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336 DIARIO DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO

nobremente o seu dever, não fazendo politica mesquinha num assumpto que a honra de todos nós exige que seja resolvido quanto antes e com a maior justiça.

D'aqui até janeiro o governo terá tempo de mais para obter todos os esclarecimentos de que ainda careça, para poder liquidar de vez esta malfadada questão. Nomeie uma commissão, composta de officiaes do exercito e da armada, que não sejam politicos, e incumba-a de examinar escrupulosamente todos os relatorios e todos os documentos, enviados ao governo pelas differentes auctoridades, de medir pela mesma craveira os serviços de todos, de receber as reclamações dos que se julguem prejudicados e de propor a final o que julgar conveniente para sanar as injustiças commettidas.

Creia que só assim poderá ter os elementos precisos para fazer justiça a todos, e que só assim porá termo a uma questão e má que mais se aggrava sempre que vem de novo á téla da discussão.

Não desejando Voltar a occupar-me d'este assumpto, permitta-me v. exa. que accrescente ainda algumas palavras ás que venho de dizer.

Em 1896, sendo ministro, comprometti-me n'esta camara a trazer ao parlamento uma proposta para que fossem condignamente recompensadas as praças de pret que mais se tinham distinguido na campanha de 1895.

Sai do ministerio antes de realisar o que promettêra, e nem o sr. conselheiro Moraes Sarmento se julgou obrigado a cumprir a minha promessa, nem o illustre ministro da guerra actual pensa em a cumprir.

E todavia, eu sei que ha muitas praças de pret que os seus officiaes consideram preteridas pelas distincções que a outras se conferiram. Citarei, para exemplo, o segundo sargento Salvador, que era de infanteria n.°2, e que hoje está reformado por doença adquirida em Africa, o qual foi apenos agraciado com a medalha de bons serviços, tendo incontestavel direito a recompensa muito superior; e tambem os sargentos da brigada de artilheria de montanha, Alvaro Mendes e David de Oliveira, aos quaes nenhuma recompensa foi concedida, tendo prestado serviços relevantes na campanha.

Se das praças de pret passamos aos officiaes encontrámos muitos casos analogos. O primeiro tenente de artilheria José Alves Cabral Saccadura fez parte voluntariamente da expedição, e logo no primeiro relatorio enviado ao governo pelo commissario regio o sr. conselheiro Antonio Ennes, foi mencionado com louvor, merecendo que Sua Magestade o agraciasse com o grau de cavalleiro da Torre e Espada.

Mais tarde o sr. coronel Galhardo passou-lhe um attestado em que diz que "certamente só por deficiencia de informações lhe não foi concedida recompensa mais elevada".

Em presença d'este documento sr. ministro da marinha actual propoz ao ministerio do reino que o primeiro tenente Saccadura fosse agraciado com o grau de official da Torre e Espada, fundando a suar proposta nos relevantes serviços por elle praticados na campanha de 1895.

Este Official está pois precisamente nas mesmas circumstancias em que estão os que se mencionam no artigo 3.° do projecto.

Felizmente tenho em meu poder os documentos que comprovam o que venho de affirmar, e vou mandal-os para a mesa acompanhados de uma proposta, para que o nome d'elle seja incluido n'aquelle artigo.

Se pelo adiantado da sessão o governo não acceitar a minha proposta, substituil-a-hei em janeiro por um projecto de lei da minha iniciativa.

Tenho aqui tambem a copia de um documento, no qual o coronel Galhardo diz que o tenente de caçadores n.° 3 José do Nascimento Pinheiro, que nenhuma recompensa obteve ainda, prestou óptimos serviços em toda a campanha e se portou com intrepidez notavel no combate de Coolella. Infelizmente este papel não tem o valor de documento authentico, e por isso, embora seja a copia fiel do attestado passado pelo sr. coronel Galhardo, não póde servir para n'elle se basear uma qualquer resolução

Nenhum documento tenho em meu poder, no qual se descrevam os serviços prestados pelos alferes de cavallaria Antonio Rodrigues Montez e João de Azevedo Lobo. Sei, porém, que fizeram ambos parte da expedição a seu pedido; que até Manjacase foram companheiros inseparaveis de Mousinho de Albuquerque; que um d'elles, o alferes Lobo, acompanhou o capitão Ayres de Ornellas nu ingrata e perigosa missão, de que este distinctissimo official foi incumbido junto do Gungunhana; que os dois e Mousinho, em seguida ao combate de Coolella, pretenderam effectuar a perseguição do inimigo, e só a não levaram a effeito, porque a isso se oppoz o commandante da expedição; sei que, em seguida ao combate, foram mandados a Chicome para escoltarem um comboio de viveres e que se desempenharam com a maior coragem e o melhor exito d'este importante serviço; e sei finalmente que Mousinho, fallando do Combate de Coolella, n'uma carta que está publicada, diz: "Todos os officiaes que vi, muitissimo bem. O Montez e o Lobo o melhor possivel" Pois estes officiaes, que mereceram estas palavras a Mousinho, bom juiz para apreciar o valor, militar são apenas cavalleiros da Torre e Espada.

Ainda outro exemplo: o ultimo.

Dos officiaes que voluntariamente fizeram parte da expedição ha um que esteve em Marracuene em Coolella e em Manjacase; que, depois, de Marracuene foi incumbido de ir ao Cabo e ao Transvaal, n'uma ingrata commissão de serviço, e mais tarde depois de uma difficil e perigosa missão junto do Gungunhana, estando ainda no kraal do poderoso regulo, quando ao sul haviam já recomeçado as hostilidades; que em outubro de 1896 esteve no combate de Mugenga, e em maio d'este anno nos de Ibrahimo e de Mucuto-muno; que acampanbou Mousinho ao Itaculo; que no combate se porta sempre com uma serenidade e uma coragem superiores a todo o elogio; que tem entrado em todos os combates que se têem ferido em Africa e tem tomado parte em todas as acções; e que só não esteve em Chaimite, porque a esse tempo vinha a caminho de Lisboa com a expedição de que fazia parte. Este official, o capitão Ayres de Ornellas, é simples official da Torre e Espada.

Ha quatro officiaes que pelos seus feitos de guerra se têem ultimamente distinguido entre os mais distinctos são elles Mousinho de Albuquerque, Freire de Andrade, Couceiro e Ornellas Dos quarto é impossivel dizer qual é o mais valente.

Entre Couceiro e Ornellas ha muitos pontos de contacto, um d'elles a modestia. Um e outro vêem o seu dever através de uma lente que o amplia: o seu muito brio; nenhum pensa em se cobrir de gloria querem apenas não ficar áquem do seu dever; e, para isso, praticam actos da mais extraordinaria audacia. Valentes como poucos julgam que todos são como elles e, por isso, quando tantos se queixam das injustiças commettidas, Ornellas volta para a Africa, sem disputar recompensa mais elevada e Conceiro desapparece de Lisboa, parecendo empenhar-se por que d'elle se esqueçam.

A Mousinho devemos Chaimite; a Freire de Andrade, a Couceiro, a Ornellas e a mais alguns devemos que em Marracuene as nossas tropas não fossem trucidadas e que o nosso dominio na costa oriental de Africa não terminasse n'esse dia. Todos inscreveram já os seus nomes na nossa historia em letras de oiro; mas Ornellas é simples official da Torre Espada!

E não só na Africa oriental ha benemeritos que tenham prestado ao paiz serviços relevantes. Em todas as colonias os temos.

Lembrarei agora os nomes de dois, um do exercito e