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CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO

EM 4 DE AGOSTO DE 1908

Presidencia do Exmo. Sr. Conselheiro Antonio de Azevedo Castello Branco

Secretarios — os Dignos Pares

Luiz de Mello Bandeira
Coelho Marquez de Penafiel

SUMMARIO— Leitura e approvação da acta. — Expediente.— O Sr. Presidente, referindo-se ao fallecimento do Digno Par Sr. Antonio Ribeiro dos Santos Viegas, propõe que se lance, por esse motivo, na acta um voto de sentimento. Associam-se a esta proposta o Sr. Presidente do Conselho, em nome do Governo, e os Dignos Pares Srs. Julio de Vilhena, Pereira de Miranda, José de Alpoim, Teixeira de Sousa, Marquez de Pombal e Pimentel Pinto, que por sua parte propõe que se levante a sessão em homenagem á memoria d'aquelle Digno Par fallecido. São approvadas por acclamação ambas as propostas, e a sessão é immediatamente levantada.

Pelas 2 horas e 30 minutos da tarde, o Sr. Presidente abriu a sessão.

Feita a chamada, verificou-se estarem presentes 21 Dignos Pares.

Lida a acta da sessão antecedente, foi approvada sem reclamação.

Mencionou-se o seguinte expediente:

Officios dos Ministerios dos Negocios Estrangeiros e da Guerra, relativos a documentos que o Digno Par Sr. Sebastião Baracho havia requerido.

O Sr. Presidente: — Poucos dias são decorridos depois que - participei á Camara o fallecimento do Digno Par que foi nosso Presidente, Sr. Rodrigues de Carvalho, e já hoje tenho a cumprir o triste dever de me referir á morte do Digno Par Sr. Antonio Ribeiro dos Santos Viegas, noticia já hontem publicada nos jornaes da noite e confirmada nos Jornaes d'esta manhã.

O Digno Par Sr. Santos Viegas era um illustrado sacerdote.

Raras vezes subia á tribuna sagrada ; todavia, sempre que o fez, foi muito apreciado com justo louvor.

Amigo fervoroso do extincto estadista Lopo Vaz, filiou-se no partido regenerador, ao qual prestou bons serviços e acompanhou com muita dedicação.

Foi eleito Deputado por diversos circulos.

Na tribuna parlamentar, como na sagrada, se não era frequente, versava

os assuntos com reconhecida intelligencia e são criterio.

As suas qualidades pessoaes e politicas levaram no á presidencia da Camara electiva, cargo que exerceu com a maior imparcialidade.

Na Camara dos Dignos Pares veio depois confirmar o credito e estima que lograra alcançar naquella Camara.

Pelo seu trato affavel conquistou amigos em todos os que com elle tratavam.

Evitou sempre os exageros politicos, do que resultou não soffrer malquerenças.

Creio, pois, interpretar os sentimentos da Camara dos Dignos Pares propondo que se lance na acta da sessão de hoje um voto de sentimento pela morte de Santos Viegas, e que d'esta resolução se dê conhecimento á familia do illustre extincto. (Apoiados geraes).

(S. Ex. não reviu).

O Sr. Presidente do Conselho de Ministros e Ministro do Reino (Ferreira do Amaral) : — Sr. Presidente: pedi a palavra a V. Exa. para me associar, por parte do Governo, á justa homenagem por V. Exa. proposta á memoria de um dos nossos collegas, que serviu com dedicação o país e que a todos captivava pelo seu trato affavel, como V. Exa. muito bem disse.

Estão presentes antigos companheiros e correligionarios do extincto, que mais de perto o conheceram.

Por isso não quero demorar a occasião de a Camara ouvir o muito que esses nossos collegas podem dizer acêrca do fallecido Digno Par. (S. Exa. não reviu).

O Sr. Julio de Vilhena: — Sr. Presidente : associo-me com profundo sentimento á manifestação de condolencia que V. Exa. propôs pelo fallecimento do Digno Par Monsenhor Santos Viegas.

Em meu nome e em nome do partido regenerador, a que tenho a honra de pertencer, perfilho inteira e completamente as palavras de elogio proferidas por V. Exa., porque são absolutamente justas.

Monsenhor Santos Viegas era um sacerdote dignissimo, um defensor estrénuo da Igreja, sempre correcto no seu porte e maneiras.

Um Governo da feição politica de Santos Viegas quis provê-lo numa vaga que se dera em uma das nossas dioceses.

A sua modestia, porem, levou-o a preferir áquella alta representação e dignidade o parochiar a freguesia de S. Tiago de Anta.

O seu valor mostrou o não só em discursos que proferiu nesta e na outra casa do Parlamento, como tambem presidindo aos trabalhos da Camara dos Senhores Deputados numa occasião difficil.

Nesse encargo, com inteira correcção e estricta imparcialidade, soube Santos Viegas manter-se dentro dos preceitos do regimento, sem. deixar de

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espeitar e acatar os direitos parlamentares dos membros d’aquella Camara. (Apoiados).

Sr. Presidente: o partido regenerador está de luto, porque Santos Viegas era um prestigioso, dedicado e valioso membro d'este partido. (Apoiados).

(S. Exa. não reviu este extracto do seu discurso).

O Sr. Pereira de Miranda: — Em nome do partido progressista, associo-me ao voto de sentimento pela morte do Digno Par Santos Viegas.

