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220 DIARIO DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO

quaesquer argumentos que podesse adduzir responder a s. exa. com as suas proprias palavras:

«Eu que sou engenheiro ao serviço do governo, se o sr. ministro das obras publicas me fizesse a honra de me escolher para fazer o projecto do caminho de ferro da Beira Alta, e me marcasse as condições do curvas de 500 metros de raio e rampas de 10 metros, eu forcejava quanto em miai coubesse para me esquivar a essa missão, na certeza de que me seria impossivel satisfazer a ella, porque, por mais que se queira, por mais que se medite, por mais que se percorra o terreno, por mais soluções que se estudem, lá estilo sempre o costado dos valles, as rapidas inclinações das encostas, a inclinação geral do terreno, os seus accidentes e as suas rudezas a protestar contra todos os esforços do engenheiro e a assistir a todas as locubrações do seu espirito.

Sr. presidente, estas difficuldades do terreno, essas vertentes escabrosas, esses penhascos alcantilados, esses declives rapidos que preoccupavam tanto s. exa., lá existem ainda e da mesma fórma.

Creio que o sr. ministro não poderá contestar a sua asserção, e se todas essas sinuosidades que lá estavam existem ainda, e se o orçamento que se apresentava se considerava insufficiente, podo a camara ficar convencida de que quando votou o orçamento apresentado pelo sr. ministro, votou pelo menos l5.000:000$000 réis, se for só esse o custo d’aquella linha.

Sr. presidente, eu que li tambem o trabalho do sr. Eça, que o estudei, e que o confrontei com o discurso do sr. Lourenço de Carvalho, noto que ainda n’esta parte s. exa. é inexacto na apreciação que fez d’esse trabalho; e como costumo demonstrar todas as proposições que avanço, vou fazel-o, servindo-me para isso de um extracto dos documentos officiaes, com o qual respondo ao sr. ministro.

S. exa. diz que o caminho de ferro da Beira Alta é mais curto, e eu digo exactamente o contrario. O engano do sr. ministro provem talvez de um erro que vem no trabalho do sr. Eça. Este engenheiro, para mostrar que o caminho de ferro da Beira Alta para Bayona e mais curto do que o da Beira Baixa, ainda fazendo-se o ramal dos Alduides, suppõe que elle irá a Soria, quando Cota cidade ha de ser servida por um ramal. Pela Beira Alta e Lisboa a Bayona são 1:094 kilometros e pela Beira Baixa a Meda de Baides são 1:074.

Portanto aqui tem s. exa. a distancia do caminho do ferro da Beira Alta e do da Beira Baixa, segundo os dados apresentados pelos engenheiros hespanhoes e pelo sr. Eça.

A differença a favor do caminho do ferro da Beira Baixa é manifestamente de 20 kilometros. Estes dados não se podem refutar.

O sr. Eça partiu do ponto de que a linha de Madrid para Bayona passaria por Soria, quando a opinião dos engenheiros hespanhoes é que deve seguir directamente de Baides para Castelon, cujo encurtamento dá a differença que apresentei á camara.

Se esta linha é mais curta da que segue a transversal de Malpartida a Salamanca, muito mais curta é ainda, como já tive occasião d’aqui demonstrar.

O sr. Lourenço de Carvalho, assim como foi excessivo no amor que tinha ao caminho de ferro da Beira Baixa, tambem é excessivo no odio que lhe votou, nem mesmo o quer já com o epitheto de caminho de forro caseiro, que s. exa. dera noutros tempos ao caminho de ferro da Beira Alta.

Não admiro, nem me devo admirar d’estas mudanças de opinião, quando vejo o caminho de ferro do Douro, que era o caminho de ferro predilecto de s. exa. tambem sacrificado pelo illustre ministro ao da Beira Alta.

Digo sacrificado, porque a Hespanha preferia a ligação antes com a linha do Douro.

