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CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO
SESSÃO N.º 52
EM 1 DE AGOSTO DE 1908
Presidencia do Exmo. Sr. Conselheiro Antonio de Azevedo Castello Branco
Secretarios — os Dignos Pares
Luiz de Mello Bandeira Coelho Marquez de Penafiel
SUMMARIO.— Leitura e approvação da acta. — Expediente. — Prestam juramento e tomam assento os Exmos. Srs. Conde de Avilez e Conde das Alcaçovas. — O Sr. Presidente participa á Camara o fallecimento do Digno Par Sr. José Maria Rodrigues de Carvalho, de quem faz o elogio, propondo um voto de sentimento. Usam da palavra, em identica commemoração, o Sr. Presidente do Conselho, e os Dignos Pares Srs. Francisco Beirão, que propõe que a sessão se levante, José de Azevedo, José de Alpoim, Alexandre Cabral e Augusto José da Cunha. Considerando-se approvadas as referidas propostas, é levantada a sessão, e designada a seguinte.
Pelas 2 horas e 30 minutos da tarde o Sr. Presidente abriu a sessão.
Feita a chamada, verificou-se estarem presentes 21 Dignos Pares.
Do Governo estavam presentes os Srs. Presidente do Conselho, Ministros da Fazenda, da Guerra e dos Estrangeiros.
Lida a acta da sessão antecedente, foi approvada sem reclamação.
Mencionou-se o seguinte expediente:
Officio do Ministerio da Fazenda, sobre pedidos de documentos do Digno Par Sr. Francisco José Machado.
Para a secretaria.
Officio do Ministerio da Fazenda, sobre pedidos de documentos do Digno Par Sr. Sebastião Baracho.
Para a secretaria.
Officio do Ministerio do Reino, sobre pedidos de documentos dos Dignos Pares Srs. Francisco José Machado, Jacinto Candido e Visconde de Monte São.
Para a secretaria.
Mensagem da Camara dos Senhores Deputados, enviando a proposição de lei que tem por fim organizar o plano geral de estradas.
Para a commissão competente.
Mensagem da Camara dos Senhores Deputados, que tem por fim determinar que o fornecimento dos impressos para o serviço da Direcção Geral dos Correios e Telegraphos seja feito por concurso.
Para a commissão competente.
Mensagem da Camara dos Senhores Deputados, mandando proceder ao manifesto do milho e do centeio existentes no país e autorizando a sua importação, quando se julgue necessario.
Para a commissão competente.
O Sr. Presidente: — Acha-se nos corredores d'esta Camara, para prestar juramento e tomar assento, o Digno Par Sr. Conde de Avilez.
Convido para introduzir S. Exa. na sala os Dignos Pares Srs. Frederico Laranjo e Manuel Affonso de Espregueira.
Foi introduzido na sala, prestou juramento e tomou assento o Digno Par Sr. Conde de Avilez.
O Sr. Presidente: — Acha-se tambem nos corredores d'esta Camara, para o mesmo fim, o Sr. Conde das Alcaçovas.
Convido para introduzirem S. Exa. na sala os Srs. Conde de Figueiró e Visconde de Asseca.
Foi introduzido na sala, prestou juramento e tomou assento o Sr. Conde das Alcáçovas.
O Sr. Presidente: — Á Camara deve ter chegado a noticia do fallecimento do Digno Par Sr. Rodrigues de Carvalho.
Certamente interpreto os sentimentos da Camara, affirmando o meu sentimento e de todos os membros d'ella por tão triste successo.
Não posso fazer, como desejava, uma larga referencia á vida e aos serviços prestados ao Pais por aquelle Digno Par, porque não tenho conhecimento completo d'elles.
Sei que S. Exa. foi eleito Deputado em differentes legislaturas e exerceu as funcções de Presidente na Camara dos Senhores Deputados com muita elevação, manifesto apreço, e solemne reconhecimento dos seus meritos por todos os membros d'aquella Camara. (Apoiados).
Assisti a muitas sessões presididas por S. Exa. e, por isso, falo a este respeito com exacto conhecimento de causa, e muito me apraz prestar á memoria do Digno Par esta justa homenagem.
Foi o Digno Par tambem Presidente d'esta Camara e aqui confirmou as suas qualidades insignes de intelligencia, saber, prudencia, esclarecida ponderação, recto juizo e bom criterio.
Creio, pois, que interpreto os desejos da Camara propondo que se lance na acta um voto de sentimento pela morte do Digno Par, facto que constitue uma sensivel perda para esta Camara, para o partido a que pertencia e para o Pais, e que esta resolução se transmitta á illustre familia do finado. (Muitos apoiados}.
(S. Exa. não reviu).
