O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

366 DIARIO DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO

publicanos convictos, e mais exaltados do que o dr. Alves Moreira: nomeou lente da faculdade de direito da universidade o doutor... Se s. exa. lhe dissesse o nome...

O sr. Ministro do Reino (Franco Castello Branco): — Dr. Affonso Costa; sei o nome que v. exa. me pergunta, porque o li no Correio da noite.

O Orador: — E nomeou o professor do lyceu Gonçalves. Portanto, de duas uma: ou o dr. Alves Moreira já devia estar nomeado; ou, se .é inconveniente a sua permanencia na universidade e merece castigo por fazer no ensino propaganda republicana, nem como substituto lá deve estar.

E sobre este assumpto mais nada dirá por agora, aguardando a resposta do sr. ministro do reino.

Dirije-se agora ao sr. ministro da marinha e do ultramar. Deseja chamar a attenção de s. exa. para assumptos importantissimos, como são todos os que dizem respeito ás nossas colonias.

Na provincia de Angola, a nossa mais florescente possessão ultramarina actualmente, estão-se passando factos graves, segundo lhe consta. .. Custa-lhe a dizel-o, mas é preciso dizer tudo: ha quem attribua esses factos á inépcia, e á corrupção até, de meia duzia de empregados. Citam-se factos que podem comprometter o futuro dos nossos interesses na Africa, occidental, e esses factos ligam-se com a occupação da Lunda.

Não faz politica, e por isso dirá que o actual ministro da marinha não tem responsabilidade pessoal na organisação da expedição nem na nomeação do respectivo pessoal, embora s. exa. ao entrar para o ministerio acceitasse a responsabilidade dos seus collegas que, como ministros, eram solidarios n’essa occasião.

Todos sabem que ha solidariedade e solidariedade, e, digam o que disserem, o facto é que o nobre ministro da marinha não organisou a expedição nem nomeou o pessoal, de modo que está desembaraçado para proceder com toda a energia.

A expedição da Lunda está custando rios de dinheiro. Sabe de fonte auctorisada que já está em 200 contos de réis, havendo requisições do commandante da expedição, não só para o governo de Angola como para o governo da metropole que, se forem satisfeitas, excederão 200 contos de réis.

Pergunta ao sr. ministro da marinha:

São precisos tantos sacrificios para a occupação da Lunda?

É este o ponto capital.

Não será a expedição actualmente organisada, debaixo do commando que tem, uma expedição de especulação espectaculosa para servir interesses particulares com os quaes se arruina o thesouro e abate o prestigio da nação?

Julga que não erra se affirmar que sim, e é para este ponto que chama principalmente a attenção do sr. ministro da marinha.

Antes dos jornaes se referirem a esta questão, elle já tinha, como disse, apontamentos de fonte auctorisada como o póde provar.

A maneira como foi organisada a expedição é phantastica; o preço de varies objectos é extraordinario. A historia dos pantometros, a que se refere o Correio da noite, é verdadeira. Vendera-se ha casa Ferin a 3 e 4 libras, e foram adquiridos a sessenta e setenta e tantos mil réis.

Os carros para 03 transportes a mesma cousa, por grandes preços.

Despezas com carregadores 75 contos de réis, fugindo a maior parte d’elles com as mercadorias.

Diz-se que ha uma especie de circulo vicioso. Os carregadores fogem com as mercadorias e vão, segundo se diz, vendel-as ás feitorias proximas ao itinerario da expedição; mas como é preciso fazer novos fornecimentos, essas mesmas mercadorias tornam a ser compradas e, portanto, são pagas pelo estado duas vezes, pelo menos.

De maneira que ha uma certa combinação entre alguem do pessoal da expedição e os donos das feitorias; porque os carregadores nunca são apanhados, e na expedição ha parentes até dos donos de algumas feitorias.

Isto é gravissimo, e pede ao, sr. ministro da marinha que indague sobre a veracidade d’estes boatos e ponha termo a todos os abusos que existem, pois não se póde consentir que os interesses da nação estejam á mercê de quaesquer especuladores.

E para que é que a expedição foi tão longe, a pontos tão afastados do nucleo do novo districto?

Para que se gastou tanto com o caminho de ferro e com transportes por meio de carregadores?

Muitas cousas mais poderia mencionar,, mas parecer-lhe que estas são bastante para merecerem a attenção e zêlo do sr. ministro.

Não gosta de fazer mal a ninguem, mas no desempenho da sua missão de membro do parlamento, tem o dever de pugnar pelos interesses do estado e da nação, não podendo, portanto, deixar de ser, por vezes, desagradavel a alguem.

Cumpre um dever, portanto, aconselhando o sr. ministro a investigar aonde está o busilis.

Duzentos e tantos contos que se gastaram já com a occupação da Lunda, esses não podem voltar, mas póde-se evitar o desperdicio de mais 200 ou 300.

O actual chefe do districto, que já tinha estado na Lunda, publicou cinco ou seis volumes, quando voltou á Europa, todos encarecendo os seus serviços. Dizia que tinha lá tudo preparado para o bom exito, e fazia valer a sua influencia ali mais do que a do sr. João Franco em Guimarães.

Tinha removido todos os obstaculos para que ali nos instalássemos. Foi para lá á frente d’esta expedição, e está-se vendo o contrario.

Tudo isto está reclamando seriamente a solicitude do sr. ministro da marinha. Espero da sua energia e do seu caracter que alguma cousa faça em bem do paiz. S. exa. é um homem novo, tem futuro, não deve querer passar por essas cadeiras, como tantos outros, sem nada ter feito de util, nem de bom.

Seja s. exa. recto e energico e terá prestado um serviço ao seu paiz.

Visto que está com a palavra, permitta-lhe s. exa. que lhe peça que mande a esta camara, com a maxima urgencia, os documentos que pediu pelo ministerio da marinha, ha já bastante tempo, o relatorio do sr. visconde de Villa Nova de Ourem, quando governador geral da India, e ainda outros documentos que requereu ha cinco ou seis dias, relativos á compra do Thermopylas e de outros navios.

Não ha aqui senão dois ou tres benemeritos da opposição, portanto não é justo que não satisfaçam esses requerimentos.

Quer ser amigo do governo, não se quer zangar, mas hão de fazer-lhe as vontades e mandar-lhe os documentos.

Com respeito á nomeação do sr. Neves Ferreira deseja perguntar a s. exa. se effectivamente o sr. Neves Ferreira foi para a Índia unicamente para fazer um tratado de extradição e delimitação de fronteiras com o governo da India ingleza, e n’este caso nada tem a dizer, porque isso corre pelo ministerio dos negocios estrangeiros, ou se é verdade o que por ahi se diz que o sr. Neves Ferreira foi com o fim de substituir o Serenissimo Senhor Infante D. Affonso no governo da India.

É isto o que desejava saber, reservando o direito de fazer quaesquer outras considerações na occasião que julgar mais opportuna.