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406 DIARIO DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO

se saiba (e deve sabel-o o sr. dr. Senna, que tanto se occupou d'elles) que os jesuitas de tudo sabem, até fingir que o não são, segundo as pessoas cuja educação se lhes incumbem: tanto o sabem que de certo não educam os filhos do sr. ministro das obras publicas, ou os do sr. Dias ferreira da mesma maneira que educam ou podem educar outros discipulos.

Fazem-se tudo para todos: Omnibus omnia factus sum.

E aqui é justo dizer-se que os nossos melhores missionarios no oriente foram os jesuitas. (Apoiado do sr. marquez de Rio Maior.)

Obrigado pelo apoiado, mas ouça v. exa. até ao fim que talvez não continue a apoiar-me.

Não basta dizer os serviços que a principio nos prestaram, é bom saber tambem a paga que nos deram.

Os jesuitas prestaram grandes serviços ao catholicismo, principalmente na China. Haviam já conseguido do Imperador o direito de pregar a religião catholica em todo o imperio, com a só condição de que não prohibiriam o culto quasi religioso que no celeste imperio sé presta a Confucio, e de consentirem que continuassem a respeitar-se as inscripções dos antepassados dos chins nos logares sagrados. Era a questão dos ritos chihezes, cujo respeito os padres prometteram, como culto civico, approvando esta resolução, como approvou a Santa Sé.

Como, porém, a China começasse a entremostrar-se aos padres um paiz encantado, de opulencias e maravilhas, veiu a ambição tental-os, e, sob o pretexto de que não era muito catholico o culto de Confucio e o dos mortos, determinaram em Roma mandar logo á China alguem como visitador apostolico, e aqui veiu a celebre historia do arcebispo de Antiochia, depois cardeal de Tournon, legado a latere de Sua Santidade, que foi para lá pôr em desconfiança o imperador, que o expulsou dos seus estados, de onde veiu para Macau excommungar toda a gente, no que fez um mal extraordinario, ao catholicismo, pelos escandalos que produziu, e ao padroado portuguez mal não menor pelas tremendas luctas em que se empenhou.

O patriarcha de Antiochia entrou na India e na China sem respeito aos direitos e privilegios do real padroeiro, impondo a sua jurisdicção conferida pelo Papa, más não reconhecida pelo Rei de Portugal.

Ahi começa, abertamente agora, a rebeldia de Roma contra o padroado. Vou ler a v. exa. um novo trecho de historia editada em Roma, tambem ad usum propagandx.
Aqui o tenho n'este famoso Livro branco.

É bom que alguem defenda Portugal, visto que todos o têem atacado, e até os seus pares o não poupam, e já que os governos não podem reagir contra este poder enorme e incontrastavel, porque actua sobre as consciencias.

É de todos conhecido como Clemente XI, querendo pôr termo ás dissenções levantadas nas missões do oriente, ácerca dos ritos chinez e malabar resolveu enviar, na qualidade de legado a latere, monsenhor de Tournon..., pedindo a
El-Rei D. Pedro de Portugal protecção para o legado e seu sequito, e escrevendo ainda ao arcebispo de Goa para que o recebesse fraternalmente e lhe tornasse facil o desempenho da sua missão. Porém as auctoridades portuguezas, não só lhe negaram esta protecção, mas uniram-se os seus inimigos".

Parece que Roma procedeu regularmente; respeitando as prerogativas da corôa de Portugal e que nós faltámos ao que deviamos ao chefe da Igreja. Pois bem; vamos a ler um trecho da mesma historia em edição correcta e decida-se imparcialmente de que lado está a verdade.

Já que não podemos defender o nosso direito, acudamos pela verdade.

Aqui está um documento não contestado, originario da India.

Tem, por titulo Relação sincera e verdadeira do que fez, pretendeu e occasionou na missão da China e em Macau o patriarcha de Antiochia, Carlos Thomás Maillard de Tournon. Encontra-se impresso no Chronista do Tyssuary, pelo sr. Riyara, fidelissimo colleccionador de documentos historicos do oriente. Aqui vem minuciosamente narrada a historia do cardeal e das suas gentilezas no oriente.

