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414 DIARIO DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO

mes de Sagasta e Montero Rios. Não é necessario ir tão longe, temos cá no paiz, e mesmo no primeiro periodo constitucional, homens importantes, que pensavam o que eu penso.

O documento, que vou ler, tem a data de 1840, é da responsabilidade do ministerio de que fazia parte o conde do Bomfim, Rodrigo da Fonseca Magalhães, Costa Cabral, conde de Villa Real. N'essa epocha o ministro dos negocios da marinha e ultramar, no seu relatorio, apresentado ás camaras na sessão extraordinaria de 1840, tratando do estado religioso das nossas possessões e do anniquilamento do padroado portuguez, dizia o seguinte: "Entretanto o pequeno numero de padres existentes no collegio de S. José em Macau, e a maior parte d'elles impossibilitados, por seus annos e moléstias, de entrarem para as missões, faz receiar que dentro de poucos annos, a pão se tomar alguma providencia, façam com que ellas se percam para o padroado; tanto mais que a Sé Apostolica não é possivel que deixe em abandono cincoenta a sessenta mil christãos das missões portuguezas, tendo talvez já por essa rasão nomeado um novo vigario apostolico para Kiamey e Kikiam, provincias pertencentes ao bispado de Pekim.

" Convem que quanto antes se restabeleça uma corporação, que tenha a seu cargo as missões, para evitar a perda do padroado portuguez no Indostão, Malabar, Bengala, Malacca, China e resto da Asia. Parece tambem que o mais conveniente é a congregação da missão, que outr'ora existiu em Rilhafolles, que por experiencia se demonstrou ser a mais util, e que tanta gloria deu ao nome portuguez."

A leitura foi um pouco comprida, mas não podia deixar de a fazer toda. Agora pergunto aos meus collegas: não acham s. exas. que a auctoridade do relatorio, assignado por nomes tão importantes, se impõe á attenção de todo nós? Não demonstra elle que estes velhos liberaes julgavam vantajosas e necessarias as congregações religiosas para o padroado? Não são as opiniões d'elles conformes com as minhas?

N'este mesmo livro, interessantissimo, vem uma carta de Silvestre Pinheiro, escripta em Paris em 4 de outubro de 1826, na qual se consignam os sentimentos mais favoraveis á congregação do oratorio. "Os meus sentimentos, diz elle, são invariaveis; possa eu merecer o titulo de digno filho de essa congregação, a que sempre estive unido por gratidão e por affecto".

Ainda vou citar mais um grande liberal, o marquez de Sá da Bandeira.

Diz o Livro branco, volume I, pag. 187, as instrucções do marquez de Sá, de 11 de março de 1868 auctorisavam a annuencia formal do governo de Sua Magestade em concordar no estabelecimento em Bombaim de um collegio de missões, confiado a uma ordem religiosa, e o restabelecimento da missão dos capuchinhos italianos em Santo Antonio do Sonho (margem esquerda do Zaire) concorrendo o governo para a despeza do transporte dos missionarios.

Sinto que o sr.. Thomás Ribeiro só desse agora entrada na sala, e não ouvisse a leitura, que fiz de um documento importantissimo, da responsabilidade dos srs. Costa Cabra!, Rodrigo da Fonseca Magalhes, conde do Bomfim e conde de Villa Real, documentos em que estes illustres homens d'estado se pronunciam a favor da, congregação das missões, outr'ora existente em Rilhafolles, como meio de evitar a perda do padroado.

Agora fallo do livro, a que já me referi, é intitula-se Atravez o hemispherio do sul, por mr. Michel. Conta elle, que chegado ao Brazil foi apresentado ao Imperador, e este lhe fallou da congregação italiana de D. Bosco, que tem por fim a educação das creanças, manifestando o chefe do estado viva satisfação por saber que estes padres iam fundar brevemente uma casa para a sua ordem no Rio de Janeiro.

