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amigo, que fosse energico e forte, e que em todo o caso senão sentasse nos bancos do ministerio sem a intenção firme de cumprir com o seu dever. Ainda assim, sr. presidente, não saí do meu proposito de retirar-me para minha casa; mas infelizmente, a opinião publica da capital (e digamos o que cada um na sua consciencia entende), a opinião publica estava desvairada por excessos exagerados, desvairada por um momento pelos excessos do partido e dos jornaes que eram mais affectos á antiga situação, não conhecendo nos novos caracteres que se associavam á governação publica conhecimentos bem vastos da administração do estado, porque effectivamente não tinham ainda apresentado no publico provas muito notaveis da sua sciencia de governar, e póde dizer-se a respeito de um d'elles, que muitas provas tinha dado da sua elevada capacidade, que não se sabia mesmo que tinha estudado a sciencia de governar.

Digamos as cousas como ellas são na nossa consciencia.

A opinião publica desvairava-se com a linguagem dos individuos e jornaes que até ali eram mais affectos ao governo, e que vendo no gabinete um vulto importante d'este paiz, a quem até ali chamavam o chefe do grande partido progressista, começavam já a dirigir-lhe acrimoniosas censuras, e a cuspir insultos sobre um homem, que era respeitavel para todos, e ainda é respeitavel para nós, e para mim muito especialmente; a opinião publica hesitava se a paixão podia dar origem a tamanho desvario da parte dos amigos de hontem, ou se effectivamente haveria algum passo inconsiderado da parte do homem que estava tão habituada a respeitar. Estas hesitações de uma grande população, excitadas por agitadores e animadas por imprudentes, dão origem á desordem.

N'essa occasião, sr. presidente, um dos meus amigos e que bem proximo se acha de mim (virou-se para o sr. conde d’Avila) me aconselhou que o dever do homem publico em qualquer situação que se encontre é receber os acontecimentos como elles se acham, e não confundir um passo de prudencia com o da cobardia, para deixar de fazer chegar a sua voz onde é chamada.

Eu agradeço a quem me deu tão bom conselho, porque me acompanhou á camara dos dignos pares para votar com os homens experimentados no governo do estado, e que não querem de modo algum excitar a> opinião publica que encerrássemos uma sessão que se apresentava tumultuosa e aonde palavras soltas imprudentemente pareciam querer excitar o povo a fazer nascer a desordem d'onde devia sem partir a ordem; era menos prudente n'um momento de exaltação excita-la com palavras que podiam comprometter o paiz.

Não se julgue, sr. presidente, quo quero fazer censura a quem com paixão defende opiniões com que não concordo, e por consequencia já se vê que não é minha intenção censurar o meu nobre amigo, o digno par Sebastião José de Carvalho, porque embora o dever me obrigue algumas vezes a dirigir-lhe algumas expressões mais severas, para lhe dizer que as suas idéas não estão em harmonia com as minhas, faço sempre diligencia para lh'as dizer de maneira que s. ex.ª nunca tenha de me retirar a mão de amigo, assim como espero que aconteça com os srs. ministros, principalmente com dois de quem sou amigo desde o tempo em que estudávamos juntos nas margens bellas da minha amena e querida patria.

Sr. presidente, dada esta explicação, direi ainda que sinto, e sinto muito que a governação do estado não esteja vigorosa, como tem estado até agora, é forte como era para desejar nas mãos dos homens que podessem governar com as maiorias das duas casas do parlamento; e porque tambem é certo que as maiorias não estão hoje com aquella força com que estavam anteriormente, para se poder dirigir bem a nau do estado, como era o meu desejo.

Eu sinto, sr. presidente, que esta situação esteja assim, e muito mais o sinto, porque a renovação do voto popular trouxe á camara electiva muitas intelligencias novas e robustas, e muitos cavalheiros distinctos e influentes, que vinham dispostos a entregarem-se com todo o seu esforço, a entregarem-se quanto possivel aos negocios da publica administração, e a darem a força necessaria ao governo para a continuação dos grandes empregos e dos grandes commettimentos de civilisação, em que o paiz todo esta empenhado ha muito tempo.

Sinto-o, mas apesar, de sentido não se segue que, por que o mal nos assombre, lhe não procuremos o remedio.