Tanto que a sagrada congregação de propaganda fide começou a mandar vigarios apostolicos ás missões do padroado de Portugal começou tambem El-Rei a defender o seu direito.. ".

(Interrompendo a leitura.)

Era bom que o digno par o sr. Barros e Sá ouvisse esta leitura para não accusar o seu paiz com tanta violencia.

(Continuando a leitura.)

"... a defender o seu direito, ordenando aos viso-reis da India que não permittissem que os vigarios apostolicos e missionarios, não vindo por Portugal, entrassem nas missões do real padroado, e muito menos que tivessem juridicção nas terras do dominio de Portugal. Estas mesmas suas ordens renovou El-Rei quando soube que, contra sua vontade, se mandavam novamente de Roma muitos bispos e vigarios apostolicos para a China. Depois d'isto (note bem a camara) o Santissimo Papa Clemente XI pelo padre Antonio do Rego, jesuita (que então suppria as vezes de residente de Portugal em Roma) deu noticia a El-Rei de que mandava o patriarcha de Antiochia com officio de visitador apostolico para a India e para a China. É isto escreveu tambem é mesmo patriarcha a Sua Magestade. Recebendo El-Rei esta noticia escreveu ao Papa em 27 de março.... "

(Interrompendo a leitura.)

Note-se que emquanto o Papa encarregava um padre jesuita de participar ao Rei de Portugal a nomeação do seu visitador, nomeação motu proprio, pura é simples sem respeito ás reaes prerogativas, o Rei de Portugal escrevia-lhe directamente.

(Continuando a leitura.)

"... escreveu ao papa em 27 de março de 1702 uma carta, na qual dava o seu consentimento, quanto á pessoa do patriarcha, pedia porem a Sua Santidade que, antes de o patriarcha partir para à Índia se lhe communicassem a Sua Magestade os poderes que levava, na fórma que se praticava com os nuncios; para ver se entre elles levava alguns que offendessem o seu padroado e regalia, aliás que seria difficultoso conseguir o patriarcha o fim da sua jornada. O mesmo, ainda mais expressamente dizia, El-Rei na sua resposta ao patriacha. E logo (são as suas formaes palavras) que Sua Santidade se digne de se inclinar ÁS MINHAS REVERENTES SUPPLICAS, ordenarei ao meu viso-rei da India e a todos os meus governadores e generaes, cabos e vassallos d'aquelle estado que vos franqueiam os passos, etc."

Pelo que respeita ao arcebispo de Goa, D. Frei Agostinho da Annunciação, temos uma pastoral onde se lê: que tendo-lhe a igreja Catholica confiado todas as chiristandades do Cabo da Boa Resperança até á Tartaria, devia não permittir que alguem entrasse n'ellas com jurisdicção, por qualquer titulo, sem primeiro fazer patentes as suas bullas e poderes... e que o sr. Carlos Thomás, intitulando-se patriarcha de Antiocha e legado a latere, se quizera introduzir nas chistandades da India, alterando os costumes d'ellas, promulgando censuras no bispo de Meliapor, declarando por excommungados os parochos de Madrasta, perturbando as christandades, intromettendo-se na China, nos bispos do padroado real, impondo prefeitos dos bispados aos senhores bispos, intendo prover os bispados vacantes nos mesmos padroado, derogando as prerogativas da corôa e obrando tudo sem publicar as bullas e poderes, etc.

Eisaqui resposta á verdade; eis como já no principio do seculo XVIII Roma nos fazia a guerra; até ahi sobrepticias, disfarçada, hypocrita; agora violenta, aberta, declarada. Quem a tal sanha resiste por mais de duzentos annos, resiste muito e bem. Agora na phrase realista do digno par o sr. Barros e Sá, veiu o cardeal Jacobini puxar