O Imperador do Brazil é um liberal, um homem distinctissimo e illustrado, e o seu voto merece consideração.

Devo dizer que não tenho a honra de conhecer, nem directa nem indirectamente, o auctor d'esta obra, comquanto n'ella se façam referencias muito lisonjeiras a respeito da administração da Misericordia de Lisboa e de outros institutos piedosos, que dependem de pessoas da minha familia.

Diz o mesmo escriptor que no hospicio da misericordia, do Rio de Janeiro, os irmãos de S. Vicente de Paula tratam 1:500 doentes internos, e dão diariamente remedios, receitados pelo medico, a 600 outros doentes externos.

Aqui tem a camara a prova de que as congregações religiosas são admittidas tambem n'aquelle vasto imperio.

Sr. presidente, nunca em occasião mais opportuna me chegou á mão um livro tão valioso. Outra citação vou d'elle tirar. Apresentou-se contra a minha doutrina um arsenal completo; tem só um defeito, são velhas as armas. Veiu o Voltaire e o Rousseau! Pois a respeito do primeiro acho tambem nesta obra de mr. Michel um facto curioso; refere o auctor uma conversa, que teve no Chili com um dos chefes do partido liberal, o deputado D. Ambrozio Montt, a proposito de uma discussão, que lá tinha havido, e disse este homem politico o seguinte:

"Na verdade de que serviria um Voltaire na nossa America. No norte ha o grande Washington a seguir, mas nas republicas latinas do sul o genio de Voltaire enfraqueceria a idéa christa, fundamento da nossa sociedade, e auxilio poderoso das nossas instituições republicanas, nau nos dando em compensação uma philosophia para os nossos pensadores, uma sciencia para os nossos publicistas, uma religião para o nosso povo!"

Esta é a opinião de um illustre republicano a respeito do velho Voltaire, tão mal trazido polo sr. Fernando Palha para o debate.

Quanto aos jesuitas, não fui eu só que o disse, confessaram os meus adversarios que elles eram bons missionarios, bons educadores, até bons portuguezes, que só tinham o defeito de se não gostar d'elles, e que mettiam medo. Não sei responder a estes argumentos.

Exclamam: os jesuitas para ganhar popularidade até acompanham os condemnados ao patibulo; respondo, os jesuitas lêem immensos merecimentos; comtudo não é este o emprego especial dos seus padres.

Peço desculpa ao meu amigo, o sr. Thomás Ribeiro, para lhe dizer: póde ser que uma ou outra vez fosse algum jesuita acompanhar algum condemnado ao patibulo, mas, repito, não é essa a sua missão. Em Lisboa acompanhavam quasi sempre os moribundos, os frades de S. Pedro de Alcantara, chamados pela Misericordia; quanto aos jesuitas santa é a sua popularidade, se ella se affirma, como dizem os dignos pares seus inimigos, com obras tão meritorias.

Sr. presidente, uma das muitas cousas que se declarou, porque nesta discussão tem havido uma tal diversidade de palavras e de idéas, que bem disse o sr. Thomás Ribeiro, o debate recorda uma verdadeira Babylonia, foi que ás creanças ora prejudicial dar-lhes educação religiosa na tenra idade.

Nada de incutir ás creanças educação religiosa!

O sr. Senna: - Fui eu que disse isso; não pude, porem, desenvolver a minha idéa, porque m'o impediu uma observação do sr. presidente.

O Orador: - V. exa. não póde desenvolver a sua idéa; luas como eu fallei n'este ponto, vou, sem me referir a v. exa., e para instrucção de todos nós, apresentar uma opinião insuspeita.

Á camara deve agradar a leitura, que vou fazer, porque é portuguez de lei, é de um homem, que escrevia em linguagem vernacula, e sabia, como os melhores, a sua lingua.

Dizia assim:

"Era, porém, a superstição a religião do povo, e quem de algum modo amparava, e aviventava a moral, a virtude a vida intima d'elle; affrontada, amaldiçoada, arrastada