O Sr. Presidente do Conselho e Ministro do Reino (Ferreira do Amaral):— Sr. Presidente: pedi a palavra
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ANNAES DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO
para me associar, em nome do Governo, á justa manifestação de sentimento que S. Exa. o Sr. Presidente acaba de propor pelo fallecimento do Digno Par Sr. Rodrigues de Carvalho, cujo caracter, dignidade e intelligencia me habituei a respeitar, apesar de poucas ou nenhumas relações ter tido com elle.
Na qualidade de Presidente d'esta Camara, o Sr. Rodrigues de Carvalho foi um dos que mais cabalmente demonstraram imparcialidade e correcção de procedimento.
Quer como magistrado judicial, quer como politico, a memoria do illustre extincto deve ficar no coração de todos como exemplo e incitamento.
(8. Exa. não reviu).
O Sr. Francisco Beirão: —Sr. Presidente: fui hoje surprehendido pela noticia da morte do meu collega Rodrigues de Carvalho.
Associo-me completamente ás expressões de sentimento proferidas pelo Sr. Presidente, as quaes representam, não só uma justa manifestação dedicada ao caracter e qualidades brilhantes d'aquelle Digno Par, mas tambem quanto é elevado e nobre o espirito do Sr. Presidente, que, apesar de ter sempre pelejado politicamente contra o extincto, soube encontrar hoje palavras de verdadeira justiça e de entranhada saudade para com a sua memoria. (Apoiados}.
Sr. Presidente: permitta-me V. Exa. que, com todo o respeito, faça um additamento á sua proposta, qual é que a Camara levante a sessão em sinal de sentimento pela morte do Digno Par Sr. Rodrigues de Carvalho. (Apoiados).
O país perdeu um leal e dedicado servidor, não só na magistratura e na Presidencia d'esta e da outra Camara, como em outros mesteres publicos que desempenhou; a Camara dos Pares perdeu um dos seus membros mais distinctos. (Apoiados).
O partido progressista soffre uma perda enorme com o passamento do Digno Par, que era um dos seus mais prestigiosos representantes e seu chefe no districto de Braga; mas eu, Sr. Presidente, perco em Rodrigues de Carvalho, alem de um correligionario e de um collega, um amigo a quem devia extremos de affecto e consideração.
Entrei na vida politica com elle, militando ambos no partido reformista.
Singular coincidencia! Faz agora exactamente um anno que eu tive a honra de ser commissionado pelo partido progressista para assistir a um banquete de honra que os correligionarios do districto de Braga offereceram a Rodrigues de Carvalho!
Tive então ensejo de ver de perto quanto se tinha afervorado o prestigio ou melhor o culto que o Minho, e, posso acrescentar, o Pais, dedicava ao distincto, sympathico e honrado cidadão. Não me esqueceu, não me esquecerá jamais esse dia. E hoje é triste recordar que ha a certeza de que essa festa, tão grata ac seu coração, nunca, nunca mais se repetirá.
Em nome, pois, do sentimento que nestas poucas palavras acabo de exprimir, associo-me á proposta de V. Exa., Sr. Presidente, additando-a no sentido de se levantar a sessão em sinal de luto. (Apoiados).
(S. Exa. não reviu).
O Sr. José de Azevedo: — Sr. Presidente : Na ausencia do Digno Par Sr. Julio de Vilhena, em seu nome e no do partido de que elle é chefe, tenho a honra de me associar ao preito de saudade d’esta Camara pelo fallecimento do Digno Par Sr. Rodrigues de Carvalho, assim como a todas as propostas destinadas a honrar a memoria d'aquelle nobre cidadão.
Cumpro este triste dever cem tanta mais vontade quanto devo a S. Exa. a reparação de uma falta uma vez commettida, e que pus sempre todo o interesse em poder desvanecer lh'a. Refiro-me a um facto passado na Camara dos Senhores Deputados, quando Rodrigues de Carvalho presidia áquella Camara, com autoridade e dignidade dignas de respeito e consideração.
O illustre extincto não deixa na nossa historia a memoria de grandes feitos, porque o seu temperamento, o seu espirito e a sua indole eram avessos á occupação voluntaria de grandes cargos, sem os quaes não se praticam os grandes actos que a historia costuma registar, mas deixa no espirito dos seus concidadãos a memoria das suas qualidades, do seu nome honrado e da sua dedicação á patria.
No espirito dos seus amigos deixa a recordação de uma amizade certa, onde sempre se encontrava um bom conselho e um bom auxilio.
Associo-me, pois, ás propostas já apresentadas. (Apoiados).
(S. Exa. não reviu).
O Sr. José de Alpoim: —Associo-me, em meu nome e no dos meus amigos politicos, ás palavras pronunciadas pelos oradores antecedentes acêrca de Rodrigues de Carvalho.
Direi poucas frases, não só porque o meu estado de saude não permitte fazer um largo discurso, mas ainda porque as angustias sinceras e as saudades verdadeiras são incompativeis com ruidosas manifestações. A dor profunda é sempre silenciosa.
