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254 DIARIO DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO

então responder, censurando que o accusassem na sua ausencia.

O sr. presidente do conselho é a summidade politica da situação, e deve se-lo, porque é uma summidade do paiz.

Não lhe recuso o preito e homenagem que me merece e ao publico.

Mas, agora, na questão dos caminhos de ferro, não me parece ser s. exa. que deva responder pelo seu collega, não é decoroso mesmo que o ministro das obras publicas deixe de ser responsavel e de defender este documento da sua iniciativa.

Não me parece em harmonia com o systema parlamentar que um ministro cautelosamente se mantenha n'um silencio estudado., quasi despresador das provocações continuadas dos oradores que têem fallado n'esta questão.

Eu lamento, e não invejo essa situação, reputa-o abaixo da dignidade de ministro e menos attenciosa para com a opposição; equivale a dizer que não são capazes de responder á opposição; não é por certo este o caso de dizer que o callado é o melhor. Vós tendes fallado, quando apresentastes o projecto; sustentae as vossas idéas e se elle não passar tomae a responsabilidade proveniente de não caminhardes com as ideas que dizeis indispensaveis para a vossa gerencia: tomae ainda a responsabilidade da falta de tempo que nos daes para analysar projectos d'esta importancia, fazei-nos calar com rasões e não com o vosso silencio. Não emendo, sr. presidente, este systema adoptado pelo governo.

O sr. ministro das obras publicas vê alterar pelas commissões o seu systema de idéas, e nem ao menos assim, diz porque adoptou o systema contrario; s. exa. teve já um systema de fazer face ás despezas necessarias para estas vias ferreas, que era a venda dos caminhos de ferro do sul e sueste.

Esta questão foi aqui ventilada, ha pouco tempo, por incidente, e o sr. ministro disse, em resposta ao sr. Carlos Bento, "ainda bem que tal cousa se não fez!" Ainda bem! pois a idéa do sr. ministro era tirar do producto da venda d'aquelles caminhos de ferro os meios que precisava para fazer outros, e vem o proprio ministro dizer que ainda bem que as suas idéas fóram nullificadas! Serafica humildade, mas pouco decorosa politica.

Hontem o sr. presidente do conselho, tomando a palavra em logar do sr. ministro das obras publicas, disse n'esta camara: "eu declaro a questão ministerial".

Fallou bem s. exa., como sempre falla, e tratou bem da questão, e mesmo quando eu ia passando junto de s. exa., ouvi-lhe dizer: "a questão ministerial é a auctorisação para construir estes caminhos de ferro, faze-los agora ou ámanhã, a camara tomará essa responsabilidade".

O sr. Presidente do Conselho de Ministros: - Apoiado.

O Orador: - Eis a rasão por que eu digo que estamos todos ministeriaes. Quem é que não quer caminhos de ferro?

Façamos caminhos de ferro, disse o sr. Costa Lobo, muitos mais, um mesmo para cada uma das nossas casas, e neste ponto todos nós somos ministeriaes, mas esta questão não é só a conveniencia de haver muitos caminhos, é tambem uma questão economica. A questão ministerial é que nós declaremos que deve haver caminhos de ferro; pois bem, eu sou ministerial, digo que quero quantos caminhos de ferro possa haver; a questão de opportunidade não é ministerial; votemos contra este projecto, porque é inopportuno que se façam tantos caminhos ao mesmo tempo, sem se votarem os meios para se fazer face á despeza, e peior ainda, adiando esta para o fim da construcção, isto é, decretando a ruina da fazenda publica inevitavelmente, para um dado momento.

Tudo isto carece de explicações da parte do governo, mas elle não falla.

Os parlamentos nomeiam commissões para darem pareceres; as commissões são compostas de homens competentes encolhidos pela camara. Ora, que esses homens não fallem, sobretudo os que estão de accordo com o governo e com as idéas da commissão, porque têem o governo que responde, acho a cousa mais logica d'este mundo, mas que não fallem aquelles que se separam das idéas da commissão, e que assignaram com declaração, não percebo.

O sr. Braamcamp esse sei eu que está doente, por consequencia não é a elle que se referem estas minhas asserções. Com relação aos cavalheiros que assignaram vencidos, sem querer irrogar censura a nenhum, direi que sinto que não tenham a caridade de ensinar aqualles que deviam suppor que precisavam ser ensinados.

Agora direi, sr. presidente, que estou persuadido que a rasão por que o sr. ministro das obras publicas não falla, é porque tem idéa differente, sobre a modestia, d'aquella que o sr. presidente do conselho hontem apresentou. O sr. Fontes entende que a excessiva modestia é ridicula, mas o sr. ministro das obras publicas não o entende assim,, de fórma que leva a sua modestia ao ponto de não se atrever a pedir a palavra para dizer alguma cousa sobre os motivos que o obrigaram a modificar tanto as suas idéas.

O anno passado já eu insisti n'esta questão do caminho de ferro, e pedi ao sr. ministro das obras publicas que mandasse para aqui os documentos sobre a receita do caminho de ferro do sul. Eu mortificava s. exa. fazendo requerimentos sobre requerimentos, mas nunca foi possivel vir um só documento.

Disse eu o anno passado ao meu amigo o sr. Vaz Preto, que considerava este caminho de ferro uma comedia. S. exa. levantou-se irado e rebateu triumphantemente as minhas palavras. Isto era o que diziam os jornaes, mas não era em parte exacto, porque usamos sempre reciprocamente um com o outro a maior urbanidade. Hoje ainda digo que o pensamento do governo é não fazer caminhos de ferro, mas sim ficar auctorisado a continuar a illudir o paiz. Se não fosse assim não apparecia este monstro que outra denominação não póde ter este projecto. A commissão que deu parecer sobre elle, modesta mas intelligente, e que tem muita competencia, diz no seu relatorio, o que não podia deixar de dizer, por mais caridade que quizesse ter com o governo, pois que se não dissesse nada, não resalvava o decoro da sua competencia e intelligencia: tanta humildade só a tem o sr. ministro das obras publicas.

"O plano poderia talvez ser mais acabado e melhor definido. "

Esta é a opinião da commissão, em quanto ao incompleto e absurdo do plano e é verdadeira. A commissão não podia deixar de dizer alguma cousa a respeito da parte economica, que tão desprezada é no projecto do governo, a commissão é benevola com o governo, mas, não deixa de lhe fazer sentir o perigo, lava as suas mãos da responsabilidade,, deixando-a toda ao governo e a este respeito dia:

"Todavia uma bem entendida prudencia recommenda-nos que não caminhemos com demasiada precipitação e que conciliemos o desenvolvimento dos nossos melhoramentos com as urgencias economicas e financeiras de modo que evitemos, qualquer abalo ou perturbação, que com quanto de pouca dura, poderia desequilibrar ou entorpecer por algum tempo o regular andamento das cousas publicas. As vossas commissões estão certas que o governo no uso da auctorisação que lhe é dada, não ha de deixar de attender a esta ordem de considerações."

Não podia faze-lo por menos a commissão, por mais ministerial que fosse, por mais desejo que tivesse de mostrar affeição ao governo; estar-lhe a sacrificar a sua intelligencia, a sua capacidade é a sua opinião ao porto de nem ao menos dar um brado pelo qual mostre a sua competencia e que conhece e avalia o perigo e o absurdo do projecto era impossivel, não havia ninguem que deixasse de o fazer.