Nobilitou-se hontem a tribuna portugueza com a palavra auctorisada de alguns dos seus mais distinctos ornamentos. Ouviu-se a palavra auctorisada de um dos primeiros estadistas d'este paiz e a de um dos nossos mais distinctos litteratos.. Fallo do meu nobre amigo o digno par Rebello da Silva, a quem posso dar este nome, porque já me tem dado muitas provas da sua estima, e fallo tambem do nobre conde de Thomar, tambem amigo porque o é todo o homem que nos trata bem, e as nossas relações têem sido sempre boas, posto que não sejam intimas.

Ainda bem sr. presidente, que a tribuna se rehabilitou que bastante o precisava, e saíu do campo dos doestos para entram na discussão da these constitucional, para sabermos se pertence ou, não, a esta camara avaliar o modo por que foi organisado o gabinete, e se devemos ou não dar a nossa opinião sobre essa organisação.

Sr. presidente, se eu olhasse para o fundo dos meus conhecimentos, parado valor da minha capacidade, de certo não teria pedido a palavra para entrar n'uma questão de tanta magnitude, mas pedi-a n'um daquelles movimentos do coração, a que na minha idade se não sabe ser superior, via injuriar amigos particulares meus só pelo grande crime de terem tomado sobre seus hombros tão pesada cruz, pedi-a quando via o silencio de uma parte, e do outro as injurias e doestos affogueando o rosto de quem as ouvia, e ditas dentro de uma casa aonde não póde nem deve haver senão a prudencia, a imparcialidade e a circumspecção, e ditas a quem para salvar o decoro do logar que occupa, não póde responder a ellas como homem. Arrependi-me depois de ter pedido a palavra, porque não estava em discussão moção alguma, nem era para mim responder ás injurias, porque o negocio' não era comigo, e ainda que o fosse não o faria, porque para responder na mesma linguagem, era melhor não dizer nada (apoiados).

Hontem, porém, vi com prazer que o digno par o sr. Rebello da Silva, fazendo mais censuras e mais preguntas ao governo, do que os oradores que o tinham precedido, tratou a questão com a maior gravidade a que ella se podia elevar, dizendo muito mais do que ainda se não tinha dito sobre a materia, desagradando muitas vezes mesmo aos amigos do governo, censurando a marcha pela qual as cousas publicas tinham caminhado até hoje, e apesar de chegar a este ponto, não disse nunca uma unica palavra, que nós não gostássemos de ouvir. Assim é que se deve discutir.

Sr. presidente, o digno par o sr. conde de Thomar, elevando a questão á altura do seu nobre caracter, com a linguagem que a sua aprimorada educação lhe indicava, tocou nos mais melindrosos pontos da questão actual e do estado dos partidos e disse, sem paixão, o que deve dizer um grande estadista, e faça-se justiça a s. ex.ª, porque é um dos primeiros vultos d'este paiz, e se a injustiça partidaria não lhe quer ainda reconhecer os serviços importantes que prestou ao paiz e á ordem publica, que soube sustentar; ha de a historia com o seu cinzel imparcial, aconselhada pela boa rasão, escrever-lhe uma pagina brilhante, que ninguem já lhe póde disputar, porque fez sentir o seu governo pela boa ordem, pelas acertadas medidas que adoptou, e por muitas cousas boas, santas, sãs e justas; porque era governo que governava. N'isto que digo, não quero fazer a sua apotheose, porque tambem teve erros, mas quem é que não os commetto? Aos erros sobrepujavam muitas cousas boas, o tanto que o partido que o combatia, largando os combates revolucionarios e a senda das paixões, quando uma espada gloriosa veiu fazer pender a balança para outro lado, quando Outros homens entraram no poder, viu as difficuldades que havia, e a estrada que seguiu nos negocios publicos foi bem proxima da que queria seguir o sr. conde de Thomar.

O nobre conde de Thomar fez de uma maneira muito completa a classificação dos partidos em que esta camara esta dividida, e eu quero que a minha seja no grupo dos que não tem partido, porque o meu partido é o paiz, e a minha aspiração é que elle chegue ao grau de prosperidade e de felicidade moral, que nós temos obrigação de lhe dar (apoiados). E não se faz isto senão com a experiencia e com o talento, como muito bem disseram todos os oradores.

