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306 DIARIO DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO

sentado n'aquellas cadeiras, e ainda hoje é ministro d guerra!

Peco aos seus collegas o favor de lhe dizer que venha aqui. S. exa. não póde fugir, porque a questão é muito melindrosa, particularmente para s. exa.

Por agora, limito-me a pedir ao sr. presidente do conselho o favor de pedir ao seu collega da guerra que venha aqui resolver esta questão. Apresentem, se quizerem, mais moções, ponham novamente a questão politica, façam o que quizerem, que eu não deixarei de insistir na necessidade e conveniencia de se galardoarem os cidadãos que bem merecem da patria, para assim animar todos os portuguezes a bem servir o paiz.

Eu fiz, n'uma das ultimas sessões, uma pergunta ao sr. presidente do conselho ácerca da nomeação do sr. Neves Ferreira como plenipotenciario por parte de Portugal para negociar com a Inglaterra um trado de extradição.

Não sei se effectivamente s. exa. foi nomeado para esse cargo.

Vi nos jornaes que não tinha sido, mas depois os mesmos jornaes noticiaram o contrario, isto é, que sempre tinha sido nomeado para aquelle cargo.

Na sessão em que dirigi a pergunta ao sr. presidente do conselho, estranhei que o governo fizesse uma nomeação d'essa ordem, e acrescentei que me parecia esse um facto bastante extraordinario.

Disse isso então, e hoje declaro bem alto que na pessoa do sr. Neves Ferreira eu não vejo competencia nenhuma, não obstante a sua carreira administrativa e politica, para ser o negociador de um tal tratado.

S. exa. não é um diplomata, não é um jurisconsulto.

É simplesmente, segundo creio, um valente official de marinha, mas isto não basta para tratar com uma potencia estrangeira numa questão de grande importancia, como é a de um tratado de extradição.

Mas ha mais.

De entre os 5.000:000 de habitantes que tem Portugal, o sr. Neves Ferreira é o unico que não póde ser nomeado para esse logar.

Todos de certo se recordam dos memoraveis successos que precederam o affrontoso ultimatum da Inglaterra.

O sr. Neves Ferreira foi o unico culpado d'esse matum.

Não estou inventando, isto está na memoria de todos, e o que acabo de dizer posso-o provar com documentos.

Se for necessario, eu dirigirei a este respeito uma interpellação ao governo, e farei ver com documentos officiaes, que esta é a verdade dos factos.

O sr. Neves Ferreira desobedeceu duas ou tres vezes ao sr. Barros Gomes, duas ou tres vezes, note a camara.

O sr. Neves Ferreira disse em uma certa occasião: "La patience a des limites".

E s. exa. acrescentava ainda que não tinha medo, que quem tinha medo era o governo da metropole, e que se fosse elle que mandasse, a cousa seria de outra maneira.

Por consequencia, sr. presidente, não ha homem mais incompetente para negociar com a Inglaterra um tratado de extradição como é o sr. Neves Ferreira.

Ha mais ainda.

Apparece agora publicado um documento assignado pelo sr. ministro do reino, documento que vem no livro do sr. Fuschini.

Dois amigos meus disseram-me que eu não devia referir-me aqui a esse livro. Não sei porque.

O sr. Fuschini foi collega do sr. Hintze Ribeiro, é um ex-ministro d'estado, a que alguns dos actuaes srs. ministros convidaram para se sentar ao seu lado. É, por conseguinte, um homem importante. Não me parece que fosse de mais que eu, um simples mortal, corresse pressuroso a comprar esse livro para ver o que n'elle se continha.

Se é verdade o que se diz no livro do sr. Fuschini, em que situação ficam alguns dos srs. ministros?

Com respeito a algumas cartas particulares que vem publicadas n'esse livro, sem auctorisação de quem as enviou ao sr. Fuschini, eu direi de passagem que nada tenho com isso.

Se as cartas fossem minhas, eu saberia como havia de proceder e não me soccorreria de indicações alheias. O que é inegavel é que o livro é publico, e que n'elle se fazem accusações gravissimas.

De passagem, direi aos srs. ministros que, aparte qualquer commentario que se possa fazer ás intenções d'esse livro, e ao facto de n'elle estarem publicadas cartas e conversações particulares, é muito bem feito que tal succedesse.

S. exas., aos seus amigos, áquelles que sempre os aconselharam lealmente, escorraçam-os do parlamento, do governo e de toda a parte, e depois, quando querem constituir ministerio, vão buscar um dos seus inimigos mais confessos...

O sr. Marçal Pacheco: - Apoiado.

O Orador: - Um dos que tanto os vilipendiou; que chamou aos membros mais importantes do partido regenerador, serventuarios da bandeira rica do sr. conde de Burnay.

O sr. Marçal Pacheco: - Apoiado. O Orador:

Agora supportem as consequencias. E muito bem feito. Tomem, por isso, s. exas. nota do que lhes digo: não ha de ser este o ultimo castigo justo...

O sr. Marçal Pacheco: - E providencial.

O Orador - E providencial.

Não se na o sr. presidente do conselho, porque o que se diz n'aquelle livro é muito serio e grave; desprestigia os altos poderes do estado e os homens mais notaveis d'este paiz, que estão mais em evidencia.

O governo não póde ficar indifferente perante aquella accusações. Ou exige um processo formal contra o auctor d'aquelle livro, ou adopta qualquer outro procedimento. A seu tempo tratarei d'este assumpto. O que é facto é que n'aquelle livro fazem-se accusações gravissimas e violentas; põem-se em foco as mais altas individualidades politicas.

Ora, se aquillo é um acervo de falsidades, corrija-se quem o praticou; mas o que não se póde consentir é que corra de mão em mão, e por mãos estrangeiras, um livro, no qual tão baixo cáe o prestigio e a dignidade do governo e dos altos poderes do estado d'este paiz.

No livro a que me refiro lê-se o seguinte:

(Leu.)

Não ha, evidentemente, ninguem mais proprio, nem mais adequado na nação portugueza para negociar um tratado com a Inglaterra, do que um anglophobo confesso, reconhecido authenticamente por um ex-ministro da corôa!

Isto será tudo quanto os srs. ministros quizerem, mas não é serio.

Por isso, eu peço ao sr. presidente do conselho que, principalmente, depois da publicação d'aquelle livro, que póde ser censuravel, não o nego, mas que, infelizmente, é boje publico, e que é lido não só por nós, mas por quem representa, entre nós, as nações estrangeiras, peço ao sr. presidente do conselho, repito, que não consinta que o sr. Neves Ferreira continue no exercicio do seu novo argo, se é que já foi nomeado.

Peço ao governo que sobreesteja n'este assumpto, porque elle póde acarretar gravissimas consequencias, e traz, alem d'isso, um augmento enorme de despeza para o thesouro publico. Portanto, repito ainda, peço ao sr. presidente do conselho que reflicta, e que, se for preciso, renuncie ao seu proposito, desfaça aquella nomeação, porque o sr. Neves Ferreira não tem auctoridade para o desempenho de tal cargo, principalmente depois do documento