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truido por um acto nosso. Esse facto só poderia ser justificado por circumstancias excepcionaes, por um grande perigo para as instituições, ou pela violação dos mais altos interesses do estado, e não me parece, que nem uma nem outra d'essas hypotheses se dê agora.

Insisto portanto na necessidade de se approvar a minha moção, e sinto ter de rejeitar a proposta do digno par que me precedeu, embora me pareça que o pensamento, que a ditou, foi justamente aquelle que presidiu á redacção da minha; mas s. ex.ª entrou em considerações, que podem dar logar a equivocos, que eu evito na minha proposta.

Mando para mesa a minha moção, e peço a V. ex.ª que me inscreva para a defender no caso de ella ser combatida.

Antes de terminar o meu breve discurso e de ler a minha moção, direi duas palavras de explicação sobre as minhas idéas politicas, já que dois distinctos oradores mencionaram a minha humilde pessoa com referencia a partidos.

Eu vivo ha tres annos longe do parlamento e estranho ás lutas parlamentares. Voltei a elle no começo da presente legislatura. Os governos rebaptisam-se, para assim dizer, com estas renovações parlamentares, e inauguram em cada uma dellas uma serie de medidas e propostas homogeneas, que devem exprimir o seu pensamento politico, administrativo e economico. Foi por isso que eu disse na primeira reunião particular da camara, para que fui convocado, que apoiaria o governo naquellas medidas que julgasse tendentes ao bem do paiz, e que lhe não faria opposição politica se apresentasse as propostas e reformas que as necessidades publicas urgentemente reclamam; e que pelo contrario lhe negaria o meu voto se no meio d’essas necessidades palpitantes se conservasse na inercia.

O mesmo repito hoje, sou liberal e progressista, mas para mim a questão politica é de pouca importancia, quando os partidos se não distanceiam nos principios, mas quasi que só nas pessoas, nos caprichos, nas ambições, nas idéas. Eu quando olho para as cadeiras dos srs. ministros não me importo com as pessoas, mas com os actos. Nunca lhes perguntarei d'onde vem, mas sim para onde caminham.

Estas divergencias politicas do nosso paiz, não se estribando em dogmas encontrados, acabarão facilmente pela união dos caracteres honestos, sisudos e respeitaveis de todas as parcialidades. O dia em que esta fusão se realise, em que se constitua o grande partido nacional, todo liberal e progressista, em que todos se desprendam das ambições, dos odios, dos preconceitos, dos corrilhos e dos poderes occultos; esse dia marcará a mais brilhante pagina da nossa historia constitucional. Esta fusão póde depender de bem pouco. E mister que os homens eminentes de todos os partidos não queiram pleitear primasias e competências sobre quem ha de dar o primeiro abraço (apoiados).

São estas as minhas idéas politicas. Sou liberal e progressista, mas primeiro que tudo sou portuguez. A nossa familia é pequena, precisa de caminhar unida. Carecemos de amplas reformas desde a nossa organisação constitucional e parlamentar até ás mais Ínfimas molas da administração publica. Só a união faz a força; só ella póde realisar estas reformas.

Releve-me a camara estas explicações, que são filhas da minha dignidade pessoal. E sem abusar mais da benevolencia com que fui escutado, vou ler e enviar para a mesa a minha moção.

É do teor seguinte:

PROPOSTA

A camara dos pares respeitando as prerogativas da corôa, e em harmonia com a sua indole conservadora e com as praxes e condições contitucionaes proprias do seu intuito, abstem-se de qualificar o facto consumado da organisação do actual ministerio, e de entrar por esta occasião no exame da sua politica; reserva-se para apreciar com toda a imparcialidade as propostas e medidas de governação publica que lhe forem pelo mesmo apresentadas, é passa á ordem do dia. = Visconde de Gouveia.

