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452 DIARIO DA CAMARA DOS DIGNOS PARES NO REINO

d’esta casa serão accordados por aquella voz prestigiosa vibrante e elegantissima!

Perante o triste espectaculo da morte bem podemos considerar quão inuteis e improficuas são estas luetas em que andâmos uns com os outros!

Sr. presidente, eu estou realmente commovido ao fallar da morte d’este meu distinctissimo amigo.

Marçal Pacheco foi innegavelmente um grande talento, e um largo e bondosissimo coração.

Marçal Pacheco passou uma vida trabalhosa.

Descendente de uma familia pobre e humilde, luctou desesperadamente com o fim de sustentar seu pae, nos ultimos dias da vida, e mais seis ou sete irmãos, de quem foi sempre amparo e protector desvelado.

N’essa lucta incruenta, que é desconhecida por aquelles que teem sido sempre bafejados pela fortuna, por aquelles que não sabem o que é a desgraça e a miseria. Marca] Pacheco teve que ferir muitas susceptibilidades e de maguar muita gente; mas não podendo negar-lhe o talento, tentaram por isso morder-lhe a reputação.

Talento egregio, aconteceu-lhe o que succede a todos os homens eminentes, isto é, os odios, as invejas, a ignorancia, a malevolencia tentaram muitas vezes feril-o.

O que é verdade, sr. presidente, é que se não fosse pobre a sua origem, e se não fossein os cuidados e a verdadeira miseria que soffreu no principio da sua vida, com o talento que tinha, era de certo o maior hqmem da nossa terra, e talvez não o tivesse accomniettido a enfermidade que o levou á sepultura.

Repito, é fraca a minha palavra para exalçar como, devia os meritos de Marçal Pacheco, e como é ainda cedo para que a historia possa fazer-lhe inteira justiça, limito-me a inclinar-me sobre a sua sepultura e a acompanhar de lagrimas a minha flôr incommensurave}.

Associo-me do coração ás palavras de v. exa., sr. presidente, e ás do nobre ministro da justiça e proponho, embora isso não esteja nas praxes d’esta casa, que em attenção ao extraordinario talento, do finado e em signal de dôr, de saudade e sentimento, a sessão seja levantada.

Tenho dito sr. presidente.

(S. exa. não, reviu.)

O sr. Presidente: — Em vista da manifestação da camara não careço de consultal-a sobre a minha proposta para se consignar na acta um voto de profundo sentimento, mas consultal-a-hei sobre a proposta do digno par, o sr. conde de Lagoaça, para se fechar a sessão. "O sr. Visconde de Chancelleiros: — Peço a palavra.

O sr. Presidente: — Tem a palavra o digno par sr. visconde de Chancelleiros.

O sr. Visconde de Chancelleiros: — Associa-se do coração á demonstração de sentimento apresentada pelo digno par que o precedeu. Estimou ver que o sr. ministro da justiça, por parte do governo, igualmente se associara á manifestação do mesmo sentimento, que tinha inspirado ao sr. presidente palavras de dor sentida, nos termos em que a podia significar o presidente desta camara.

Abstrahindo, porém, da proposta, porque Deus o livrasse de ter de intervir com o seu voto n’uma questão, por assina dizer, pessoal, e que se referia a um illustre morto, queria deixar significado o seu voto contra o pensamento da mesma proposta; porque entendia que, uma vez votada uma moção n’estes termos, estabelecer-se-ia o precedente, e a camara levantaria invariavelmente a sessão, qualquer que fosse a importancia dos trabalhos que se discutissem, quando infelizmente a camara dos dignos pares perdesse algum dos seus membros ou quando mesmo se d’esse tão funebre successo na outra casa do parlamento.

E verdade que Latino Coelho disse que a posteridade não deve carpir e chorar sobre a memoria dos grandes homens; podià acrescentar que a morte dos grandes homens, ou antes, a vida d’elles é um grande ensinamento; mas por fórma nenhuma o seio do parlamento póde ser, nem uma academia, nem porventura a sala onde se celebre, em nenias sentidas a morte de homens, por mais distinctos que fossem.

É necessario considerar, continúa o digno par, que nós somos a manifestação e expressão do paiz. É justo, com effeito, que a uma dôr que nós sintâmos, se associe a dor geral do paiz, de que somos interpretes; mas devemos ser iguaes e justos, e devemos comprehender bem a importancia d’aquelle que póde ter essa consideração do paiz.

Ha tempos, não estava n’esta camara, viu que foi levantada a sessão em demonstração de sentimento pela morte de um cidadão distincto pelas suas altas qualidades litterarias, sob proposta, cre, de um dos membros do governo, na camara dos senhores deputados.

Ignora se fez a mesma proposta n’esta camara porque, repete, não estava presente.

Trouxe-lhe isso á memoria a desigualdade de condições e a injustiça de interpretação, e apreciação que a nossa historia contemporanea accusa.

Houve um homem grande, na nossa historia constitucional, grande pelos seus merecimentos, pela sua iniciativa, pela sua intelligencia, grande e muito grande pelo seu zelo patriotico e pelos serviços prestados á causa liberal, nas horas mais afflictivas da sua historia.

Esse homem foi aquelle que, n’um rochedo do oceano, ergueu uma dictadura, a mais fecunda que a historia do nosso paiz tem tido, e que foi como que ensinamento para os dictadores que sobrevieram depois, e que em outras condições de facilidade, não souberam ou não tentaram fazer o que aquelle homem conseguiu fazer, isolado de tudo e de todos.

Esse homem era Mousinho da Silveira.

Apregoou aos echos dos quatro ventos do céu, em todas as orientações, um jornal muito lido, que era o Jornal do commercio, a necessidade impreterivel de dar uma demonstração publica do sentimento nacional, a favor da memoria d’aquelle homem.

Esteve aberta a subscripção, não sabe se tres, se quatro annos, e fechou-se com 700$000 réis; e esse homem tem hoje, senão me engano, um modestissimo tumulo na Vidigueira do Alemtejo.

Não discute o facto, cita-o apenas.

Quando o sr. presidente do conselho, que não está presente, beijava com enternecimento, com respeito, a mão do cidadão, ao qual se referiu no principio da sua oração, dizendo-lhe em voz sentida — Adeus, mestre - na mesma conjunctura, com pouca differença de dias ou de semanas, tinha morrido um dos homens mais distinctos d’este paiz, aquelle que prestara mais assignalados serviços á causa publica, o auctor do Codigo civil, a respeito do qual não fallará, porque disse o que se podia dizer d’elle a biographia que lhe escreveu com verdade, com eloquencia e com expressão sincera dos verdadeiros factos, a que se referiu, o sr. conselheiro José Dias Ferreira.

Pois bem; qual foi a demonstração que se fez por ocoasião da morte d’esse grande homem, que tanto trabalhou pela causa da liberdade?

Quasi nada, comparativamente.

Deus o livre de ver que se associam os poderes publicos do seu paiz a demonstrações collectivas, que perdem na sua importancia, quando os individuos que as compõem, protestam contra ellas no intimo da sua consciencia.

Para significar bem precisamente o seu pensamento, dirá que se inclina com respeito e com saudade diante da sepultura que está aberta.

Não foi amigo particular do illustre extincto. Recebeu sempre d’elle provas de deferencia; mas abstrahindo da sua personalidade, vota contra a proposta.

O orador, depois de se referir com palavras de sympathia á entrada, na camará, do digno par inarquez da Praia e