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208 DIARIO DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO

sr. ministro do reino, parece-me que a camara não deve ter receio, e o governo teria feito muito melhor se se compenetrasse desta idea, e viesse aqui á camara pedir uma auctorisação lata para contrahir um emprestimo, pois assim andaria muito melhor para o paiz.

O governo porem não obrou deste modo; tem querido exercer uma certa pressão para obrigar a camara a votar lhe uma cousa que ella não póde nem deve votar lhe, e que prejudica altamente o interesse geral.

Desde o momento em que se de uma auctorisação nestas condições não haverá banqueiro algum que faça um contrato em melhores condições, porque não haverá nenhum que despreze os seus interesses, lucros e vantagens.

Sr. presidente, sinto muito que o sr. ministro do reino se retire, porque foi quem me obrigou a pedir a palavra, e tenho de referir-me a s. exa. (O sr. Ministro do Reino: - Eu não me retiro.)

Permitta-me pois a camara que eu interrompa a ordem das minhas reflexões para responder ao sr. ministro do reino que parecia ter vontade de se ausentar, e que eu não quero forçar a estar aqui.

Sr. presidente, ouvi hontem dizer ao sr. ministro do reino que os momentos de maior amargura, que tinha tido, fôra quando o povo acompanhado de musicas e fogueies tinha ido a sua casa admirar a rigidez, a austeridade e a força de energia com que s. exa. tinha andado nas cousas publicas e nas reformas que tinha encetado, e que poucos dias depois a sua popularidade tinha fugido, e esses admiradores estavam fazendo-lhe uma opposição fortíssima.

Sr. presidente, é natural a angustia do prelado, porque o arrependimento lhe veiu por fim, e agora expia os momentos de vaidade em que a humildade do bispo nunca se de veria converter. Eis-aqui o que parece ser natural, interrogada a consciencia do sacerdote, do ministro da igreja; os factos, que faliam mais alto, protestam porem, contra similhante interpretação. O que parece porem fora de duvida é que o governo aproveitando-se ainda de estar com o expediente, se servisse das suas auctoridades para promover manifestações que não indicavam mais do que uma popularidade ficticia, promovida e falsamente baseada, e que depressa lhe fugiu, assim como lhe fugiu daquelles que o sr. bispo por si ou por seus collegas comprometteu de certa forma, e a quem promettia satisfazer certas e determinadas aspirações, e, feito este accordo, recebia em sua casa, e consentia mesmo se levantassem das suas janellas os vivas, os hossanas que s. exa. hoje lamenta, porque hoje já os não póde obter, e porque mais tarde o ministro da igreja se viu forçado a remunerar o serviço daquelles seus enthusiastas com a demissão, com transferencias, e não sei com que mais; já vê a camara que o coração bondoso do sr. ministro do reino não póde deixar de se amargurar quando procurava esmagar aquelles que o tinham feito ressuscitar... Não me admira pois que esta popularidade o amarguraste e o amargure ainda. Não o amargurava ella ao principio; mas amargurava o depois, e amargurava-o porque não podia satisfazer aos compromissos que talvez existissem; amargurava-o porque esta popularidade não servia já como não serviam as representações que foram publicadas para sustentar a politica do governo, combatendo completamente a idéa de transacção com os accionistas dos caminhos de ferro, e era essa politica sustentada nos jornaes do governo que fez cair um ministro que então pertenceu a este gabinete, e era exactamente essa politica que lhe dava essa popularidade ephemera com que o governo pretendeu sustentar-se illudindo o povo.

Então, sr. presidente, essa politica era boa, as representações eram boas, era util a publicidade delias; mas hoje as cousas mudaram, e o governo vê-se na necessidade de vir aqui passar pelas forcas caudinas, renegando todas as suas idéas politicas e todo o seu passado, não só querendo accordos com a companhia do caminho de ferro do sul, mas até com a do norte; por isso o sr. ministro do reino não leu, renega, já não quer, as representações que o sustentaram e que chamou concussionarios aos banqueiros que protegiam e eram accionistas dos caminhos de ferro.