O sr. Conde d'Avila: — Eu tinha tenção de mandar para a mesa uma moção que era rigorosamente uma emenda á proposta apresentada pelo digno par, o sr. Rebello da Silva, e quando ouvi as considerações expostas pelo digno par, o sr. visconde de Gouveia, pareceu-me que s. ex.ª estava de accordo commigo, e que as idéas que eu havia consignado na minha moção eram justamente as da moção que o digno par promettia mandar para a mesa; a leitura d'essa moção manifestou-me porém que não ha completo accordo entre nós; porque me parece que se póde derivar da doutrina sustentada pelo digno par, que esta camara não tem o direito de indagar quaes foram as circumstancias que se deram com a organisação d'este ou qualquer outro ministerio, e expor a sua opinião a este respeito, e eu entendo que a camara não deve estabelecer principio algum que possa pôr em duvida esta prerogativa, embora me pareça que não é esta a occasião em que a deva exercer. Eu leio a minha proposta, que em todo caso é mais simples, e não póde dar pretexto a nenhum equivoco. Depois direi algumas palavras para a justificar.

O sr. Vaz Preto: = Peço a palavra para um requerimento.

O Orador: — Eu não sei se o digno par pede a palavra para pedir que se feche a discussão, e se é para isso, eu devo declarar-lhe que não tem mais vontade do que eu, de que se acabe esta discussão o mais breve possivel.

E do teor seguinte:

PROPOSTA

A camara, acatando as prerogativas da corôa e aguardando os actos dos srs. ministros, passa á ordem do dia. = Conde d'Avila.

O sr. Vaz Preto: — O meu requerimento tem por fim pedir a V. ex.ª que consulte a camara sobre se entende que se deve prorogar a sessão até que se feche este debate, por isso que é muito natural que ámanhã não tenhamos sessão, e não a havendo fica a discussão cortada pelo dia de ámanhã, demorando-se assim muito mais a resolução d'esta questão. O digno par o sr. conde d'Avila ainda ha pouco fez ver a necessidade que ha de acabarmos quanto antes com a discussão que nos occupa, e eu, de accordo com os desejos de s. ex.ª, não posso deixar de manifestar os mesmos sentimentos e pedir que, prorogando-se a sessão, deligencie-mos por que o debate tenha hoje fim n'esta casa (apoiados).

O sr. S. J. de Carvalho: — Peço a palavra sobre este requerimento.

O sr. Presidente: — Não esta em uso haver discussão sobre requerimentos.

O sr. S. J. de Carvalho: — Mas o requerimento não foi formulado.

O sr. Osorio Cabral: — Pedia a palavra sobre o modo de votar.

O sr. Presidente: — Tem a palavra.

O sr. Osorio Cabral: — Eu pedia que a votação fosse nominal, e por esta occasião lembrarei a V. ex.ª e á camara a conveniencia de se manter uma deliberação que foi aqui tomada, em consequencia dos auctorisados votos dos dignos pares conde d’Avila, conde de Thomar, e muitos outros cavalheiros, para que a sessão não possa ser prorogada durante a noite. V. ex.ª, que presidiu a essa sessão, ha de seguramente estar lembrado d'esta resolução que a camara tomou.

Vozes: — Votos, votos.

O sr. Visconde de Gouveia: — Eu desejava que V. ex.ª me dissesse se ámanhã poderá haver sessão. Como não ha camara dos senhores deputados, podemos ter uma sessão mais ampla.

Vozes: — Votos, votos.

O sr. Ministro do Reino (Marquez de Sabugosa): — Devo participar á camara que Sua Magestade ámanhã, pela uma hora da tarde, ha de receber a deputação que lhe for enviada por esta camara, e que tem de apresentar ao augusto monarcha os authographos das côrtes geraes.

O sr. Presidente: — Vou consultar acamara sobre se entende que a votação sobre o requerimento do sr. Vaz Preto seja nominal.

A camara decidiu negativamente.

O sr. Presidente: — Agora consultarei a camara sobre se entende que a sessão seja prorogada até se votar esta questão.

Tambem a camara votou em sentido contrario.

O sr. Conde de Thomar: — Teve má sorte em lhe caber a palavra, depois de ter a camara ouvido os discursos de dois distinctos oradores; tendo-se o primeiro elevado á altura, que é propria do grande talento e habilidade parlamentar, que tanto o distingue; em lhe caber tambem a palavra depois de ser apresentado um requerimento, que tinha por fim apressar o debate, que occupa, actualmente, a camara. Se vae usar da palavra é animado pela decisão da camara, rejeitando aquelle requerimento; e porque o fim não é fazer um longo discurso; mas dar explicações que, demonstrando a sua opinião sobre o objecto que se discute, façam ao mesmo tempo conhecer claramente a sua especial posição, e a do partido conservador, a que tem a honra de pertencer.