Vejo no ministerio dois vultos venerandos, que me ensinaram a respeitar desde os mais verdes annos; um que dirige o partido progressista, e o outro que serviu sempre o seu paiz; ambos foram ministros do imperador, ambos tiveram sempre a confiança da corôa, e tem-na ainda hoje, e espero que elles saibam dar força ao governo, por que é isso que tem faltado no nosso paiz, e ha muito tempo. Os governos tem sempre cedido a pressões nefastas, quando devem governar com as suas idéas e com as leis que trazem ao parlamento.

Sr. presidente, os outros ministros quem são? Um é o sr. João Chrysostomo de Abreu e Sousa, homem que todos nós conhecemos, porque este paiz é pequeno e todos nós nos conhecemos, e portanto podemos dizer que é um homem que todos estimamos, que todos respeitamos, que é um homem honrado; e os outros? Diz-se, que não são conhecidos; não é exacto, todos sabemos que pelo menos são homens honrados.

Sr. presidente, mal vae ao paiz, muito principalmente porque, até aqui, todo o homem que subia ao poder, era necessariamente, pelos homens que estavam fóra e aspiravam a elle, acoimado de incapaz e corrupto, e dava-se-lhe um nome, que não quero repetir, e que fazia acreditar que este paiz não havia senão homens corruptos cujo sentimento unico era a ambição de oiro.

Quando acabaremos de nos desauctorisar e de apresentar o espectaculo de que todos os homens publicos são incapazes de ir ao poder, e que não podem saír d'elle sem virem manchados?

Sr. presidente, esta é a verdade. De muitos caracteres distinctos se tem dito o que não é verdade; dos dois caracteres que se póde dizer constituem a principal força do governo os srs. duque de Loulé e marquez de Sá nunca se disse nenhuma d'essas aleivosias. Quando se offende uma paixão ou uma pretensão, se esse homem que pretende ou essa paixão que se affecta existe em um homem que não tem nobreza de sentimentos, esse homem vae para as praças publicas, vae para a imprensa desacatar o individuo que estava no poder e que não o attendeu. Isto são cousas que dependem de felicidade. E como nas batalhas, tão valentes são os feridos como os que o não foram. Assim acontece com muitos caracteres d'esta terra; foram feridos porque se revoltaram contra muitas pretensões iniquas. Mas homens ha afortunados na sua carreira politica, como os srs. duque de Loulé e marquez de Sá, que não sendo menos valentes nas lutas politicas e civis, nunca foram feridos n'esta guerra injusta e iniquia. Eis o motivo porque se mantem o governo; eis o motivo porque eu os reputo muito necessarios na situação actual.

Mas, sr. presidente, desvairada anda a questão e mais desvairada ainda desde o momento em que nós, que devemos ser os primeiros a pôr cobro a estas apreciações pouco cabidas, as deixamos apresentar e discutir na tribuna. Nós não devemos querer que no seio do parlamento se pronunciem certas expressões, ainda mesmo encobertas, e talvez mesmo que encobertas sejam mais perigosas, por isso que se citam factos alterados e se allude a fabulas alteradas e comparações pouco decorosas; porque se isto se der muitas vezes, ninguem haverá que queira subir ao poder. Talvez essas pastas que se acham entregues a ministros novos fossem offerecidas a muitos ministros velhos, e que estes, conhecendo já pela experiencia os desgostos que teriam de experimentar, resignassem aquellas cadeiras, por isso que a sua saude não poderia resistir á commoção que seguramente despedaça o coração dos que a soffrem, e dos seus amigos que se mortificam e deploram os seus desgostos.

Os partidos, sr. presidente, acham-se no estado desgraçado em que justamente os apresentou o sr. conde de Thomar: «Homens do partido progressista, disse s. ex.ª, uni-vos todos e salvae o paiz; dae-lhe um governo forte; largae os vossos caprichos, e ponde-vos todos em volta do throno e das instituições; vede que assim não é possivel governar a nau do estado; despi-vos das vossas paixões e preconceitos; vede que a marcha que tendes seguido é errada».»

