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284 DIARIO DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO

moções de confiança n’esse governo. Isto é que á grave é que é serio, tanto para uns como para outros.

Se os partidos monarchicos têem commettido erros, se têem usado de meios pouco convenientes, [....] se não todos, pelo menos alguns, têem seguido uma marcha similhante, e por isso o povo assevera que tão bons são uns como os outros.

Não lhe admira nada ter visto os homens, que se dizem da idéa nova, approximarem-se dos monarchistas, e apparecerem depois commendadores, conselheiros, viscondes Q até condes.

Alludindo á questão das fornadas e á dos coroneis, que foram consideradas palpitantes para esta camara, vê que nos meetings e nas representações não se falla n’ellas, mas sim no imposto de rendimento e no tratado de Lourenço Marques.

Entende que o primeiro não affecta em geral a maior parte dos que representam contra elle; e quanto ao segundo, observa que nos meetings monarchicos não se falla em similhante tratado, e que até para o do theatro de S. Carlos se convidava o publico a discutir a marcha economica e administrativa do governo e uns certos descuidos nas relações internacionaes!

Com relação aos acontecimentos de domingo, nota que, quando se deram factos analogos, os governos vinham pedir ao parlamento que lhes desse força para restabelecer a ordem, e este dava-lh’a; mas agora succede o contrario, porque a moção do sr. Barjona, mostrando querer afastar qualquer ligação da parte da opposição com os ultimos sucessos, e affirmando o respeito que esta tem pelos principios de ordem publica, acaba por declarar que o governo actual não está á altura da gravidade das circumstancias! O governo não governa, é governado! disse o sr. Barjona. Mas quem governa ahi? É o sr. Barjona, ou o sr. conde de Vai bom?

Declara que se este governo cair, e a vara do commando passar para o sr. Barjona, fica satisfeito. Está intimamente convencido de que elle saberá sustentar a ordem, e haverá então uma verdadeira tranquilidade. Se o conmmando passar ás mãos do sr. conde de Valbom, a camara verá, e o paiz, que o principio da auctoridade não treme. Diz isto, porque já teve a honra de ser ajudante de campo de s. exa. n’aquella celebre campanha de 19 de maio, e acompanhou-o de casa do sr. Braamcamp para o quartel do Carmo, e daqui para a secretaria da guerra. Crê que ninguem como elle (orador) póde affirmar que, se a vara do cominando passar para as mãos do sr. conde de Valbom, não ha de tremer.

O partido progressista, que esteve afastado do poder durante oito annos, fez meetings e representações, mas nunca veiu para a rua tumultuando; e, se viesse levava, e levava bem, porque as arruaças não são meios politicos do um partido serio.

Alludiu aos tumultos de Coimbra por occasião dos exames, onde a tropa desfechou sobre o povo, e o general da divisão não consentiu que seguisse um processo intentado contra o tenente commandante da força; alludiu tambem ao motim que houve em Tavira, em 1872, por causa das novas medidas de capacidade. Comparou, estes acontecimentos com os de domingo ultimo, tirando a conclusão de que aquelles foram mais graves do que este. N’esta epocha era ministro da justiça o sr. Barjona, e por isso entende que s. exa. não tem auctoridade para propor a moção de censura que apresentou.

O governo actual encontrou a fazenda publica em tal estado, que não póde deixar de recorrer ao imposto e aos emprestimos. Não quer dizer que o déficit e a divida fluctuante que o governo actual encontrou não fossem e resultado de despezas reproductivas; mas o facto é que foi preciso attenuar o primeiro, e contrahir um emprestimo para pagar a segunda.

Não acha orthodoxa a doutrina de defender os proprios actos com os precedentes dos adversarios; mas tambem não julga que estes tenham a auctoridade necessaria para centrar um governo por actos iguaes aos que elles praticaram.

Para se não ha governo optimo; tudo é relativo. Se no conjuncto das medidas julga um melhor do que o outro, dá-lhe o seu apoio. Sendo assim a questão dos precedentes é fatal, inevitavel, porque os governos são o que são, não só em, virtude dos seus proprios principios, mas em virtude das circumstancias que os rodeiam.

Concluiu declarando que retira qualquer phrase que possa affectar o melindre de algum dos seus collegas. Affirma que emquanto tiver a honra de pertencer a esta camara ha de cumprir religiosamente o seu dever, porque é incapaz de escolher para theatro dos seus desvarios, que os tem, esta respeitavel assembléa.

Quanto ao modo por que ha de votar, tem a dizer o seguinte:

Como legislador vitalicio, filho da prerogativa da coroa, ha de votar contra a moção do sr. Barjona de Freitas, que considera uma protecção aos arruaceiros, que, insultando, ultrajando, apedrejando a força publica, davam vivas á republica.

(Sussurro na galeria,)

(O discurso do digno par será publicado quando o devolver.)

O sr. Presidente: — Peço ás galerias que se conservem na ordem, aliás terei de fazer cumprir as disposições do regimento.

O sr. Visconde de Chancelleiros (sobre a ordem): — Mandou para a mesa a seguinte proposta:

Proponho que a camara convide o governo a declarar que projectos de lei tem dependentes da approvação desta casa do parlamento, e que deseja ver approvados por ella com urgencia, por assim o reclamar o bem do paiz.

Repete esta proposta, que já fez na ultima sessão, visto que não se lhe deu andamento; e repete-a, porque o sr. ministro do reino disse que a opposição não deixava caminhar o governo.

Não tem duvida de acceitar o additamento feito a esta sua proposta pelo sr. marquez de Sabugosa, para, que se diga tambem á camara quaes são os projectos que se acham pendentes nas commissões.

Respondendo ao orador precedente, disse que s. exa. pretendeu lançar á conta da opposição as arruaças de domingo, e disse que o seu partido, durante o periodo de oito annos em que esteve fóra do poder, nunca recorrera a similhantes meios; mas s. exa. esqueceu-se de dizer que a camara tinha ficado affrontada com a nomeação inconstitucional dos novos pares, e que a opposição actual não recorreu ao expediente inconstitucionalissimo de abandonar o seu logar no parlamento.

Não vae buscar referencias ao passado, porque agora só se trata do que aconteceu no domingo, e que é da responsabilidade cio governo.

Observou que o sr. Pereira Dias arguiu o sr. conde do Valbom, dizendo que lhe dessem a vara do cominando, porque dera provas de o poder exercer em 19 de maio; mas não lembrou ao arguente que, se o argumento podia ferir o sr. conde de Valbom, tambem ia ferir o sr. presidente do conselho e o sr. niinist0 de reino, que eram collegas d’aquelle digno par.

Não quer saber se o governo subiu ao poder por insinuações directas ao chefe do optado, o que se sabe é que a sua permanencia á frente dos negocios compromette as instituições, porque augmenta a opposição que só manifesta no paiz.

Como désse a hora, pediu para ficar com a palavra reservada.

(O discurso do digno par será publicado quando o devolver.)