Tem a questão sido tratada por dois lados: pelo lado das regras e principios constitucionaes; e pelo lado das conveniencias publicas, e decoro politico, a que se diz ter faltado o sr. presidente do conselho, especialmente encarregado da organisação do ministerio.

Não tem duvida em declarar que não julga offendidas nem as regras nem os principios constitucionaes, na organisação do ministerio, e tirará, portanto, a conclusão de que o sr. presidente do conselho, e os seus collegas, occupam constitucionalmente os seus logares. Sente porém não poder deixar de sustentar que os meios empregados para chegar áquelle resultado, estão em opposição com as conveniencias publicas e com o decoro politico: que esta decidido a dirigir algumas preguntas ao sr. presidente do conselho, e que ha de sentir muito ser obrigado a votar uma censura, se as respostas não forem cabaes e satisfactorias.

O orador pede licença á camara para fazer algumas considerações, que demonstrando qual é a sua posição especial na camara sirvam, ao mesmo tempo, de resposta ás aggressões e expressões, pouco cortezes, com que por mais de uma vez tem sido tratado o partido conservador; sente que se tenha por mais de uma vez fallado, com desprezo, de um partido que vive dos seus principios, que não renega, nem ha de renegar, o credo de um partido que em toda a parte tem sido aproveitado, e tem acompanhado a marcha da civilisação e do progresso, mostrando, muito embora, mais prudencia e timidez, e menos arrojo, que os partidos revolucionarios. Que se não querem cerrar os olhos lancem as suas vistas sobre o que se tem passado, e esta passando, nos paizes estrangeiros, e especialmente na Italia. Vejam como esse grande estadista, tão admirado em todo o mundo," tão respeitado no seu paiz, e tantas vezes citado, como digno exemplo, entre nós pelo partido progressista, querendo levantar o Piemonte do estado de abatimento em que ficou depois da batalha de Novara, por um golpe de mestre, dado e executado, primeiro no parlamento, e transmittido depois a todo o paiz, reuniu o partido conservador com o partido da revolução; por outra, reuniu a prudencia e a reflexão com a audacia e o arrojo.

O orador chamou a attenção da camara sobre os grandes resultados que nasceram para a Italia deste connubio politico, como lhe chama o distincto escriptor que descreve os meios por que o estadista italiano principiou a sua grande obra.

Sente, portanto que, debaixo dos tectos em que falla, se tenha tão injustamente aggredido o partido conservador, e sente, ainda mais que, se aproveitasse a occasião da sua presença aos debates parlamentares para se fallar, quasi, com desprezo do seu partido. Como todos sabem, o partido conservador não tem a responsabilidade da governança do paiz desde 1851; sujeitou-se, nem podia deixar de sujeitar-se, á conquista que d'essa governança fez o partido progressista, promettendo remediar os males que pesavam sobre a nação, diminuir os pesados encargos que o povo não podia pagar, substituir a moralidade á corrupção, e substituir por fim a verdade da carta e dos principios liberaes ao sophisma. O partido conservador mantem-se estranho aos debates que appareceram no centro da familia progressista, quando se trata da divisão da herança. O partido conservador não faz exprobações nem comparações, e ouve, tranquillo, essas accusações de immoralidade e corrupção, e a violação das regras e principios constitucionaes, que os homens mais distinctos, e os caracteres mais eminentes do partido progressista se arrojam uns aos outros, accusando-se mutuamente das maiores immoralidades e da prostergação de todos os principios constitucionaes (muitos apoiados).

O partido conservador ouve tranquillo, e admira, como os oradores mais distinctos do partido progressista, defensores hontem do liberalismo, merecimento e virtudes dos homens que estão no ministerio, e especialmente do sr. presidente do conselho, no dia seguinte os arrojam ao cêno!... (Muitos apoiados.)