Isto, sr. presidente, tinha eu tenção de dizer, e já mesmo aqui o disse; porém estimo que estas palavras fossem proferidas por uma voz mais auctorisada do que a minha, por isso que assim ellas serão melhor acolhidas pelo paiz. Quando eu tive a honra de fallar pela primeira vez n'esta camara, já tinha feito ver que, apresentando-se n'esta casa qualquer medida da iniciativa parlamentar, a opposição e maioria achavam-a boa, mas tratava-se logo de ver se o governo podia caír com ella. E de que maneira? Com as emendas, additamentos, substituições e mil outras questiúnculas que se levantam n'esta casa. Eu peço a V. ex.ª e á camara que me desculpem; mas eu não sei escolher palavras, digo unicamente o que sinto.

Eu já vi passar n'esta camara, em um só dia, um codigo e vinte e duas leis, e ninguem pediu a palavra senão eu, e da parte da maioria cortou-se a discussão porque faltava o tempo para votar, gastando-se muitos dias em discutir questões politicas que não dão resultado; porque, depois da discussão, vem a maioria e acaba com ellas reconhecendo a inconveniencia de as ter discutido.

Sr. presidente, tres semanas levámos aqui a discutir a questão do escrivão da camara ecclesiastica de Coimbra, e terminámos por uma moção em que se dizia que a camara não achando nada digno de discussão passava á ordem do dia; não digo isto como censura ao honrado collega que fez a moção, mas para fazer ver o inconveniente de discussões prolongadas em materia que prejudica a situação prudente d'esta camara; é melhor não discutir do que reconhecer que se discutiu de mais. Devemos confessar que nos achâmos muitas vezes discutindo questões de que se não tira resultado algum, perdendo-se assim um tempo preciosissimo e que poderia ser empregado mais utilmente.

Sr. presidente, um vulto importantissimo d'este paiz, e um grupo de homens intelligentes fizeram grandes serviços á sua patria, desenvolvendo-lhe os interesses materiaes, e fazendo-lhe mil outros beneficios. Este grupo que esqueceu todas as paixões politicas, acercou-se em roda do throno, e fez os mais importantes serviços ao seu paiz; este grupo foi aggredido por toda a gente, e o vulto importante foi apontado como corrupto, faccioso, réprobo, e de... até tenho pejo de o dizer: foi accusado de...!

Esse vulto era o sr. Rodrigo da Fonseca Magalhães. Dizia-se então que o fim d'esse homem era corromper os partidos para os algemar, a fim de chegar ao despotismo, e governar á sua vontade, e encher de dinheiro as algibeiras!

Mas estes homens saíram emfim do poder, e aquelles que os foram substituir, que eram cavalheiros muito respeitaveis, assim que subiram ao poder vieram logo dizer ao parlamento «nós seguimos a politica dos nossos antecessores».

Vozes: — Deu a hora.

Sr. presidente, são tão poucas as considerações que tenho a fazer que não me parece que seja muito util, até para' a discussão, que eu falle dois dias, mesmo porque seria isso' para mim um pouco desagradavel; por consequencia vou cortar tudo que desejava expor para poder desde já concluir as minhas reflexões.

Vozes: — Falle, falle.

Parece-me que todos os inconvenientes cessariam se fosse prorogada a sessão até ás seis horas (apoiados). No entanto' a camara faça o que entender.

Vozes: — Falle, falle. N'esta situação, sr. presidente, se achava o governo actual, quando, por motivos que todos nós sabemos, se não póde realisar a formação de uma administração debaixo dos nomes illustres a que se recorreu para ella se fazer.

Parece-me que a camara não está disposta a ouvir-me; e por isso julgo mais conveniente pedir a V. ex.ª que me reserve a palavra...

Vozes: — Falle, falle.

N'esse caso continuarei.

Sr. presidente, as verdadeiras questões de administração publica carecem da força dos partidos, e o sr: duque de Loulé encarregado de novo dá organisação de um ministerio, longe de merecer censura, quanto a mim, merece elogio por se ter desprendido de caprichos mal entendidos, e procurado conferenciar a tal respeito com um vulto importante da opposição: Se as relações estavam interrompidas, como disse o proprio digno par; o sr: Aguiar, foi nobilissimo a meu ver o passo que deu o sr. duque de Loulé. Bom seria' de certo, para este pequeno paiz; que os homens publicos e mais importantes se congraçassem todos, se desprendessem de caprichos, e se unissem todos para o mesmo fim, no mesmo intuito do bem da causa' publica. Más emfim sobre este ponto nada mais direi; occasião virá talvez mais opportuna, em que outras vozes mais auctorisadas fallem n'este mesmo sentido, e se possa tirar algum re