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SESSÃO DE 10 DE JUNHO DE 1887 415

já, nas cidades, pelo lodo das ruas publicas, sel-o-ia brevemente pelas viellas e azinhagas das aldeias e casaes. Mas o que ficou em logar d'ella nas cidades; o que ficará nos campos? Nada: porque ella era a crença do povo. E podemos-lhe dar outra? Não; porque a religião só se estampa na alma durante os tenros annos.

"Desgraçadamente o philosophismo já se aquece no soalheiro da praça, e
encosta-se ao balcão da tenda; a religião, porem, nau sáe dos cathecisrnos da escola, ou dos livros dos theologos; a impiedade pavoneia-se descaradamente por palacios e choupanas, por salas e tabernas, e se lhes perguntaes de onde veiu, que bem faz á humanidade, em que titulos funda o seu modo senhoril e desprezador do passado, responde-vos que sois fanaticos, supersticiosos e intolerantes. "

Ouviu a camara esta linguagem tão verdadeira! É, talvez, de algum reaccionario, fanatico, supersticioso e intolerante? Não, não é! O homem que isto escreveu chamava-se Alexandre Herculano! A sua palavra é de uma grande auctoridade.

O sr. Carlos Testa: - Era um reaccionario!

O Orador: - Eu comprehendo, sr. presidente, que os que julgam os jesuitas prejudiciaes á educação não mandem lá seus filhos, mas não entendo que o façam aquelles que os atacam. Este procedimento não é correcto. Aproveito a occasião para declarar que os jesuitas não teem em Portugal existencia official, porém teem direito a aqui residir individualmente, como qualquer mahometano, israelita, ou adorador de Boudha. (Apoiados.} As leis do marquez de Pombal não podem obrigal-os a sair do reino, ha lei mais moderna que os protege e defende. Aos jesuitas habilitados como professores, é lhes livre o ensino, como a quaesquer outros mestres.

O digno par, o sr. Thomás Ribeiro, que disse muita cousa boa no seu discurso,, e tanto que eu lhe não regateei os meus apoiados, declarou n'este ponto, em que o nosso desaccordo é completo, que, depois de enumerar os bons serviços, prestados pela Companhia de Jesus, havia de demonstrar quanto ella nos foi contraria. Póde ser, sr. presidente, que eu não comprehendesse o fim do discurso do digno par, tão bem como lhe comprehendi o principio, que s. exa. desenvolveu largamente; mas o facto é que esperei a completa demonstração dos delictos contra nós praticaticados pelos jesuitas, e não os encontrei. S. exa. apresentou a proposição, sentença condemnatoria, o desenvolvimento do libello é que não houve!

Os jesuitas são Francisco Xavier na Indiano padre Antonio Vieira, pregando contra os hollandezes, o padre Loureiro, prestando os assignalados serviços, que enumerei. Os jesuitas são estes todos, e os muitos que, como honra da Companhia, evangelisam hoje em todo o mundo. Bastantes serviços prestaram á bandeira das quinas; mas o que foi hontem póde sel-o ámanhã, para gloria de Portugal e defeza do nosso padroado.

Digo tudo isto, sr. presidente,, para que tudo se fique sabendo aqui bem, e conste lá fóra. Tome cada um as suas responsabilidades.

Repito, a discussão tem sido uma Babylonia! Até se fallou na inquisição, instituição que não foi respeitavel, que eu por fórma alguma defendo, que ao contrario combato; mas devo explicar, a inquisição foi principalmente um tribunal religioso, posto ás ordens do poder civil. N'este ponto não concordo com o sr. Cánovas dei Castillo. Ainda ultimamente ha o seu prefacio da obra de Gaspar Muro, A dugueza de Eboli. Para, mim Filippe II personifica um dos maiores tyrannos da humanidade, a inquisição era um dos meios da sua politica atroz. A reforma não entrou em Hespanha, é verdade, mas isso não absolve as fogueiras e os autos de fé. É necessario, porém, para ser historiador imparcial, attender ao meio em que se vivia, a vida humana não era então respeitada como hoje.

