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464 DIARIO DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO

contemporaneas, atiradas por elle aos quatro ventos da revolução. (Vozes: - Muito bem.)

Em religião, sr. presidente, e agora volto-me reverente e submisso para dois ornamentos distinctissimos da igreja lusitana que me escutam e que me honram e obsequeiam com a sua attenção...

(O orador volta-se para os srs. bispos que estavam presentes).

Em religião, a igreja saíu de sua mãe, o paganismo nas suas variadas fórmas, como a ave para voar rompe o ovo que a incerra; o christão oppoz-se á sinagoga preteriu a igreja pela mesquita e foi maldit-o pelos sacerdotes da antiguidade, pelos phariseus.

Todas ou quasi todas as religiões extinguiu or, enfraqueceu o christianismo desde a religião que adorava o talo da couve, a gota do rocio, a ave gigantesca que abria as azas na região dos ventos, a lua cheia quando surgia do seio dos mares; desde a religião que adorava a natureza em que os deuses maiores estavam lá no empireo, coroados pelo iris, chovendo estrellas no céu e orvalho nos campos e a deusa Harmonia transformava os raios do sol em cordas da sua harpa, e Homero desseria era cada accorde da sue lyra a alma de um deus, até a religião, que adorava o homem, em que os deuses menores habitavam as cumiadas dos montes, tendo por templo os bosques e por altares os penhascos e enchia de faunos a selva, de nymphas o arrojo e de nereiades o mar e outras invenções de phantasia pagas e em cada gruta ou quebrada das encostas celebrava seus mysterios ao som d'esses canticos cheios de voluptuosidade que enebriavam toda a terra, e enviavam coros de virgens coroadas de verbena, tangendo citharas de oiro, entoando os canticos da mais sublimes poetas desde o sol que saía por detraz do Himeto até ás margens do mar Egeo.

Fui então que o espirito humano horrorisado de culto tão sunsual, no dizer do illustrado bispo de Cambraya, dirigiu as suas preces conscientes para Deus, erigiu as cathedraes gothicas e as matizou com os matizes na luz por meio dos vidros de cores, e as povoou de estatuas, que representam outros tantos graus da meditação e da dor, e lhes deu o murmurio de uma prece nos accordes do orgão, e lingua para fallar aos ventos por meio dos sinos, e laço para, o ceu pela alta cupula que se banha nos arreboes do ar, deixando nos espaços essas obras de arte que formam como que a escada mysteriosa por onde o espirito do crente sobe espanejando as azas do pó da terra para se transfigurar nas amplidões da eternidade.

Eu bem sei o que têem sido as transformações sociaes

Sei que o raio da tempestade social é tão tremendo como o raio da tempestade atmospherica, que nada respeita, e indistinctamente fulmina ou a cupula das igrejas ou a arvore secular.

Eu sei, sr. presidente, que uma das situações mais dolorosas que se póde apresentar diante de um pensador, é o ter que circumscrever-se em uma limitada area de attribuições; mas tambem é certo, que se esse pensador for, basta, medianamente morigerado, encontra muito primeiro o limite do dever e da seriedade do que a restricção imposta pelas nossas leis.

Praticamente o povo não sabe o que é uma dictadura; os que sã affligem, os que se assustam são os que tendem naturalmente a abusar da lei.

O povo laborioso, o povo agricultor, o povo junto do qual eu venho, v. exa. sabe-o perfeitamente, não percebe o que são dictaduras, nem com ellas se importa, nem com ellas se preoccupa.

Eu vou tambem fazer a minha profissão de fé politica.

Sou monarchico, sou conservador. Não quero o despotismo no poder, não quero a imposição das multidões, quero que os governantes promulguem lei e as coadunem com a indole dos povos e quero que só de toda a repressão quando por parte dê povo se infrinjam as leis.

O sr. Vaz Preto: - E se forem os governos que as infrinjam?

O Orador: - Se os governos as infringirem, então quero a liberdade dos povos, mas a compativel com a sua Índole com os seus habitos e com a sua civilisação.

Eu quero a harmonia dos poderes, mas sem vir da imposição das multidões.

Eu gosto de ver o povo reunido como quando no forum de Roma pugnava pela dilatação das, suas fronteiras terrioriaes.

Gosto de ver o povo reunido como no pantheon de Athenas para ir a Maratona e a Salamina; mas não gosto de o ver reunido no tabernaculo de Jerusalem a pedir a cabeça de Christo.

Em taes casos eu antes quero abrigar-me debaixo da bandeira absoluta de um Rei que se chamou Pedro V ou Luiz I do que debaixo do estandarte de um presidente de republica que se chamou Felix Pyat ou com a protecção de um cidadão republicano que se chamou Lopez.

Agora, vou terminar, porque não é meu proposito fatigar a camara; mas antes d'isso permitta-me v. exa. que eu me dirija ao digno par e meu amigo o sr. Oliveira Monteiro, que chamou actos de força á selvageria do povo portuense, quando amotinado e vertiginoso assassinou o capitão da primeira companhia de granadeiros do regimento de infanteria n.° 12, João Pitta Bezerra, cujo cadaver arrastaram pelas das da cidade até que o atiraram ao rio Douro.

S. exa. podia augmentar a lista dos actos de selvageria praticados pelo povo amotinado a que chamou actos, de força, e addicionar o assassinato do tenente coronel Oliveira, o proprietario da casa das sereias apodado de jacobino e assassinado diante da relação do Porto quando cá entraram os francezes.

Podia addicionar ainda o assassinato de Bernardim Freire, succedido, tambem n'essa occasião e tambem alcunhado de jacobino, em frente da cadeia da cidade de Braga, e outros.

Quer s. exa. que lhe diga o que são actos de força do povo portuguez como eu entendo que o são?

Acto de força do povo portuguez foi quando elle, ao mando do condestavel e de D. João i, affirmou a nossa nacionalidade nos campos de Aljubarrota a 14 de agosto de 1385.

Acto de força do povo portuguez foi quando elle, á voz de D. Affonso IV, affirmou a nacionalidade da peninsula nos campos entre Sevilha e Granada junto ao rio Salado.

Actos de força do povo portuguez foi quando elle, estendendo o seu braço potente, desde as margens do Tejo á America, á Africa e á Asia, levando ali os reflexos da nossa civilisação e sepultando na uma do esquecimento todos os preceitos por que até então aquelles povos barbaros se regeram e sobre a lousa era que os guardou, ergueu, encimando-a com o nome portuguez, a orgulhosa tábua das nossas leis á dextra das nossas quinas.

Vozes: - Muito bem.

(Muitos dignos, pares cumprimentaram o orador.)

O sr. Presidente: - Vae ler-se a moção mandada para a mesa pelo sr. Miguel, Maximo.

Foi lida e admittida á discussão a moção do digno par, que é do teor seguinte:

Moção

A camara dos dignos pares do reino, conhecendo as circumstancias extraordinariamente anormaes e imperiosas que levaram o governo a exercer funcções legislativas, releva-o por isso e passa á ordem do dia.

O sr. Pereira Dias: - Começando por declarar que está inteiramente de accordo com o sr. presidente do conselho, que, era resposta ao digno par sr. Barros e Sá disse "falle se serio, porque a questão é seria",pedia licença ao sr. Miguel Maximo para. salvando a respeitabilidade da sua pessoa, que muito considera, não lhe responder já.