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CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO

SESSÃO N.º 27

EM 20 DE NOVEMBRO DE 1906

Presidencia do Exmo. Sr. Conselheiro Augusto José da Cunha

Secretarios - os Dignos Pares

Luiz de Mello Bandeira Coelho
José Vaz Correia S e abra de Lacerda

SUMMARIO. - Leitura e approvação da acta. - Não houve expediente. - O Sr. Presidente declara que encarregou o Digno Par Ernesto da Costa Sousa Pinto Basto de representar esta Camara no acto da inauguração do retrato do fallecido Digno Par Francisco de Castro Mattoso, accedendo assim a um convite da Camara Municipal de Aveiro. - O Digno Par D. João de Alarcão envia para a mesa o parecer que incidiu sobre o projecto de lei, que releva o Governo da responsabilidade em que incorreu por haver assignado o contrato relativo á conclusão do caminho de ferro do Valle do Vouga, e concessão da linha ferrea do Alto Minho. Foi a imprimir. - O Digno Par Bispo da Guarda manda para a mesa uma representação do Cabido da Sé da Guarda, pedindo que se ultimem as obras da restauração da mesma Sé. Em seguida apresenta diversas considerações tendentes a mostrar a necessidade de se acudir ás precarias circumstancias em que se encontra o clero parochial. Responde a S. Exa. o Sr. Ministro da Marinha. - O Digno Par Sebastião Baracho manda para a mesa um requerimento pedindo documentos ao Ministerio da Marinha. Mandou-se expedir.

Ordem do dia (continuação da discussão do projecto de resposta ao discurso da Coroa). - Usam da palavra, o Sr. Ministro da Marinha, e em seguida o Digno Par José Dias Ferreira. - Encerra-se a sessão, e designa-se a immediata, bem como a respectiva ordem do dia.

Pelas 2 horas e 40 minutos da tarde, verificando-se a presença de 35 Dignos Pares, e Sr. Presidente declarou aberta a sessão.

Foi lida, e seguidamente approvada, a acta da sessão antecedente.

Não houve expediente.

O Sr. Presidente: - A Camara Municipal de Aveiro convida a Camara dos Pares a fazer-se representar na inauguração, ali, do retrato do nosso chorado collega Francisco de Castro Mattoso. Se a Camara acceita este convite, eu nomeio quem a represente. (Apoiados geraes).

Em vista da manifestação da Camara, nomeio o Digno Par Sr. Pinto Basto, podendo aggregar-se a S. Exa. todos os Dignos Pares que o quizerem fazer.

O Sr. D. João de Alarcão: - Mando para a mesa o parecer das commissões reunidas do bill e de obras publicas, acêrca do projecto de lei que releva o Governo da responsabilidade em que incorreu por haver assignado o contrato relativo á conclusão do caminho de ferro do Valle do Vouga, e haver feito a concessão da linha ferrea do Alto Minho.

Foi a imprimir.

O Sr. Arcebispo, Bispo da Guarda: - Mandando para a mesa uma representação, em que o Cabido da Sé da Guarda pede que sejam ultimadas urgentemente as obras de restauração da mesma Sé, seja-me permittido, Sr. Presidente, fazer algumas breves considerações sobre este assumpto e sobre um outro que com este tem intima relação.

A Sé Cathedral da Guarda, Sr. Presidente, é uma das preciosidades artisticas e monumentaes do mais alto valor, que o thesouro da arte nacional contém.

A linha geral do edificio é de extremada belleza e harmonia.

As naves d'este grandioso templo assignalam-se pelo arrojo e belleza da sua contextura, ostentando sempre a maxima simplicidade. Se não são enriquecidas e aformoseadas por ornatos e figuras decorativas, são, no entanto, de uma elegancia e majestade inexcediveis.

Entre outros preciosos trabalhos destaca-se um, indubitavelmente o de maior merecimento que o templo encerra, e no seu genero um dos de maior valor artistico que o paiz possue: o grande retabulo.

Esta peça de arte é de pedra de Anca e contem aproximadamente cem figuras em alto relevo, e algumas de tamanho natural. A composição das figuras, notavelmente artistica, representa diversas passagens da vida do Salvador. Se attendermos á coevidade e forma d'este maravilhoso retábulo, reconheceremos que a escola a que obedece, é a mesma que presidiu á construcção da Capella do Sacramento da Só velha de Coimbra.

A falta, porem, de disposições legislativas que puzessem ao abrigo do nefasto influxo do mau gosto, este e tantos outros monumentos publicos, permittiu que a iniciativa particular, destituida de uma orientação esclarecidamente esthetica, e sem respeito pelo que a arte tem mais sagrado, com mão vandalica, comprometesse por meio de mutilações barbaras a solidez da magestosa cathedral, e offendesse com detestaveis adjuncções a sua excepcional belleza

Urge, Sr. Presidente, sustar a acção devastadora d'estas iniciativas, sem criterio e sem escrupulos, que tanto teem damnificado os nossos padrões da artes titulos de nossa grandeza e gloria nacional.

Se somos ricos por havermos a posse de tantas joias monumentaes e artisticas, somos tambem por igual culpados, votando ao esquecimento e abandono valores de tão alto preço.

Não é certamente honroso para o nosso brio nacional, que os nossos monumemtos e riquezas artisticas tenham