Sr. Presidente: eu fui secretario de
Rodrigues de Carvalho na Presidencia da Camara dos Senhores Deputados, ao tempo de ali se travarem lutas, ao pé das quaes são verdadeiros jogos pueris as refestas e embates parlamentares de hoje.
Tive então ensejo de conhecer a finura de trato de Rodrigues de Carvalho, a dignidade do seu espirito, a agudeza da sua intelligencia. (Apoiados).
De Rodrigues de Carvalho só poderei dizer que foi sempre igual a si mesmo na sua existencia politica.
Pertenceu áquella mocidade nobre e generosa conhecida pela designação de rapazes do Bispo, e conservou pela vida fora o amor á liberdade, que foi caracteristica dos muitos homens que nesse tempo iniciaram na vida politica portuguesa uma luta profunda contra os velhos processos.
Como politico, como liberal e como amigo intimo de Rodrigues de Carvalho, associo-me ás manifestações de condolencia e magua d'esta Camara pela morte d'aquelle Digno Par. (Apoiados).
Tenho dito
(S. Exa. não reviu).
O Sr. Alexandre Cabral: —Sr. Presidente: desejo associar-me em meu nome pessoal á proposta do Sr. Presidente ,
Por parte do partido progressista, que Rodrigues de Carvalho distinctamente serviu e honrou, já falou o Digno Par Sr. Francisco Beirão; mas eu, Sr. Presidente, tinha para com o extincto uma tamanha divida de gratidão, que não ficaria bem com a minha consciencia se agora a não confessasse perante a Camara.
Ha cêrca de onze annos conheci Rodrigues de Carvalho em Braga, onde eu então exercia uma commissão de serviço.
Quatro annos depois, procedendo-se á eleição de Deputados, Rodrigues de Carvalho, que já nesse tempo tinha na direcção do partido progressista d'aquella cidade um logar proeminente, indicou, sem que eu o soubesse nem o suspeitasse sequer, a minha candidatura ao chefe do partido e ao suffragio dos eleitores.
Foi uma fineza que nunca esquecerei.
A biographia de Rodrigues de Carvalho, singela e simples, por um lado, mas levantadissima, por outro, está feita.
Illustrou a magistratura e a politica do seu Pais; presidiu com rara distincção ás duas casas do Parlamento; e, se nunca entrou nos Conselhos da Coroa, foi porque os repetidos convites que para isso recebeu foram mallogrados pela sua relutancia tenaz e invencivel. (Apoiados).
Foi muito elevada a sua posição so-
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cial, mas muito mais subidos eram ainda os dotes brilhantissimos do seu espirito e as nobres qualidades do seu caracter. (Apoiados).
E é por isso que a morte d'este homem distinctissimo a todos os respeitos produzirá no districto de Braga uma grande perda, e em mina uma grande e infinita saudade. (Apoiados).
(S. Exa. não reviu).
O Sr. Augusto José da Cunha: — Sr. Presidente, eu tambem quero associar-me á homenagem de consideração e saudade que de todos os lados da Camara se tem prestado á memoria do illustre ex-Presidente d'esta Camara.
Fui largos annos correligionario de S. Exa. e tive occasião de apreciar o seu elevado caracter, a sua correcção de maneiras e a sua lucida intelligencia. Honrou esta Camara e o Pais.
Respeitei-o e considerei-o sempre durante a vida; d'elle guardo hoje uma grande saudade. (Apoiados)
(S. Exa. não reviu).
O Sr. Presidente :—- Creio que, em vista das manifestações da Camara, não é preciso pôr á votação a minha pró posta e a do Digno Par Sr. Beirão; parecem-me estar approvadas por acclamação. (Apoiados geraes).
A proximo sessão é na segunda feira e a ordem do dia a mesma que estava destinada para hoje.
Está levantada a sessão.
Eram 3 horas da tarde.
Dignos Pares presentes na sessão de 1 de agosto de 1908
Exa. m3s Srs. Antonio de Azevedo Castello Branco, Eduardo de Serpa Pimentel; Marquez do Penafiel; Arcebispo de Evora; Condes: das Alcaçovas, de Avillez, do Bomfim, de Figueiró, de Valenças; Viscondes: de Algés, de Asseca, de Athouguia, de Monte São; Alexandre Cabral, Pereira de Miranda, Sousa Costa Lobo, Augusto José da Cunha, Carlos Palmeirim, Veiga Beirão, Ferreira do Amaral, Francisco José Machado, Francisco José de Medeiros, Francisco Maria da Cunha, Francisco Serpa Machado, Simões Margiochi, Ressano Garcia, D. João de Alarção, José de Azevedo, Frederico Laranjo, José de Alpoim, Bandeira Coelho, Affonso de Espregueira, Sebastião Telles, Sebastião Dantas Baracho e Wenceslau de Lima.
O Redactor, F. ALVES PKREIRA.