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DOS PARES. 295

não — palavras que foram apoiadas. Podei ia chamar em meu auxilio a differença das circunstancias, mas não o faço; e confesso que tambem faltei áquelles citados Artigos, faltando e interrompendo.» Orador, sem ler pedido a palavra; porem esta não é a questão, outro e o objecto, como se verá, e por aquelle defeito peço perdão á Camara.

As expressões de Louvado seja tão bom Senhor, ditas em relação ao Presidente, o nobre Duque de Palmella, no acto de se achar orando, e sobre o incidente que referi, não podem deixar de importar uma grave offensa a elle feita, e que reflecte em todos os Pares que querem manter a ordem e a decencia, e particularmente naquelles que partilham das idéas expendidas: e para o affirmar recorro simplesmente ao senso commum: avaliando eu assim o successo, disse que o Digno Par fizera o que devia, por que me persuadi que S. Exa. pezando melhor as phrases que lhe tinham escapado, e conhecendo que não havia andado bem, se retirava, subtrahindo-se desta fórma, e por algum tempo ás vistas da Camara, o que, se noa tivessemos um Regimento igual ao de Camaras de outras Nações civilisadas, e que gosam o systema representativo, não seria estranho que a isso o obrigassemos; quando, dizendo o nobre Duque de Palmella que sentia que, o Digno Par (o Sr. Conde da Taipa) se houvesse retirado, eu respondi — Pois eu não — fui coherente com aquella minha primeira idéa. Na presença desta exposição, ninguem a sangue frio, e com imparcialidade affirmará que eu, nem por sombras, injuriasse o Digno Par, o Sr. Conde da Taipa.

Julguei o negocio finalizado, e comigo o julgariam todos os que pensam sem prevenções; porem não succedeu assim: na Sessão seguinte, apresentando-se este Senhor, e fazendo um discurso, com a eloquencia que lhe é propria, disse no final as seguintes palavras: eu sahi da Sala, mas ao sahir ouvi um nobre Par, com uma ironia insultante, dizer — Fez o que devia. = Se fosse outro, eu teria de lhe pedir uma satisfacção; mas ao Digno Par não a peço, por que lhe sou extremamente affeiçoado, pelo muito que me deleita com os seus discursos.

Traduzidas por mim as citadas expressões, foi nellas que, encontrando eu a verdadeira ironia, me convenci de que S. Exa. não me considerava capaz, nem digno de lhe dar uma explicação ou satisfacção, e que os meus discursos lhe despertavam o riso e a zombaria: considerei-me injuriado, e para pôr em toda a luz a lazão que me assistia, e reclamar alguma satisfacção, pedi a palavra para me explicar; e se esta naquella occasião me fosse concedida, pagando a S. Exa. em igual moeda, e de que só provocado faço uso, quereria dizer e digo — que se me não julga capaz de me pedir uma satisfacção, eu tambem o considero incapaz de lha dar.; que se os meus discursos lhe motivam riso, os seus me fazem chorar, e de commiseração; e que se ao meu procedimento na Sessão a que me refiro, e ao, de toda a minha vida politica, comparado com o que S. Exa. leve e sempre tem tido, eu désse a preferencia, seria suspeito, temerario, e talvez injusto; mas que a Camara e a opinião publica, esse inexoravel e inteiro juiz, darão sobre este assumpto a sentença, á qual desde já me resigno.

Negou-se-me a palavra, e permitta-me V. Exa. e a Camara que lhes diga, da maneirada mais attenciosa, que isto se fez com notoria injustiça, e tirando-me a defeza natural até com nunca vista inbumamdade: sim, Sr. Presidente, V. Exa., dando-a a alguns Pares para o mesmo uni, e na mesma occasião, não ma quiz conceder, encerrando de proposito a Sessão, para o que muito concorreram todos os meus Dignos Collegas de um e outro lado (á excepção de mui poucos, entre os quaes se singularizou, defendendo-me, o meu nobre e respeitavel amigo o Sr. Marquez de Fronteira, que faz honra á fidalguia Portugueza) que virando-me as costas não quizeram tomar parte na minha injuria, que tambem lhes locava; sim, ella feria a todos os Pares sem distincção de côr politica, e fiquem certos, os Senhores da esquerda e da direita, de que eu em iguaes circumstancias não os imitarei, devendo em todas as outras tomalos por modelo.

Sr. presidente, queixo-me, e o faço com justificados motivos; e com isto, não faltando ao respeito devido ao logar e ás pessoas, pratico aquillo que se me não póde levar a mal, aquillo que e proprio de quem se considera offendido, e que não póde deixar de ser escutado até por quem mesmo se não reputa offensor.

Tudo o mais que se passou fóra desta Camara, e que talvez não teria logar se o meu requerimento fosse deferido, está fóra do patrimonio della; não foi entre Pares, foi entre individuos particulares — o Conde da Taipa e o Visconde de Laborim — por tanto não vem para aqui, e elles lá se intenderão.

O SR. VICE-PRESIDENTE: — O Sr. Visconde de Fonte Arcada pediu a palavra para uma explicação, mas permitta-me o Digno Par que, antes de lha dar, eu responda ao Digno Par que acabou de fallar, por que me arguiu de lhe não ter hontem dado a palavra para uma explicação pessoal.

O Sá. VISCONDE DE LABORIM: — Perdòe-me V. Ex.a; eu não o argui, porque isso seria uma temeridade, queixei-me de V. Exa., e fiz aquillo que julgo ser-me permittido, até pelo direito da natureza.

O SR. VICE-PRESIDENTE: — Talvez que a minha expressão não fosse a mais propria; no entanto, queixando-se V. Exa., não deixou de censurar-me um pouco por lhe não ter dado a palavra. — Não direi agora tudo quanto aqui se passou, por que está presente a todos, e por isso seria inutil o trazèlo á memoria; limitar-me-hei a apontar que, havendo varios Dignos Pares que tinham pedido a palavra para explicações, eu tomei nota dos seus nomes para por sua ordem lha dar quando chegasse a occasião, ainda que confesso que algum me escaparia pelo rumor que havia então na Sala: como por um lado da Camara se pedia a prorogação da Sessão, e por outro que ella se fechasse; nisto houve alguma confusão, e foi então que S. Exa. pediu a palavra para uma explicação, e vendo eu que havia muitos outros Dignos Pares que tambem a tinham igualmente para explicações, julguei que não lha devia dar sem a conceder aos outros Senhores; e a Camara já havia decidido que se não prolongasse a Sessão. Seguro ao Digno Par que não intendi que tivesse pedido a palavra para uma explicação pessoal. — É muito difficil o cumprir exactamente as obrigações que me impõem o Regimento quando se dão casos como o de hontem. Os meus desejos são sempre de cumprir aquelles deveres com a maior imparcialidade todas as vezes que tiver a honra de occupar esta