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216 DIARIO DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO

O sr. Vaz Preto: — Eu não entro nas intenções de pessoa alguma.

O Orador: — Quando temos de nos referir a quaesquer assumptos.

N’este ponto, abstenho-me de apreciar o que disse o digno par, porque as eloquentes palavras do sr. presidente do conselho me dispensam de entrar n’esta questão.

Procurarei apenas responder a algumas perguntas que o digno par formulou, o bem assim apreciar a sua argumentação quanto ás contradicções que lhe pareceu ver nas minhas opiniões como deputado em 1870 e como ministro em 1878. E, antes de mais nada, permitta-me s. exa. que responda á pergunta que acaba de fazer, e que é, se o governo está resolvido a dar execução á lei que foi votada nas duas casas do parlamento, e que hoje deve receber a sancção regia.

Logo que esta lei seja publicada o governo dar-lhe-ha immediatamente execução e abrirá o concurso. E como a lei não previne só a hypothese da construcção por concurso, é evidente que, se o resultado desse concurso não for favoravel, o governo póde construir por conta propria.

Perguntou s. exa. tambem se á lei relativa á construcção da linha do Algarve o governo tenciona dar execução logo que seja approvada. Devo dizer ao digno par, que, logo que essa lei tenha passado pelos tramites legaes, o governo lhe dará execução, como tenciona dar á que diz respeito .ao caminho de ferro da Beira Alta.

Sr. presidente, parece-me que o digno par se manifestou demasiadamente adversario dos caminhos de ferro. S. exa. declarou que não queria que se construisse nenhum; nem o da Beira Alta nem o da Beira Baixa, nem o do Algarve, e n’este ponto, sr. presidente, é notavel que s exa. se desdiga assim do seu passado politico, porque acompanhou sem duvida o partido regenerador até 1875. Este partido tem na sua longa historia, desde 1802 até hoje, a demonstração cabal e frisante de todos os melhoramentos que realisou, e da profunda convicção, que tem mostrado sempre, de que o desenvolvimento da riqueza publica e o melhoramento da situação financeira dependem do progresso material e intellectual do paiz.

Por consequencia quando o partido regenerador entende que se devem fazer melhoramentos de tanta utilidade publica, como é a viação accelerada para o desenvolvimento do paiz, não faz mais do que pôr em pratica o seu credo economico e politico, que foi tambem durante muito tempo o credo do digno par.

Agora permitta-me s. exa. que me refira ás pretendidas contradicções que notou no meu procedimento como deputado em 1875 e como ministro em 1878.

É n’este ponto eu posso dizer quasi que estou representando o duplo papel de interpellante e interpellado, porque o digno par procurou demonstrar, lendo diversos trechos dos meus discursos, que eu na epocha em que os proferi estava de accordo com s. exa., dando a preferencia ao caminho de ferro da Beira Baixa. Eu lamento que o digno par, que consultou e revolveu os annaes parlamentares, não fosse mais longe nas suas investigações, pois encontraria na sessão de 1877 a explicação, e justificação para melhor dizer, da rasão por que tenho manifestado a minha preferencia hoje pelo caminho de ferro da Beira Alta, e não pelo da Beira Baixa.

Na sessão de 2 de março do anno passado o illustre deputado pela Covilhã dirigiu-me varias perguntas identicas: ás que foram hontem aqui feitas pelo digno par, notando-me a mesma contradicção apontada por s. exa. e eu respondi de maneira que de certo não deixará duvidas no espirito do digno par.

Quando se apresentaram as propostas que foram discutidas, os unicos elementos que havia para apreciar as construcções desse caminho eram os trabalhos dos engenheiro» os srs. Sousa Brandão e Combelles, mas n’essa mesma sessão eu disse:

D’este quadro colhem-se dados importantes:

«1.° O traçado definitivo tem menos, do que o do engenheiro Sousa Brandão, 58 curvas, e menos, do que o do engenheiro Combelles, 105.

«2.° No traçado do engenheiro Combelles (de todos ornais curvilineo) ha 44:560m,67 em curvas de 300 metros de raio, emquanto que no definitivo não ha extensão alguma em curvas de tal raio.

«3.° No traçado do engenheiro Sousa Brandão ha até curvas com raio de 200 a 250 metros no desenvolvimento de l:504m,40.

«4.° Sendo o total desenvolvimento em curva pelo traçado definitivo 91:592m,89

e pelo do engenheiro Combelles........... 141:519m,45

ha por esta forma a grande vantagem para o traçado definitivo de ter menos em curva, do que o do engenheiro Combelles, a extensão de... 49:926m,56

«5.° Finalmente, sendo no traçado definitivo a total extensão em alinhamento recto de... 110:394m,21

e no do engenheiro Combelles de.......... 90:080m,55

resulta a favor do traçado definitivo (apesar de ser muito mais curto do que o do engenheiro Combelles) a extensão rectilinea de.. 20:3130,66

Já s. exa. ve, com respeito ao traçado do sr. Eça, que esses estudos eram completamente modificados, e com decisivas vantagens emquanto ás condições de planta.

Pelo que respeita ás condições do perfil:

«Confrontando, porém, o traçado do engenheiro Combelles com o definitivo, vê-se que este tom consideravel vantagem sobre aquelle, como póde deprehender-se da seguinte comparação numerica:

«1.° Em rampas a Om,015 ha no traçado definitivo a extensão de................... 9:298m,02

e no do engenheiro Combelles............ 45:900

Tom, portanto, o traçado de engenheiro Combelles, de excesso sobre o definitivo, n’estas subidas mais fortes a extensão de.. 36:601m,98

«2.° Nas descidas a Om,015 tem o definitivo traçado a extensão do............... 7:294m,78

e a do engenheiro Combelles............. 23:940

«E, pois, o excesso do traçado de mr. Combelles sobre o definitivo nas descidas mais fortes................................ 16:645m,22

«3.° A extensão total em rampa é no traçado
definitivo de........................... 103:034m,14

e no do engenheiro Combelles de.......... 116.577

«E, portanto, o excesso, no tratado do engenheiro Combelles comparado com o definitivo, de.............................. 13:542m,86

«4.° A extensão total em descida é no projecto definitivo de...................... 51:990m,27

e no do engenheiro Combelles............ 48:870

«Excede, pois, o traçado definitivo do engenheiro Combelles ...º................. 3:129m,27

«5.° A extensão total em patamar é no traçado definitivo de...................... 4õ:953m,69

e no do engenheiro Combelles de.......... 66:153

«Ha, portanto, no traçado do engenheiro Combelles a extensão a mais de.......... 20:199m,31

Basta, pois, comparar estes estudos para reconhecer quão diversas são as condições do projecto definitivo do caminho de ferro da Beira Alta d’aquellas em que se acharam feitos os ante-projectos dos engenheiros Combelles e Sousa Brandão, unicos que em 1875 podiam ser comparados com