Francisco I, o cavalheiroso Rei de França, o homem da renascença, levantava um dia na praça da Greve cincoenta forças, e a nossa princeza D Joanna, irmã de Filippe II, e mãe de D. Sebastião, assistia de gala, decotada com as suas damas e a sua côrte durante todo um dia, em Valladolid, a um horrivel auto de fé, em que muitos desgraçados foram queimados!

Eram as idéas, más idéas d'aquelle tempo.

Se faço todas estas reflexões não é porque deseje cansar a camara, mas tendo os meus argumentos sido contradictados, não podia deixar de dizer resumidamente algumas palavras.

Agora passo ao assumpto para que pedi ante-hontem a palavra. Tenho a declarar, por parte da commissão, que acceito a proposta do digno par o sr. Coelho de Carvalho. A commissão de bom grado ampliará o louvor, sobre á acção dá bahia de Tungue, ás forças do exercito de terra que tomaram parte no desembarque.

Devo, porém, dizer que a omissão, notada pelo digno par, na resposta ao discurso da corôa, teve por unica causa o não serem ainda conhecidos os relatorios d'aquelle feito glorioso, quando foi redigido o projecto de resposta.

Comtudo, fallando-se nas forças de marinha, comprehendiam-se todos, que estavam, embarcados nos nossos vasos de guerra. Não houve a menor idéa de exclusão. (Apoiados.) Ao contrario; devia-se tambem entender que o elogio era para as forças do exercito de terra, que fizeram, parte d'essa expedição maritima. Tanto não podia haver, pensamento de menos louvor para as forças do exercito, que desembarcaram, quanto é certo ser eu, relator do projecto, amigo pessoal do illustre official que as commandava, o sr. Palma Velho. (Apoiados.)

Vozes: - Muito bem.

O sr. Mendonça Cortez: - Mando para a mesa o parecer da commissão de fazenda, sobre o orçamento rectificado.

Foi a imprimir.

O sr. Pereira Dias: - Declara que não tem o gosto ide sei- amigo pessoal do sr. marquez de Rio Maior, e diz isto. não porque tenha para com s. exa. a minima animosidade, senão sómente para se desviar do estylo contraproducente d'aquella casa, consistindo elle em que o orador que se levanta, desde logo se protesta muito amigo do que o antecede, e depois falla e conclue de modo que o publico fica na profunda convicção de que ambos são dois inimigos figadaes.

Repugna-lhe isto e não menos fallar muito, a fim de obstar a que por mais tempo se dilate uma discussão já de si tão longa, e a cujo proposito, se houvesse de apresentar alguma proposta, fôra no sentido de a adiar para o inverno, attenta a calma intensa da actual estação.

Passa depois a rebater alguns argumentos do sr. marquez de Rio Maior, e referindo-se ás congregações religiosas, que s. exa. tanto defendera, entende que ellas já tiveram utilidade, e portanto a sua rasão de ser. Actualmente, porém, até a educação subministrada pelos jesuitas chega a atrophiar a precocidade das intelligencias.

Quanto ao discurso do sr. Fernando Palha, acha que este digno par tivera por vezes rasão nas suas referencias ao bezerro de oiro, pois que elle proprio, orador, estava, muito ás claras, vendo o dito bezerro saltando de pagina para pagina em todo o Livro branco.

Impugna a moção do sr. Thomás Ribeiro, comparando-a a certa droga chimica, de nome singelo e agradavel sabor, mas um toxico tão violento, que alguem assim descreveu o quanto ella era fallaz:

Cave, sub hoc specioso nomine, horrendum venenum!

Rejeita-a conseguintemente como um producto insidioso, e justifica e approva a concordata.

(O discurso de s. exa. será publicado na integra, quando haja revisto as notas tachygraphicas.)

O sr. Presidente: - Queira o digno par mandar para a mesa a sua moção.