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DIARIO DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO

O sr. Marquez de Ficalho: - Fallar em paz, quando tudo convida á guerra; fallar da ordem, quando a desordem é a ordem do dia; é uma missão dificultosa, mas eu não posso ter outra. Pela minha idade, pela minha experiencia, sei que calamidade é a guerra e a desordem.

Sr. presidente, o que vemos significa o resultado das nossas querellas de uns contra outros.

"A culpa é sua, a culpa é vossa." Com estas fataes palavras e, de mais a mais, debaixo de uma pressão terrivel do espirito destruidor, tudo desapparece. A força tão necessaria para a vida, quem a tem? Tem-na o governo? Duvido. Tem-na a opposição? Receio. Tem-na o parlamente? Alem de tudo, dividiram esta camara ao meio, em duas metades. O lado que tiver quatro doentes, esse lado é a minoria.

Se fosse remedio, eu fazia uma confissão, e verdadeira: A culpa é minha, a culpa é de todos.

E, n'esta confusão, pergunta o sr. Carlos Bento se o deficit morre ou vive?

Pergunta e ninguem lhe responde; mas respondo eu hoje.

Não morre, porque se nutre com estas desintelligencias.

Com felicidade só uma nação é capaz de fazer tres cousas: guerra, paz e finanças.

A França quiz fazer a guerra sem a approvação de to dos; não foi feliz.

Quiz fazer a paz, com repugnancia de muitos; teve de nadar no seu proprio sangue, para vencer as paixões ruins que apparecem nos momentos de angustia e de afflicção.

Quiz fazer finanças; todos, sem excepção de um homem nem de um partido se uniram n'esse pensamento; e que finanças tão fabulosas que se fizeram!

Milhares e milhares de milhões se deram aos vencedores; milhares e milhares de milhões teve aquella nação com que saldar as suas contas; e apresentou um orçamento que não só não tinha deficit, mas em que havia sobras, para poder annunciar que d'ali em diante a difficuldade financeira seria diminuir os impostos com justiça e igualdade.

Sinto não ter uma palavra alegre a dizer, nem uma consolação.

Até, por minha desgraça, fui ler a historia da Polonia. Ali achei na primeira pagina: "A culpa é sua, a culpa é vossa".

E a culpa foi de todos, e tudo desappareceu. Só lhe ficou o nome e as nossas sympathias.

Sr. presidente, eu sou obrigado hoje a pronunciar uma palavra que nunca pronunciei, e que o meu orgulho me dizia que não pronunciaria até ao fim da minha vida; mas o orgulho paga-se n'este mundo, e eu vou, com os olhos baixos e humildes, dizer:

Tenho medo, tenho medo, tenho medo.

(O orador foi muito comprimentado.)

O sr. Vaz Preto: - Julguei que teria de responder ao sr. presidente de conselho de ministros em virtude das palavras severas que ha pouco lhe dirigi; entretanto com espanto meu é ao sr. Pereira Dias a quem tenho de dar explicações!

Vou pois responder a este digno par, que tomou a posição do governo para o defender, já que elle o não sabe fazer.

O sr. Pereira Dias declarou que não lhe tinham soado bem as palavras que eu soltei, quando disse que o governo havia de largar as cadeiras do poder por bem ou por mal.

Disse essas palavras, repito-as; sua explicação é obvia, mas como o sr. Pereira Dias pareceu não as compreder, em vou explicar o seu sentido.

Quando um governo declara, como este tem feito, que as resoluções d'esta camara não têem importancia, quando na outra casa do parlamento se diz a mesma cousa, quando se assevera que esta camara não póde irrogar censuras e quando as irrogue não se deve fazer caso das suas votações, é claro que, respondendo a estas declarações absurdas e imprudentes do governo a opinião publica com energicas manifestações e mesmo com a agitação popular, mais tarde, se o governo continuar a querer sustentar-se contra todas as indicações, ha de ser por bem ou por mal arrancado d'aquellas cadeiras.

Não é necessario ser-se muito perspicaz para se prever o que ha de acontecer.

A historia que é o deposito de observações e de experiencias feitas no passado nos dão frequentes exemplos de queda estrepitosa de generos obececados, que pretendem resistir á torrente da opinião publica.

Sr. presidente, oxalá que esta agitação a que eu alludi não caminhe para a agitação mais forte, que é a revolução, e que arrancará os ministros d'aquellas cadeiras, (indica as cadeiras do governo) levando na sua queda tambem as instituições.

Creio que, depois de dadas estas explicações, já as minhas palavras não devem soar tão mal, porque a conclusão é a verdadeira e a unica lógica, e creio que o digno par, o sr. Pereira Dias, na sua consciencia e modo de pensar tirará as mesmas illações.

Dadas estas explicações ao digno par, á camara e ao paiz, dirigir-me-hei novamente ao sr. presidente do conselho, perguntando-lhe qual é a rasão por que s. exa. affirmou á camara, e se comprometteu em nome do governo, emmandar proceder ás eleições em julho do anno passado e só as fez em outubro?

Quando o sr. Braamcamp, chefe de um partido, toma um compromisso serio perante o parlamento, bastava mesmo perante qualquer dos seus membros isoladamente, devia cumprir á risca aquillo a que se compromettêra; mas s. exa. não o fez, sem duvida porque houve caso de força maior que não o deixou cumprir.

Qual foi, pois, o caso de força maior que houve para impedir que s. exa. não mandasse fazer as eleições na epocha em que prometteu á camara que as faria? Não havendo caso de força maior, como é que s. exa., que se preza de ser homem de bem, se conserva ainda presidente do gabinete?

Ainda ha um outro ponto que me ia escapando de responder ao sr. Pereira Dias, já que não tenho que responder ao governo, mas sim a s. exa., que veiu tomar a sua defeza,

Disse s. exa. "que o governo tinha feito bem em proceder como procedeu para manter a ordem, e que se alguns dignos pares e deputados tinham sido mandados retirar pelas cavallarias do ponto onde estavam, é porque não foram conhecidos": foram conhecidos, posso affirmal-o ao digno par, porque até um official da guarda municipal declarou aos cavallarias que os que ali estavam eram pares do reino, (Apoiados repetidos.) e os cavallarias responderam, e muito bem: "as ordens que temos são para todos; (Apoiados.) nós não fazemos excepções". E responderam muito bem: (Apoiados repetidos.) nós, porém, respeitámos aquellas ordens que lhe tinham sido dadas e que a elles cumprir executar, obedecemos e retirámos-nos; e se isso se passou assim, e n'aquella occasião respeitámos o proceder digno dos soldados, (Apoiados.) nem por isso deixamos de cumprir com o dever, que tambem nos cabe, de tomar contas ao governo por nos dar d'estes apparatos ridiculos, que não significam senão a contradicção completa das idéas que o governo sustentava, de que desejava as manifestações da opinião publica, que respeitava; que queria que ella se exprimisse; e quando ella, sem sair fóra da ordem, se pretende manifestar, vem o governo immediatamente oppor-lhe barreira com apparatos bellicos, mas de todo o ponto dignos d'este governo, porque são apparatos ridiculos.

Eu desejo pois, saber qual foi a força maior que levou o sr. Braamcamp a faltar á sua palavra, qual é a força