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144 DIARIO DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO

O sr. Ministro da Fazenda: — Peço a palavra.

O sr. Presidente: — Tem v. exa. a palavra.

O sr. Ministro da Fazenda: — Os documentos que pede o digno par, estou bem informado que foram tambem pedidos na outra casa do parlamento com mais antecedencia, e que já estão n’aquella casa. Creio que o digno par deve saber deste facto?

O sr. Miguel Osorio: — Eu sei que já foram para a outra casa alguns documentos, mas como os considero muito insuficientes, é por isso que peço as informações com referencia a todos os concorrentes, não só ao que foi despachado, mas a todos.

Parece-me que isto está no meu requerimento, mas se não está, declaro que as informações que peço são com relação a todos os concorrentes.

O Orador: — Portanto, não está s. exa. bem informado, porque os documentos tinham sido pedidos na outra casa do parlamento anteriormente ao pedido feito nesta, e já tinham sido para ali remettidos.

Se os documentos não satisfazem o digno par, se quer mais algum, se isso consta do seu requerimento, de certo o meu collega não terá duvida em satisfazer aos desejos de s. exa.

Se elle não mandou para a outra camara todos os documentos que possam existir na secretaria a respeito do tal negocio, é porque não lhe pediram senão uma parte d’elles. O governo não põe nunca duvida em fornecer ao parlamento os documentos que elle exige, quando esses documentos não tenham um caracter confidencial, e aquelles a que o digno par se referiu não são d’essa natureza. Por consequencia, se houvesse da parte do meu collega idéa de negar ao parlamento esses documentos, não os tinha mandado para a outra camara.

Portanto, é natural que a demora na remessa delles seja originada pelo tempo que levam a copiar.

Se o digno par os tivesse pedido quando se tiraram copias delles para irem para a outra camara, com um pequeno trabalho mais se teriam satisfeito os desejos de s. exa. Se o meu collega quizesse recusar-se a dar explicações sobre a questão, não teria vindo aqui responder á interpellação que lhe foi feita sobre o mesmo objecto, mas s. exa. promptamente se prestou a isso.

O sr. Conde de Cavalleiros: — Sr. presidente, v. exa. permittirá que eu faça uma rectificação ao que acabou de dizer o digno par que ha pouco fallou.

Sr. presidente, eu prezo-me de ser muito leal, e creio que se todos os ministros estivessem n’aquellas cadeiras (apontando para as cadeiras ministeriaes) nenhum d’elles deixaria de dar testemunho da minha lealdade.

O sr. Ministro da Fazenda: — Apoiado.

O Orador: — Eu não convidei o ministerio a largar aquelles legares.

O digno par disse que me acompanhava nos desejos que eu tinha manifestado, que se não sentassem ali aquelles homens...

O sr. Miguel Osorio: — O digno par disse que não sabia já quem havia de desejar ver sentado nas cadeiras do governo, e eu acrescentei que não desejo ver aquelles homens ali.

O Orador: — Não lhe levo a mal; mas eu quero pensar como sei ou como posso, e não quero acompanhar ninguem que não pense como eu.

S. exa. disse que eu tinha convidado, no correr das palavras, os ministros a que saíssem daquellas cadeiras, quando não costumo fazer d’esses convites.

Eu já tenho combatido, em differentes epochas, os homens que estão hoje no poder, apesar de serem meus amigos, e fi-lo até no tempo em que era presidente do conselho de ministros o nobre duque de Saldanha, o qual nunca me levou a mal que eu fosse franco e leal, e manifestasse sinceramente o meu modo de entender as cousas; mas de combater os ministros, e dizer-lhes ex abrupto, saiam daquellas cadeiras, vae uma grande distancia.

Eu posso não estar satisfeito com a sua politica, com a sua administração, e com as suas finanças, e assim lhes declaro; posso afastar-me delles como me tenho afastado por esse motivo e por outros; posso combater os seus actos, mãe de maneira nenhuma atacar a sua susceptibilidade, convidando-os a largar as pastas.

Sr. presidente, o digno par entende que v. exa. é o juiz das discussões, e da fórma da sua publicidade no Diario da camara; mas isto não é a pratica d’esta casa, nem da outra, nem nunca o foi.

V. exa. é o imparcial director d’estes negocios para fazer executar o que está prescripto nos costumes da casa, mas nunca para estar a apreciar o conjuncto de circumstancias que possam determinar a importancia que os assumptos tenham para se demorar mais ou menos a publicidade que devem ter os trabalhos d’esta casa e que a lei marca ou estabelece.

Se um orador não restitue o seu discurso a tempo de ser publicado no Diario das sessões d’esta casa, não deve per isso motivo para que se interrompa a publicação do Diario. O que sempre se fez, em taes circunstancias, foi publicar esse discurso retardado n’uma sessão posterior, sem de modo algum parar a regular publicação das sessões. É isto que se fazia, e é isto que peço que se torne a fazer com respeito aos oradores, sejam elles quem quer que forem, e com muito mais rasão se forem os srs. ministros, que não deram os seus discursos a tempo, e esses discursos vão unidos depois á sessão seguinte.

Aqui está o que se fazia. É isto o que peço. Ainda que sou o primeiro a reconhecer a imparcialidade do sr. presidente desta camara, nunca lhe concederia eu o privilegio de, a seu arbitrio, reter a publicação de um papel como é o Diario por julgar mais conveniente que os discursos viessem juntos ou separados. O publico que le, separará o que quizer.

Tambem n’outro ponto não posso acompanhar o digno par, que muito respeito e estimo; é na apreciação que fez do corpo tachygraphico.

V. exa., sr. presidente, sabe melhor do que ninguem, o que ácerca deste assumpto tem havido, porque tomou parte na reforma que se fez ha muitos annos na outra casa do parlamento, onde encontrou alguns tachygraphos com muita intelligencia, com muito trabalho, com muita dignidade e muito zêlo do serviço.

Os tacbygraphos não precisara escola para aprenderem, precisam quem os auxilie; ha homens ali que sabem desempenhar os seus legares, e o procuram fazer.

Esta é uma questão em que eu entrei e entrou o nosso digno presidente, ha muitos annos, em que trabalhamos bastante, em que se apreciou o trabalho d’aquella corporação, que então era muito differente do que é hoje, e achou-se isto que eu digo, e de que v. exa. com a sua imparcialidade póde dar testemunho.

Creia o digno par o sr. Miguel Osorio, que n’estas minhas expressões não houve idéa de lhe ser desagradavel, pois tenho s. exa. na maior estima e consideração, honrando-me com a sua amisade.

O sr. Miguel Osorio: — Estou de accordo com o sr. conde de Cavalleiros, e já tenho receio de dizer que estou de accordo, temendo que s. exa. se afflija.

O digno par, pelos seus dotes parlamentares, pelos seus serviços, pelo desempenho de tantos cargos publicos, está numa altura tão superior á minha insignificancia, que não poderia nunca vir acompanhar-me. Reconheço a insufficien-cia da minha voz para poder chamar s. exa. para qualquer campo diverso do que segue; s. exa. sabe o que faz e por onde caminha, não precisa dos meus esclarecimentos; tem um modo de apreciar as cousas, e eu tenho outro. Mas pareceu-me encontrar na idéa por s. exa. manifestada, de que não sabia quem havia de querer no ministerio, o de-