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SESSÃO DE 10 DE JUNHO DE 1887 417

discussão, sustentei eu que Portugal póde satisfazer regularmente as obrigações do padroado, não só na extensão, que lhe é assegurada pela ultima concordata, mas ainda com respeito a algumas christandades mais, como as de Ceylão, que se não querem separar de nós, mas que é necessario que o governo aproveite cuidadosamente os meios directos e indirectos, que tem, sendo o mais efficaz de todos a missão.

Agora chamarei a attenção do sr. ministro dos negocios estrangeiros e da marinha para o estado precario e arriscado, em que vae ficar a nossa antiga igreja de Malaca.

Estava accordado que se restabeleceria ali o antigo bispado, mas pela ultima concordata vae annexar-se á diocese de Macau, na distancia de quasi 20 graus geographicos de longitude, sendo de certo difficeis e raras as communicações, com o mar da China de permeio, ao mesmo tempo que se não declara, e só se infere por inducção, que a diocese de Macau continuará a ser suffraganea da sé metropolitana de Goa.

Esta incerteza duma situação indeterminada e vaga é para causar receios.

A nossa igreja de Malaca tem ainda bens, segundo os inventarios, no valor de 600:000$000 reis! O seu rendimento deveria ser bastante para sustentar o bispado com o seu cabido, seminario, missões e escolas, mas fica em muito desamparo n'aquelle isolamento, e como está á beira mar, cumpre seriamente ao governo precaver que não vá tudo por agua abaixo.

Tenho por ultimo de pedir perdão á camara, e á minha patria, de uma inadvertencia, que tive, de momento.

Memorando as virtudes sympathicas de Sua Santidade Leão XIII, dia se eu que a Europa vae em breve presenciar na exposição do Vaticano a homenagem de respeito talvez mais esplendida, que se tem dado ao successor de S. Pedro desde a instituição do pontificado.

A incerteza da minha asserção tinha fundamento.

Se fosse possivel abrir-se concurso de manifestações as maiores e mais ruidosas, que tenha havido, ou possa haver, em honra do Chefe Supremo da Igreja, e o mundo se apresentasse agora com essa maravilha, que está em preparativos no Vaticano, desafiando á competencia quem quer que fosse, erguer-se-ia da mais pequena orla do extremo continente occidental da Europa um pequeno povo a levantar a luva e a afrontar reunidos todos os outros povos da terra!

Em 1514 mandava o afortunado Rei de Portugal D. Manuel ao Papa Leão X a mais grandiosa e extraordinaria, embaixada que jamais entrou na cidade eterna. Foi embaixador de Portugal um dos heroes legendarios da nossa historia, o grande Tristão da Cunha, o qual com seus proprios filhos e outros nobres portuguezes; com o riquissimo presente das primicias do oiro do oriente, de preço inestimavel, e nesse tempo avaliado em um milhão; com o celebre elephante real recamado de oiro a borrifar de agua aromatica as mais altas janellas do castello de Santo Angelo, onde estava o Papa e os cardeaes, e a multidão em redor; com o seu cornaca indio, que o ia governando; com a onça de caça de Ormuz na anca de um cavallo persico; com os seus cavallos ferrados de prata; e com o luzimento deslumbrante do seu apparatoso séquito; apresentava ao Soberano Pontifice a obediencia das regiões do oriente, cujas portas acabava Portugal de abrir, não só á concorrencia e trato da Europa attonita, mas ainda mais ao imperio da fé christã!

Isso sim! Isso é que foi a maior de todas as manifestações, e que não póde mais repetir-se, com assombrosos effeitos para o catholicismo e para a civilisação! Foi ahi que teve origem o primeiro titulo escripto do nosso padroado.

Se o concurso estivesse aberto, sabe a camara em quem nós nos louvariamos para ser juiz no certame com inteiro conhecimento de causa, e que o havia de decidir a nosso favor, por ser prova viva de tudo quanto poderiamos allegar?

A sagrada congregação de propaganda fide.

Não temos hoje um Tristão da Cunha para levar a nossa embaixada! Mas valha-nos o seu nome, que tanta luz ainda reflecte na historia, e valha aos nossos christãos de Ceylão a memoria d'elle, que se não póde ter apagado em Roma.

D'esses nossos christãos, que sem nos conhecer, nem tratar, tão nossos são em espirito, não se nos desapegará o coração.

E se em Roma alguma entidade ha, que possa intrometter-se a allegar contra nós ao Summo Pontifice quaesquer rasões, por mais conscienciosas, que se inculquem, confio em que Roma não prevalecerá contra Roma.

A causa das nossas christandades de Ceylão é a nossa causa. (Apoiados.)

Leu-se na mesa a seguinte

Moção de ordem

Proponho que, depois de votada a resposta ao discurso da coroa, seja submettida á votação da camara a seguinte:

Proposta

Em vista das manifestações de sentimento da camara a favor das christandades supplicantes de Ceylão, que. imploram do intimo da alma ser considerados no real padroado do oriente, a camara dos pares, attento o melindre do governo em propor novas negociações, espera comtudo que elle fará levar ao conhecimento de Sua Santidade este voto respeitoso de uma das casas do parlamento portuguez. = M. Osorio = Arcebispo resignatario de Braga = Conde de Alte = José V. Barbosa du Bocage = A. de Aguiar = Marquez de Rio Maior = Antonio Maria de Senna = Fernando Pereira Palha.

O sr. Presidente: - Os dignos pares, que admittem á discussão a moção que acaba de ser lida na mesa tenham a bondade de se levantar.

Foi approvado.

O sr. Presidente: - Eu pergunto ao digno par o sr. Miguel Osorio Cabral, se retira a sua outra moção?

O sr. Miguel Osorio Cabral: - Sim, senhor.

Eu peço a v. exa. que consulte a camara sobre se permitte que eu retire a minha primeira moção e a substitua pela outra que acabou de ser lida na mesa.

O sr. Presidente: - Os dignos pares, que permittem que o digno par o sr. Miguel Osorio Cabral retire a sua primeira moção e a substitua pela outra que mandou para, a mesa, tenham a bondade de se levantar.

Foi approvado.

O sr. Conde de Castro: - Requeiro a v. exa. que consulte a camara sobre se consente que se prorogue a sessão até se votar a resposta ao discurso da corôa.

O sr. Presidente: - Os dignos pares que approvam o requerimento que acaba de fazer o digno par o sr. conde de Castro, tenham a bondade de se levantar.

Foi approvado.

O sr. Visconde de Arriaga (sobre a ordem): - Apresentou a seguinte moção:

"A camara dos pares faz votos para que o governo de Vossa Magestade empregue todos os esforços a fim dos christãos portuguezes da ilha de Ceylão e os dos Gattes ficarem pertencendo ao padroado portuguez na India."

S. exa. usou largamente da palavra a favor das christandades que ficaram, pela nova concordata, fóra da nossa jurisdição.

(Não desenvolvemos este extracto, por indicações de s. exa. cujo discurso será publicado na integra, quando haja revisto as notas tachygraphicas.)

O sr. Serra e Moura: - Em vista do requerimento do digno par o sr. conde de Castro, e do facto de não es-