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282 DIARIO DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO

d’isso não havia senão o seu criterio — criterio do governo.»

Tudo isto dissera o sr. ministro justamente quando da commissão de guerra da camara dos dignos pares estava pendente a mesma questão, fazendo parte de propostas do orador e do digno par sr. conde de Thomar.

E o que fez depois o nobre ministro? Passados tres dias, s. exa., faltando á consideração e respeito devidos ao parlamento, e especialmente á camara dos dignos pares, depois de ter dito que não, que punha a pasta sobre essa questão, que não transigia com o orador, rejeitando até os serviços politicos que elle podesse prestar ao governo, s. exa. fez exactamente o contrario do que dissera!

Não achava isto correcto. E era esse termo o mais brando que podia empregar.

Este facto era tão extraordinario, que o orador não podia acreditar que não tivesse tambem havido para o explicar uma rasão extraordinaria, que aliás não conseguia perceber. Havia por força qualquer cousa que a sua rasão não descobria, e por isso pedia encarecidamente a s. exa. que lhe explicasse o que o levara a dizer sim quando na vespera tinta dito não.

Desse s. exa. uma rasão seria, terminante, clara e categorica que levasse o convencimento ao animo de todos, e não viesse com sophismas, com as evasivas usadas varias vezes pelos que se. sentam n’aquellas cadeiras.

O governo pagou uma divida de honra, depois de muito instado, depois de levado a isso pela opinião publica, que tão alto se levantou no paiz e em toda a parte, mas era preciso salvar o prestigio, o decoro do poder, e não lhe parecia ser a maneira mais propria de manter esse prestigio dizerem os srs. ministros não para de ahi a pouco, por um simples decreto, dizerem sim.

Não entendia que fosse só por amor á sua pasta, a essa pasta que não lhe dava honra e da qual não precisava já, que s. exa. se collocara n’uma situação tão desgraçada como nenhuma outra em que se tivesse, encontrado qualquer ministro, desde que ha parlamento em Portugal.

Devia haver uma rasão, fosse ella qual fosse; o orador far-lhe-ia depois o commentario que ella merecesse, nia não viesse s. exa. com o que se dizia nas gazetas, que não havia conhecimento official do feito de Mousinho!

Não havia conhecimento, e já se tinham recebido telegrammas do governador geral, e já estava publicado officialmente, e em toda a parte era conhecido, o auto de entrega e reconhecimento do regulo Gungunhana em Lourenço Marques? E esse feito heroico tinha echoado por todo o mundo, e tinham-se recebido felicitações dos gabinetes estrangeiros, que o governo agradecêra, e a manifestação de publico regosijo era Lisboa e no paiz revestiu um aspecto extraordinario.

O chefe do estado mandava telegrammas de parabens a esse heroico soldado, e no theatro de S. Carlos vinha á bôca do seu camarote dar vivas ao exercito e á armada! Não viesse o sr. ministro da guerra dizer que estava á espera de um documento official, porque o que já se sabia era bastante! Não viesse dizer que esperava por um relatorio feito e assignado pelo proprio official que praticou o feito, embora o orador considere esse grande portuguez incapaz de faltar á verdade.

A confissão do proprio auctor do feito não podia alterar em nada o modo de ver do paiz. e do governo.

Não viesse o sr. ministro da guerra com uma rasão d’essa ordem, porque a camara dos dignos pares merecia outra mais seria e levantada; não o dizia por si, que é quem menos vale, mas pelos funccionarios do estado, pelos homens distinctissimos e respeitaveis, pelos velhos honrados e cheios de serviços ao seu paiz que ali se sentam. Embora esses homens votassem com o governo em medidas politicas,- numa questão d’aquellas que interessava a dignidade da camara, não devia o governo acorrental-os a |

uma ignominia, como era a de os fazer sanccionar os caprichos de um governo ou de um ministro.

(S. exa. não reviu as notas tachygraphicas por isso o seu discurso não é publicado na integra.}

O sr. Ministro da Guerra (Pimentel Pinto): — Começa por agradecer as palavras com que o digno par se referira ao seu caracter, e em seguida ia responder ás considerações expostas por s. exa., embora tivesse a convicção de que, com a sua resposta, que era aliás verdadeira, não satisfaria o digno par, já de antemão prevenido contra ella. O digno par acoimara de desgraçada a situação do orador como ministro, por ter, em uma das passadas sessões, declarado que não eram concedidos postos de accesso aos officiaes expedicionarios, visto como não era essa a opinião do governo, e ainda que atrás d’isto o que estava era simplesmente o criterio do governo.

D’estas declarações e do ulterior procedimento do governo concluirá o digno par uma contradicção manifesta. O orador diz e repete que não ha contradicção alguma. E para o demonstrar ao digno par, que não só tomou parte na discussão travada n’aquella camara sobre as recompensas pecuniarias, mas assistiu ao debate da camara dos senhores deputados, lembrava-lhe a these que ali apresentara, os principios que ali estabelecêra.

Depois que o orador fallou, um illustre deputado, que usou por ultimo da palavra, demonstrou que as condições, que o orador dissera serem necessarias para justificar um posto de accesso, se davam precisamente á respeito do capitão Mousinho; que se era conveniente haver parcimonia na concessão de postos por distincção, elle tambem só pedia que o sr. ministro fosse parcimonioso; que, concordando em que não se tratava nem se podia ter em vista estimular o brio dos officiaes do exercito, por ser isso completamente desnecessario, acreditava, porem, que o acto de Mousinho preenchia cabalmente a condição exigida da pratica realisação de um feito heroico de valor extraordinario. D’esta maneira perguntava o illustre deputado por que se não dava ao capitão Mousinho um posto por distincção, quando era certo que no feito por elle praticado concorriam todas as condições exigidas para recompensas d’aquella ordem.

Respondeu ao illustre deputado o sr. presidente do conselho, e a resposta foi simples. Foi que se não podiam dar postos de accesso nem tomar quaesquer deliberaçães officiaes em virtude apenas de algumas noticias publicadas nos jornaes.

Os telegrammas não era sufficiente. Dizia-se que tinha sido aprisionado o regulo Gungunhana, mas ignorava-se exactamente o modo por que tinha sido aprisionado, isto é; o que dava valor ao feito praticado por aquelle bravo official.

Estava presente o sr. ministro do reino que podia testemunhar á camara, se fosse preciso, que muito antes de se tratar da questão das recompensas, já o orador dizia que achava tão extraordinario o feito praticado por Mousinho de Albuquerque, que não comprehendia bem qual o modo por que elle se tivesse realisado, e que havia uma grande differença entre o feito praticado com todo o arrojo e valentia, consoante se dizia, e o ter sido aprisionado o Gungunhana por uma traição ou compra, embora o orador tivesse quasi a certeza de que não BC dera esta ultima hypothese.

A verdade era que nem na secretaria do ministerio da guerra nem na do ministerio da marinha existia documento algum official que podesse servir de base a qualquer resolução a tomar a este respeito por parte do governo.

As cartas que vieram nos jornaes não eram elemento Bastante para que se podesse tomar uma resolução official da importancia d’aquella que effectivamente se tomou depois.

O orador sente que esta resposta não satisfaça o digno