Sr. presidente, o sr. ministro fui estranho á maior parte das representações que foram arranjadas pelas auctoridades, tão estranho como foi aos festejos de Lisboa! Foi estranho assim como o foi aos festejos de Lisboa! Felizmente nós sabemos tudo o que se passou, e conhecemo-nos muito bem!

Comtudo foi por estas representações e por aquelles festejos que o governo ressuscitou ainda, bem que ressuscitou para que o paiz conhecesse como se arma á popularidade e como eram falsas as idéas que sustentava o governo, idéas que traziam até certo ponto força para elle, e desprestigio para a opposição, e foi por isto que o governo fez publicar em grande escala essas representações, apesar do seu programma ser de economias. E este outro ponto que tambem hei de tratar em occasião opportuna; hei de perguntar se as economias, que se fizeram com a desorganização do serviço publico, eram verdadeiras economias. Eu hei de demonstrar que ellas foram feitas para se darem aos commerciantes e aos banqueiros, á de fora, tirando a milhares de individuos os meios de subsistencia. Hei de demonstrar que os prejuizos que ellas trouxeram não corresponderam ás vantagens, e que o actual governo não tinha capacidade para tão melindrosa, difficil e árdua tarefa.

Sr. presidente, ainda bem que ressuscitou este ministerio, porque, se nesse tempo tivesse caído, ainda essa opinião falsa continuaria pelo paiz, e nós poderiamos soffrer ainda outra vez as calamidades de erros e aberrações de um ministerio que, ou não tinha idéas, ou, se as tinha, estavam em desharmonia entre os cavalheiros que compunham o gabinete, e mesmo de cada ministro comsigo mesmo conforme as circumstancias. Havia e ha discordancia nas idéas, discordancia no pensamento e systema, e tanto, se perguntarmos ainda hoje ao governo qual e o seu systema fixo, qual é o seu pensamento governativo e uniforme á vista e em presença da verdade e dos seus actos, sujeitos a principies diversos e oppostos, e a contradicções de todos os dias, elle não no-lo sabe dizer. É pois necessario que o paiz se esclareça, que conheça estes homens que lhe teem acarretado gravissimos males, e não se illuda com programmas falsos, falsas economias e falsissimas operações de credito.

Ainda bem, repito, que o governo ressuscitou para que o publico conhecesse os homens como elles são, o seu valor, o seu merito e patriotismo, e como elles pelas suas imprudencias e audácia, filha da ignorancia, trataram de aggravar as circunstancias difficeis e melindrosas em que o paiz se acha, desprestigiando-nos lá fora.

Sr. presidente, para se defender o governo diz que por não estar habilitado com as quantias sufficientes para pagar as letras não póde fazer a reforma dellas em boas condições. Este argumento não colhe porque o governo devia ser previdente e devia, logo que tomou conta dos negocios publicos, dispor as cousas de modo que não chegasse a esse extremo, e ao mesmo tempo estudar um systema financeiro, de maneira que se não visse obrigado a aceitar contratos destes que ferem o nosso credito e arruinam o paiz. Os srs. ministros não devem ter a vaidade de que as suas pessoas são as unicas competentes para administrar a fazenda publica, e que não ha outros homens neste paiz habilitados que saibam melhor gerir os negocios. Se os srs. ministros não sabem ou não podem cumprir bem a sua missão deponham as pastas e entreguem-nas a quem melhor as saiba gerir (apoiados}. Se não querem nunca tomar a responsabilidade de actos que podem concorrer para a perda da nossa autonomia, sejam prudentes e tenham sobretudo abnegação.

Sr. presidente, porque as praças estão fechadas hermeticamente a este ministerio, como disse o sr. conde de Samodães, segue-se porventura que estejamos num paiz tão desgraçado que não haja homens politicos, com preceden-