O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

DIARIO DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO 217

ses systemas de cobrança é acaso mais odioso que o systema de cobrança por arrematação?

V. exa., sr. presidente, faz-me lembradas, sem intenção talvez, as prescripções do regimento, vendo eu que o está consultando com tanta attenção.

Ainda bem, que assim me recordo que fallo sobre a ordem e que prometti ser breve.

Direi concluindo: esta questão não é, não póde ser uma questão politica, nem eu na posição em que estou posso levantar a suspeita de que em um adiamento justificado por tantas rasões do conveniencia, e inspirado na propria declaração do sr. ministro, pozesse o pensamento reservado de provocar uma questão politica.

Voto contra o projecto, e não sou opposição, votaria com mais rasão ainda contra o projecto, se fosso ministerial.

Os governos representam os partidos; são, devem ser pelo menos, a incarnação das suas idéas, das suas aspirações. Mas se os partidos vivem do futuro, e são instrumento da evolução politica, que é a lei do progresso da sociedade, não se segue d'ahi que não vivam tambem do passado, ao qual estão ligados, vinculados até, pelas tradições.

Por isso, mal comprehendo que se invoque a memoria do duque de Loulé, e o nome de José Estevão, glorificado na nossa historia parlamentar, e representando um dos vultos mais sympathicos e mais populares d'essa historia, para justificar idéas, como as que se traduzem no projecto que se discute; se elle vale pouco como ensaio financeiro, vale muito como significação das tendencias de um governo que se preza de ser liberal, e que tem a obrigação de o ser, se não se quizer distanciar do partido que o acompanha, nem que este se distanceie, seguindo-o, do espirito da opinião publica, que é a grande rasão de força moral de todos os partidos.

Duas palavras ainda, sr. presidente, e estas são apenas um protesto a favor dos bons principios do regimen parlamentar.

Que achou o sr. ministro de offensivo para esse systema, nas palavras do sr. Fontes, quando disse que da sua parte declarava não entrar no concurso ao poder? Estranha acaso s. exa. que o sr. Fontes, chefe de um partido politico, diga que não quer o poder, que desiste do concurso ao poder, por se julgar com direito a elle?

Pois s. exa. o sr. Fontes não póde individualmente deixar de querer ser ministro, e trabalhar como chefe do partido que representa, para que esse partido conquiste de novo o poder?

Que encontrou o sr. ministro de extraordinario nessa declaração que tanto estranhou? O sr. Fontes não disse que não queria ser ministro, significando com isso que o podia ser, quando quizesse sel-o. Nem. o disse, nem o podia dizer, porque nem o poder se conquista por capricho da vontade, nem se conserva tambem pela ambição de o exercer.

Os governos succedem-se, e os partidos alternam-se nó poder, sob a influencia instavel d'esta grande força que rege o movimento politico no regimen parlamentar, a força da opinião.

Se este debate continuar, peço ainda a v. exa. que me inscreva sobre a materia.