O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

284

effeituadas menos por ordem dos Governos, do que pelo ardente amor dos homens que se consagram a taes expedições; e por isso considera que este naturalista se offerece movido pelo mesmo sentimento que infunde o amor da sciencia, o que lhe faz crer a elle Orador que nenhuma occasião mais propicia se podia offerecer para se realisar uma expedição scientifica, de maxima utilidade para as descubertas scientificas, embora se fizessem maiores despezas, porque a economia não está em gastar pouco, mas em gastar bem, e com proveito (Apoiado»). Tambem entende que se deve aproveitar esta occasião para se lhe darem companheiros que aprendam a praticar, pois ha mancebos, que estão no caso de irem aprender, e a quem se devem dar incentivos; podendo agregar-se-lhe tres ou quatro habilitados em sciencias naturaes para se exercitarem nestas explorações; pois está convencido que os conhecimentos deste naturalista abrangem mais de um ramo. — Mas quando vi que por este 1.º artigo se lhe offerece a modica quantia de 200$000 réis por mez para entrar nos sertões de Angola, e 1:200$000 réis de uma vez para preparativos de defeza, não póde deixar de esmorecer; embora se diga que 4 o que elle pede, porque póde ser que esse mesmo enthusiasmo que o anima lhe apresente facilidades, que na pratica veja depois contrariadas.

O X. Par chama em apoio disto o que se vi nessas Memorias, algumas das quaes o Sr. Ministro ha-de ter nos Archivos da sua Repartição, e outras tem sido publicadas, onde se mostra quanto são custosas essas viagens pelo centro de Angola, ainda quando se passa apenas de um a outro Districto dos Sovas nossos tributários; concluindo-se disto que se se conta só com a sustentação do um homem, e alguns escravos a quantia póde ser sufficiente, mas se se conta igualmente com os transportes que tem de ser feitos á cabeça de negros, e muitos outros preparativos indispensaveis então não chega a nada.

O N. Orador louva tudo quanto ha de patriotico no pensamento deste Projecto; mas sem meios sufficientes nunca se tiram os resultados que se pretendem. Sempre intendeu que é mais economico gastar mais com maior proveito, do que gastar menos sem utilidade alguma. De toda a parte se ouve que a Africa está cheia de minas de cobre, de ouro (que se não pense por isso que espera achar alli outra Califórnia, tomára elle Orador duas minas de carvão, e boas), e de muitos outros productos, que se escondem ás observações de naturalista, nos territorios pertencentes á Corôa de Portugal, e que valem a pena de ser explorados, mas com os meios que sejam sufficientes para se tirarem resultados destas emprezas.

São estas as reflexões que lhe suggeriu a leitura rapida que agora fez do Projecto porque só agora o viu pela primeira vez. -

O Sr. C. de Lavradio...

O Sr. Ministro da Marinha — Estimo muito ver que os D. Pares, que tem fallado neste Projecto, dão ás nossas Possessões a mesma importancia que me merecem, por me persuadir que nellas está a restauração da nossa marinha (Apoiados). Limitando-me a fallar sobre a extensão que os D. Pares intendem dever dar-se a este Projecto, direi que o Governo tendo encontrado este naturalista, que se propõe a explorar a Provincia de Angola, e não o podendo fazer acompanhar da outras pessoas competentes que o auxiliassem nos seus trabalho, apesar das diligencias que para os se fiz, julguei que era preferivel aproveitar os seus serviços, a não fazer cousa alguma; porque affirmo a V. Em.ª e á Camara que não tem sido possivel estabelecer concorrencia a este respeito, havendo alguns que se propunham a isso, exigido, como já disse, vantagens de tal ordem que não podiam conceder-se, até mesmo para evitar a má impressão de fazer acompanhar este naturalista, cujo talento é conhecido, por pessoas que fossem aprender com elle, e que recebessem por isso maiores vantagens do que as que elle exige.

Disse o D. Par, que primeiro fallou, que era insignificante a quantia de 1:200$000 réis, porque esta somma não chegava para as muitas despezas que este naturalista deve fazer, por ter de se acompanhar nas suas excursões com tropa, e subsistencias que tem de ser levadas por carregadores. A isto só tenho a dizer que estas quantias foram combinadas com o mesmo naturalista que declarou contentar-se com 200$000 réis mensaes, e que podia comprar os objectos necessarios para esta expedição com 1:200$000 réis, no que não se inclue as despezas que tem a fazer nas suas excursões, porque essas são á custa da Provincia, assim como a da força que tem de o acompanhar. Parece-me que com esta explicação tenho satisfeito a duvida que o D. Par apresentou, que estando as disposições deste Projecto de accôrdo com os desejos do naturalista que tem de ir nesta expedição, se deve pôr em pratica este ensaio.

Vozes: — Votos, votos.

O Sr. Fonseca Magalhães — Ainda repete que louva o pensamento deste projecto e o seu intuito; mas quando declarou que achava mui exiguos os meios que se propunham para despezas preparatorias, teve em vista a conveniencia de fazer acompanhar este Naturalista por alumnos das escólas da sciencia, e de mais alguns homens habeis na cosmographia, e geographo, que determinassem a situação de certas localidades, o que ainda está por fazer; deste modo se pratica em toda a parte onde se mandam expedições scientificas, nas quaes vão sempre homens de diversas profissões, que simultaneamente se entregam aos estudos que lhes são proprios, e que depois se reunem n'um só escripto, e que contem todas as descubertas e os pontos mais interessantes da expedição.

