos alexandrinos, e outros individuos ou vestindo-se de lucto ou cingindo as estatuas de negro crepe; mas para o governo o verdadeiro patriotismo está em fazer o que dizia um homem de acção, um homem cuja memoria todos respeitam, o marquez de Pombal: "Enterrar os mortos e cuidar dos vivos!"

Agora tambem não ha senão cuidar dos vivos e pedir a Deus que a nossa expedição tenha um feliz exito, que seja coroada de gloria e que as armas portuguezas tenham novos triumphos na occupação militar do Bihé, occupação que nunca existiu, porque o nosso dominio no interior da Africa é perfeitamente phantastico.

Talvez, pois, tenhamos ainda occasião de ver que Portugal fez o bastante para nos resarcir de todos os prejuizos originados pelos sobas.

Dissera tambem o sr. Thomás Ribeiro que era necessario tomar posse effectiva do nosso territorio em Africa, e perguntara se o governo ia adjudicar o caminho de ferro de Mossamedes.

De accordo está com s. exa. era tomarmos essa posse effectiva, e, a seu ver, deve-se dizer a verdade ao paiz, visto que até hoje não foi ella tomada em tudo o que nos pertence, conforme o reconhecera o digno par e lho ditou a sua consciencia.

Julga que o prestigio do nome portuguez é de feito uma grande força, quando nações poderosas não disputam em Africa o nosso dominio.

O caminho de ferro do Bihé, incontestavelmente, é um meio de tomarmos posse effectiva do que temos n'aquellas paragens.

Os dez mil portuguezes, que a emigração levou ás ilhas de Sandwich e outros pontos, pedem que os vão buscar e os lancem em Africa, e no dia em que se levar a effeito o caminho de ferro do Bihé estará lançada a base de uma nova nacionalidade portugueza.

Sob o ponto de vista financeiro não póde haver duvida em se vir a realisar este importantissimo melhoramento.

No dia em que elle, ministro, queira hypothecar o futuro de Africa, n'esse dia ficará resolvida a questão colonial.

N'um dos proximos anteriores dias recebera uma proposta de uma companhia franceza, que se compromettia a fazer todas as despezas com a expedição Marianno de Carvalho, sob condição unica de preferencia, em igualdade de circumstancias, para a formação de uma companhia, a fim de explorar as minas de carvão de pedra em Africa.

Antigamente procurava-se nas regiões desconhecidas o oiro; hoje, porem, transformada a Europa numa vastissima officina, aquillo que se procura não é o oiro, mas o carvão de pedra.

Se, pois, de Moçambique lhe trouxerem o carvão de pedra, transformará completamente aquella provincia, fazendo caminhos de ferro e tudo quanto for preciso, sem trazer encargos ao orçamento. Com esse recurso não haverá a menor duvida, nem a mais leve contestação sobre a reforma colonial.

Sente que se pretenda enfraquecer a acção do governo e mormente a do ministro da marinha e ultramar, que tem um plano de administração colonial a resolver.

Para a realisação d'esse plano carece apenas de dois annos, no primeiro dos quaes espera fazer o caminho de ferro de Mossamedes, estabelecer a navegação, organisar a força militar e proceder á reforma administrativa e financeira.

No segundo, espera completar esta transformação, por meio de concessões a companhias, fazendo para ali convergir os capitães nacionaes e só em ultimo caso os estrangeiros.

Sabe perfeitamente qual o futuro que o espera: no primeiro anno irá tudo muito bem; mas no segundo, quando fizer essas concessões, dirão que recorreu a syndicatos, com o que nada se importará, estimando muito que com isto fique muita gente rica, com tanto que elle fique pobre.

Eis as idéas que tem sobre este assumpto e qual o seu plano de administração colonial, elaborado com um estudo de largos annos, pois é certo que ha nove annos tivera a honra de ser pela vez primeira ministro da marinha e ultramar.

Pelo que lhe pertence, crê ter respondido ao sr. Thomás