Tudo isto, sr. presidente, succede, e é resultado de não haver em Portugal um plano geral de linhas ferreas, e de não estar estudada com antecipação uma rede de caminhos de ferro a que fossem subordinadas todas as construcções de linhas ferreas. Como nós não temos trabalho algum d’esta ordem, aproveitemos o plano que existe a este respeito, feito por uma commissão de engenheiros hespanhoes, e é esse plano que tem servido para os trabalhos dos nossos engenheiros. N’esse mesmo plano marca-se o entroncamento das linhas ferreas hespanholas com as de Portugal, e como principalmente o seu objectivo era Porto e Lisboa, satisfazia ao Porto a linha de Salamanca, entroncando com a do Douro, e a Lisboa a de Malpartida, entroncando com a que seguisse do Abrantes a Monfortinho, considerando esta linha como a mais importante, a principal, e a linha internacional.

Em Hespanha nunca se pensou na ligação com Lisboa o Porto pela Beira Alta, e no plano a que me referi não se estabeleceu essa hypothese. Só agora, a instancias do governo portuguez, é que o governo hespanhol mandou estudar a directriz para um caminho de ferro que, de Salamanca por Cidade Rodrigo, venha entroncar com o caminho de ferro estudado pelo sr. Eça.

Sr. presidente, eu desejava desenvolver muito mais esta questão, mas não quero cansar a camara, e muito principalmente sabendo, como sei, que o resultado de todos os meus esforços será sempre o mesmo, infructifero o inutil, porque emquanto este governo estiver no poder, o caminho de ferro da Beira Baixa não se fará, não porque faltem rasões de justiça e de conveniencia publica a aconselharem a sua construccão, mas porque eu que o defendo, faço opposição ao actual gabinete, e a companhia do caminho de ferro do norte e lesto não o quer.

Sr. presidente, antes de conclui: as minhas considerações, não deixarei passar sem reparo a defeza do sr. ministro das obras publicas a favor do sr. presidente do conselho.

As suas considerações para justificar o sr. presidente do conselho pelas declarações que fez a respeito do ponto do entroncamento do caminho de ferro da Beira Alta, responderei com os trechos do discurso do sr. Fontes, que li já á camara por duas vezes, e que estão em contradicção manifesta com as notas diplomaticas de que dei tambem conhecimento á camara, e que é escudado estar c, repetir.

As apreciações do sr. ministro das obras publicas não justificam de modo algum o sr. Fontes, porque mais alto do que todas as apreciações do s. exa. fallam os documentos que aqui tenho, e que dizem que a difficuldade que havia relativamente ao caminho de torro da Beira Baixa era a mesma que havia com relação ao caminho do ferro da Beira Alta, e ao mesmo tempo que não se dava approvação ao ponto de entroncamento do caminho de ferro da Beira Baixa, tambem não se dava ao ponto de entroncamento do caminho do forro da Beira Alta, porque o governo hespanhol tinha determinado mandar estudar as variantes do Salamanca por Fregeneda para entroncar com a linha do Douro o a de Malpartida por Caceres a entroncai1 com a linha de leste.

Quer dizer isto que as circunstancias que se davam, no que toca ao entroncamento das duas linhas, eram iguaes, e portanto é injustificavel a declaração do sr. presidente do conselho, que para justificar o seu procedimento do não ter posto a concurso o caminho de forro da Beira Baixa, atirava a responsabilidade e a culpa ao governo hespanhol por ter mandado estudar a variante. Esta declaração serviu para afastar as minhas insistencias, porque acreditei ser verdadeira. Fui porém illudido e foi tambem illudida a camara. O sr. Lourenço de Carvalho collocou-se pois n’um terreno muito escorregadio, não só na defeza da sua pessoa, mas na do seu collega, e sobretudo tornando-se, de campeão denodado que foi da construccão da linha da Beira Baixa, em denodado defensor do caminho do forro da Beira Alta. O sr. Lourenço do Carvalho converteu-se por tal fórma era defensor d1 esta linha, que chegou até ao