Lamenta S. Ex.ª que nada disto se possa fazer neste caso, pois parece que é exclusivamente botanica esta expedição; e como o Sr. Ministro diz que não achou ninguem que quizesse acompanhar este bombom (o que só se deve dizer baixinho), não ha remedio senão acceitar o que aqui está, e

correr o risco de não fazer muito para não deixar de fazer-se alguma cousa: com tudo parece-lhe que o Governo poderia obrigar alguns alumnos do Ultramar, que frequentam as escólas á custa do Estado, a acompanharem esta expedição.

O Sr. C. de Lavradio....

O Sr. V. se Fonte Arcada — Deseja que o Sr. Ministro lhe diga se os trabalhos feitos por este naturalista ficam pertencendo ao Governo Portuguez; quer dizer se elle se julga obrigado a pão empregar em utilidade sua particular, ou em dar conhecimento a Governos estranhos das descubertas e estudos que fizer, servindo-se das commodidades que lhe proporciona e facilidades que lhe dá o Governo Portuguez. Ainda que esta pergunta devesse talvez ser feita durante a discussão na generalidade, o N. Orador não duvida apresenta-la agora porque importa uma segurança que muito conviria que entrasse no contracto que se haja de fazer com este naturalista, se é que algum contracto se quer fazer com elle.

O Sr. C. de Lavradio....

O Sr. Fonseca Magalhães — Não suppõe que possa haver o perigo que o Sr. Visconde imagina, porque não entende que resultasse mal algum para a sciencia de que se publicassem quaesquer descubertas, assim como não pensa que Portugal queira fazer dellas monopolio.

S. Ex.ª não acha inconveniente nenhum em que, se este naturalista houver guardado para si o duplicado de qualquer exemplar de plantas, ou de quaesquer productos que descubra os publique depois. E pensa assim, porque entende que aqui ha dois interesses: o da sciencia, que lucra sempre nessas descubertas em qualquer paiz que tenham logar, porque a sciencia não pertence a nenhum exclusivamente; a o outro interesse, que é propriamente nosso, o de sermos informados do muito que nos falta para saber do que temos nas nossas possessões; e esse interesse tambem não fica prejudicado.

O que ha a temer é que se este homem faltar se percam todos os seus trabalhos, e que depois desta despeza fiquemos na mesma ignorancia em que estavamos anteriormente; e para prevenir isso do modo possivel é que S. Ex.ª manifestou desejos de que na companhia delle vão homens que não só sejam capazes de o ajudar na sua expedição, e torna-la mais proveitosa em mais alguns ramos de sciencia; mas que tambem possam salvar as suas collecções no caso de algum desastre.

A proposito disto, o N. Orador propõe como duvida, avista da declaração que fez o Sr. Ministro, de haver proposto a alguns individuo! habilitados acompanharem esta expedição, ao que elles não quizeram acceder; se mantendo o Governo, como lhe parece que mantem, á custa do Estado (Vozes — É verdade) alguns estudantes, que seguem diversos cursos de sciencias naturaes; é licito a esses, individuos depois de habilitados á custa do Estado, recusarem taes commissões.

À vista destas recusas não póde S. Ex.ª deixar de lembrar-se dos frades com certa saudade.; porque esses recebiam ordens de seus superiores, e partiam a cumpril-as com obediencia e resignação, e muitas vezes sabiam que iam entregar-se á morte: e agora vê que, acabados os frades, acabaram para nos os instrumentos da civilisação dos povos africanos, em que as ordens religiosas tanto serviço prestaram (Riso).

Concluida a discussão, foi approvado o artigo 1.º

Os artigos 2.º, 3.º e 4.º foram approvados som discussão.

Tambem foi approvada a redacção do Projecto.

O Sr. Presidente — Observando que estava esgotada a Ordem do dia, e que não havia mais pareceres impressos que podessem ser dados para Ordem do dia; porque o do negocio do Alfeite deve esperar pela impressão, que hoje se requereu, da escriptura do Contracto do Sr. D. d» Saldanha; designou o sabbado (8) para ter logar a seguinte Sessão, sendo, a Ordem do dia, leitura de Pareceres de Commissões, e levantou a Sessão depois das 4 horas da tarde.

Relação dos D. Pares que estiveram presentes na Sessão de 6 de Marco corrente.

Os Srs. Cardeal Patriarcha, D. de Saldanha, D. da Terceira, M. de Castello Melhor, M. de Fronteira, M. de Loulé, M. de Ponte de Lima, Arcebispo de Evora, C. das Alcaçovas, C das Antas, C. do Bomfim, C. do Ferreira, C. de Ferreira, C. de Lavradio, C. de Linhares, C. de Penafiel, C. de Porto Côvo de Bandeira, C. de Rio Maior, C. de Semodães, C. da Taipa, C. de Thomar, Bispo de Beja, Bispo de Lamego, Bispo de Vizeu, V. de Algés, V. de Benagazil, V. de Campanhã, V. de. Castellões, V. de Castro, V. de Fonte Arcada, V. de Fonte Nova, V. de Gouvêa, V. da Granja, V. de Laborim, V. de Oliveira, B. de Monte Pedral, B. da Vargem da Ordem, Pereira de Magalhães, Margiochi, Tavares de Almeida, Silva Carvalho, Albergaria Freire, Duarte Leitão, Serpa Machado, Fonseca Magalhães, e Mello Breyner.