Companheiro do extincto, durante muitos anãos, na Camara dos Senhores Deputados, e depois nesta, tive occasião de apreciar a sua modestia e a dedicação que tinha pelos interesses do país e pelo partido a que pertencia, qualidades que lhe grangearam a estima não só de correligionarios como de adversarios politicos. (Apoiados).

(S. Exa. não reviu).

O Sr. José de Alpoim:— Associo-me de todo o coração ás palavras pronunciadas pelos oradores antecedentes.

Fui membro da Camara dos Senhores Deputados quando a ella presidia Santos Viegas, e então tive ensejo de reconhecer em S. Exa. um alto caracter, motivo por que mantive com este Digno Par as mais cordiaes relações.

Comquanto adversario politico do illustre extincto, mas seu amigo pessoal, de todo o coração me associo ás manifestações da Camara.

(S. Exa. não reviu).

O Sr. Teixeira de Sousa: — Cumpro um dever de amigo associando-me ás palavras de sentimento com que o Sr. Presidente se referiu á morte de Santos Viegas.

Presto assim homenagem singular a quem me acompanhou com a mais carinhosa amizade nas alegrias e nas desditas.

Grande cidadão, Santos Viegas amou e serviu o seu país com entranhado affecto e foi um correligionario dedicadissimo, que nunca recusou ao seu partido intelligencia ou sacrificios.

Elle era um grande cidadão, e um excellente companheiro e collaborador.

Foi, como muito bem disse o Sr. Pereira de Miranda, estimado até pelos seus adversarios politicos (Apoiados).

Com muito sacrificio presidiu á outra casa do Parlamento numa epoca difficil, quando ali explodiam as maiores contendas e as mais acerbas paixões, e houve-se nesse difficil posto com a maior correcção e dignidade.

Mais tarde foi honrado pelo Chefe de Estado com a nomeação de Par do Reino.

Mas, Sr. Presidente, acima de tudo, Santos Viegas foi um homem generoso e bom, tendo para, es seus amigos dedicados affectos, e Deus sabe como estas qualidades já são raras nesta epoca de injustiças e egoismo.

Monsenhor Santos Viegas era meu amigo pessoal devotadissimo: occupava por isso no meu coração um logar escolhido.

Sr. Presidente : só por um sentimento de intima saudade por este illustre morto é que me levantei para associar-me, como amigo particular e pessoal que fui de Santos Viegas, á proposta de V. Exa. porque em nome do partido regenerador já falou, e eloquentemente, o Sr. Julio de Vilhena.

(O Digno Par não reviu este extracto do seu discurso).

O Sr. Pimentel Pinto: — Sr. Presidente : pouco tenho a dizer e nada mesmo diria se a Santos Viegas não me ligassem estreitos laços de amizade.

A Igreja perdeu um sacerdote modelar, o Pais perdeu um leal servidor, a Camara dos Pares um dos seus ornamentos mais distinctos, o partido regenerador um correligionario dedicadissimo, e eu um dos meus melhores amigos.

Sr. Presidente: a fina intelligencia de Santos Viegas, a cultura do seu espirito, a sua inquebrantavel energia e a sua devoção partidaria eram sobejamente conhecidas e difficilmente se podem exceder.

Não são faceis de esquecer os altos dotes de espirito do Presidente da Camara dos Senhores Deputados na memoravel sessão legislativa de 1894, assim como aquelles que o conheceram na intimidade não deixarão de se lembrar, com saudade, das primorosas qualidades do seu coração.

Associando-me pessoalmente ao voto de sentimento, pois que em nome do partido a que me honro de pertencer já o fizera o Digno Par Sr. Julio de Vilhena, peço licença para additar á proposta de V. Exa. uma outra, e é que a Camara levante hoje a sessão em homenagem á memoria d'aquelle que foi nosso querido collega. (Apoiados ge-raeè).

(O Digno Par não reviu este extracto do seu discurso).

O Sr. Marquez de Pombal:— Pedi a palavra, Sr. Presidente, para me associar ao voto de sentimento proposto por V. Exa. pelo fallecimento do Digno Par Santos Viegas. Dispenso-me de fazer o seu elogio, porque já V. Exa. e outros Dignos Pares que me antecederam no uso da palavra o fizeram de maneira muito brilhante.

(S. Exa. não reviu).

O Sr. Presidente: — Julgo que a Camara quererá approvar por acclamação a minha proposta, additada com a do Digno Par Sr. Pimentel Pinto, e que d'estes factos se dê noticia á familia do extincto. (Apoiados geraes).

Estão approvadas por acclamação.

A proximo sessão é amanhã, com a mesma ordem do dia que vinha para hoje.

Está levantada a sessão.

Eram 2 horas e 50 minutos da tarde.

Dignos Pares presentes na sessão de 4 de agosto de 1908

Exmos. Srs. Antonio de Azevedo Castello Branco; Marquezes: de Penafiel, de Pombal j Condes: das Alcaçovas, de Bomfim, do Cartaxo, de Figueiró; Moraes Carvalho, Alexandre Cabral, Pereira de Miranda, Teixeira de Sousa, Campos Henriques, Carlos Palmeirim, Eduardo José Coelho, - Mattozo Santos, Dias Costa, Ferreira do Amaral, Francisco José Machado, Ressano Garcia, Joaquim Telles de Vasconcellos, José de Alpoim, Julio de Vilhena, Pimentel Pinto e Bandeira Coelho.

O Redactor,

ALBERTO PIMENTEL.

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