Pergunta o orador, qual é a causa d'esta dissidencia, e exclama: «Será a dissidencia dos principios? Não: que esta nem apparentemente se mostra. Qual é então o motivo de tão grandes dissidências? E seguramente a parte que devem ter na partilha da herança.» Pois bem, seguindo o pensamento do conde de Cavour não pedirá parte da herança para o partido conservador, mas pedirá, em nome da patria, ao partido progressista, que acabe com as scenas que se estão passando no parlamento portuguez, e que terão, como resultado necessario, o descredito commum aos homens importantes do partido progressista. Unam-se portanto, e dividam entre si o poder, trabalhando todos para salvar o paiz da situação difficil, a que o têem levado.

O orador passou a descrever o estado em que se acham actualmente os partidos politicos do paiz — e acrescentou: «Convençam-se todos de que, actualmente, entre nós não ha partido politico algum que tenha em si os elementos necessarios para a boa governação do paiz. Enganam-se aquelles que os consideram no governo, enganam-se aquelles, que os imaginam em qualquer das fracções politicas, que militam na opposição contra o governo (muitos apoiados).

O orador, levado d'estas idéas, e do pensamento da união dos homens eminentes do partido progressista, continuou dizendo que se preparava para fazer um elogio ao sr. duque de Loulé, quando foi informado de que s. ex.ª se dirigira ao digno par, o sr. Joaquim Antonio de Aguiar, para com elle combinar a organisação do ministerio. Na união do sr. duque de Loulé, acompanhado de alguns dos seus amigos serios e intelligentes, que os tem no seu partido, com o sr. Joaquim Antonio de Aguiar, acompanhado de homens serios e intelligentes, que pertencem á fracção politica, de que é chefe descobria elle, orador, a resolução do problema para se constituir um gabinete, que estivesse na altura de poder tratar as altas questões do estado, e resolver as grandes difficuldades, em que se encontra o paiz. Que ficára porém surprehendido, e desistira do seu proposito, quando, em uma das sessões passadas, ouvira a explicação dada pelo sr. presidente do conselho á accusação, que lhe fôra feita, de que tinha pretendido partilhar com a opposição progressista o poder e a governança do estado. Dissera s. ex.ª que tinha, é verdade, procurado o digno par o sr. Aguiar, não como membro da opposição, mas unicamente com o fim de aceitar, o digno par, uma pasta no actual gabinete. Assim não foi o sr. presidente do conselho procurar o sr. Aguiar levado do pensamento da união do partido progressista: por outra, o nobre presidente do conselho quiz praticar um rapto politico na pessoa do sr. Joaquim Antonio de Aguiar. Este 'procedimento é digno da maior censura; não é digno, nem da pessoa que o praticou, nem do individuo a quem diz respeito (muitos apoiados). O digno par o sr. Aguiar pediu já a palavra, e ha de seguramente reivindicar a sua honra, que foi, sem duvida, ultrajada, se o pensamento do sr. duque de Loulé foi aquelle, que se colhe da sua explicação.

O orador pede licença para explicar um áparte que fez, quando fallára o distincto orador o sr. Sebastião José de Carvalho. Tinha o digno par dito: «Que o sr. duque de Loulé, reconhecendo a impossibilidade de organisar o gabinete, se dirigira ao presidente da opposição.» O áparte d'elle orador fora presidente de parte da opposição — Passa a explicar a rasão do seu áparte. A camara dos dignos pares esta dividida em differentes fracções politicas. Não se occupando da fracção ministerial dirá, que a opposição se compõe de pares, que pretencem ao partido progressista, e d'esta lhe parece ser chefe o sr. Aguiar; de pares que recebem as inspirações do sr. marquez de Niza; de pares que se consideram soldados fieis do antigo partido cartista, hoje denominado conservador; e de pares que, sem estarem filiados em nenhum d'estes grupos, votam com a independencia de que são capazes (o sr. marquez de Ficalho: — Apoiado). Estas fracções politicas, com principios politicos a certos respeitos differentes, votam livremente, mas encontram-se, por vezes, votando unidas em opposição ao governo: não tem presidente commum, nem reconhecem o sr. Aguiar como o presidente da opposição.

Quando assim falla, não tem o pensamento de irrogar a menor censura, ou levar a menor desconsideração á pessoa do sr. Aguiar: antes, pelo contrario, em vista do que já disse, e do que agora declara, considera o sr. Aguiar não só digno de formar parte de uma administração, mas de ser chefe de uma situação. A tanto lhe dão direito as suas qualidades, como homem publico e particular (muitos apoia-