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SESSÃO DE 20 DE JUNHO DE 1890 323

carecia de explicação, mas corroborado, no seu verdadeiro sentido, a phrase do sr. ministro da marinha.

Posto isto, permitta-lhe o digno par que agradeça a s. exa. o testemunho de respeito que prestou á reserva que sempre convem guardar em negociações pendentes ácerca de um negocio melindroso. Nem s. exa., que foi chefe de gabinete e que é um homem d'estado, podia ter outro procedimento em presença de negociações que affectam os mais altos e graves interesses do paiz.

Relativamente ao que alludíra o digno par, com referencia a elle, orador, haver dito na outra casa do parlamento que dois sipaes portuguezes tinham sido amarrados e fusilados, queimada a nossa bandeira, e attribuindo-se tudo isto á responsabilidade de um agente consular inglez, e que sobre este assumpto ficára elle, como ministro de Portugal, de pedir explicações ao governo inglez, tem a declarar que cumprira o seu dever, desempenhando se do que promettêra, assim como o cumpre hoje, dizendo qual a resposta do governo britannico.

No dia 17 deste mez, depois de já se ter dirigido ao ministro inglez n'esta côrte, communicou-lhe s. exa. a resposta que do seu governo tinha recebido na vespera. Cifra-se essa resposta em que ultimos> despachos que o governo britannico tinha recebido do sr. Buchanan eram de 16 de abril, e n'elles se dizia que forças portuguezas se achavam concentradas na confluencia do Ruo com o Chire e que se receiava que occupassem o territorio era litigio; mas que nada constava officialmente ao governo inglez sobre o fuzilamento dos sipaes e Lio pouco sobre a queima da bandeira portugueza.

Discordando n'esta parte a resposta do governo inglez das informações que o governo portuguez recebera, comprehende-se qual era o seu dever: dirigir uma nota áquelle governo, reclamando contra os factos de que estava informado.

Espera que o gabinete britannico a tomará em consideração e que elle reprimirá qualquer violação do direito das gentes por parte das suas auctoridades.

Por agora não póde dar mais informações.

(Publicar-se ha na integra, e em appendice a esta sessão este discurso, quando o orador haja revisto as notas tachygraphicas.)

O sr. Conde da Arriaga: - Pede que a camara lhe permitia dizer algumas palavras, tratando-se, como se trata, de factos occorridos na costa oriental da Africa, na provincia de Moçambique, por cuja prosperidade e integridade muito se interessa.

Desejara o digno par, o sr. Thomás Ribeiro, saber como o governo encara o facto do equipamento de canhoneiras inglezas, destinadas á navegação no Zambeze.

A proposito desta pergunta vae citar um facto que se deu quando se organisou a expedição contra o Bonga.

Organisado o batalhão de caçadores da Zambezia e uma bateria de artilheria, fretou-se para conduzir a expedição um navio estrangeiro.

Ninguem melhor sabe isto do que o sr. Latino Coelho, mas é bem notorio que o bom exito da expedição foi contrariado pelas difficuldades da navegação no Zambeze, onde, por cuja ranavegabilidade quasi tudo morreu e se mallogrou a expedição.

Uma outra se organisou mais tarde, que teve os mesmos e tristes resultados.

Os que teem percorrido aquellas regiões sabem perfeitamente que o Zambeze só é navegavel em pequenos barcos, a remos, á vara ou á vela, e occasiões ha em que a 20 milhas só se encontra uma linha de agua como a do Mondego, ontre Coimbra e a Figueira.

Sendo isto assim, para que se falla tanto na navegação do Zambeze?

A Inglaterra sabe isto tão bem como nós.

Para demonstrar ainda a innavegabilidade do Zambeze conta o seguinte facto:

Na ultima expedição de Levingstone, mandara a Inglaterra dentro de um brigue um pequeno vapor, mettido em tres caixões, o qual tinha o nome de Roberto, por assim se chamar tambem o filho mais velho d'aquelle explorador.

Sendo pequeno o vapor, não obstante, ao chegar ao Mazaro, não pôde tornar para o Chire, pois, como já dissera, a navegação ali é impossivel, excepto pelos meios já indicados.

Soffrendo estes revezes, Levingstone dirigira-se então por terra para o norte e fôra encontrar o Nyassa.

O sr. Bocage: - Não foram os inglezes que descobriram o Nyassa.

O Orador: - A isto objecta que o certo é que a Inglaterra se julga com direito áquelle lago e com assentimento de Portugal.

Mas põe de parte esta questão, attento que o seu desejo é unicamente fazer ver ao sr. Thomás Ribeiro que não se torna facil navegar no Zambeze com as embarcações a que s. exa. se referiu, se bem no inverno se torne sobremodo caudaloso.

Conta que tambem em 1868 estivera entre nós um hollandez, que depois se dirigiu á Africa para estudar a navegação do Zambeze, e que ao sair de nós ia muito satisfeito, mas que mais tarde deixou de o estar, por lhe não corresponder ao que esperava o resultado dos seus estudos.

Referindo-se ao discurso do sr. ministro da marinha, diz que muito folgára com elle e por ver que e possivel que a expedição dirigida pelo sr. Marianno de Carvalho tenha bom exito.

Já noutra occasião manifestara essa esperança- Oxalá se realisem os seus prognósticos e que possa exalçar os merecimentos do sr. Marianno de Carvalho no seu regresso a Portugal.

Passa a tratar de outro assumpto e pede aos srs. tachygraphos que não escrevam o que disser, os quaes em cumprimento dos desejos do digno par, suspenderam o seu trabalho por algum tempo.

Depois cita exemplos e expende argumentos no intuito de demonstrar quedos questões com a Inglaterra se devem resolver amigavelmente, ainda que uma ou outra nação tenha de ceder alguma cousa, por serem duas irmãs de longo tempo alliadas.

Pergunta agora ao sr. Thomás Ribeiro, um dos poetas mais distinctos, se a proposito do conflicto com a Inglaterra, indo uns escolares pôr uns trapos pretos no pedestal da estatua de Camões, mereciam ou não esses escolares palmatoadas?

Estranha igualmente que os estudantes que foram era tempo a Hespanha, nas suas manifestações caprichosas, fizessem como que uma só das bandeiras portugueza e hespanhola.

Diz que lêra e relêra muitas vezes os Lusiadas, cita o episodio da batalha de Aljubarrota e dos doze de Inglaterra, faz sobre isto varias considerações e concilie por enaltecer o verdadeiro patriotismo do grande poeta.

(O discurso do digno par será publicado na integra, e em appendice a esta sessão, quando s. exa. haja revisto as notas tachygraphicas.)

O sr. Conde de Lagoaça: - Peço a v. exa. que consulte a camara para que, sendo necessario, se prorogue a sessão até terminar este incidente.

O sr. Presidente: - A camara acaba de ouvir o requerimento do digno par o sr. conde de Lagoaça.

Os dignos pares que approvam que se prorogue a sés são até terminar este incidente, tenham a bondade de se levantar.

Foi approvado.

O sr. Presidente: - Tem a palavra o digno paro sr. Costa Lobo.

O sr. Costa Lobo: - Disse que invejava a situação