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256 DIARIO DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO

tadas como podiam ser. A situação, infelizmente dirigida pelo sr. bispo de Vizeu, não conduziu as cousas pelo verdadeiro caminho; tem elle porém a gloria de ter encetado o caminho das economias e de ter feito com que as administrações que se lhe seguiram se vissem forçadas a manter e respeitar aquelle grande principio das economias, principio pelo qual se operou uma revolução pacifica n'este paiz, a mais brilhante e gloriosa que tenho visto, por mostrar quanto um povo pacificamente póde conseguir, quando se delibera a tomar uma resolução.

Não era o governo do sr. bispo de Vizeu que merecia as minhas sympathias. Fiz-lhe toda a opposição. Fui intransigente com as suas medidas dictatoriaes. Ninguem mais aqui as combateu; combati-as eu só. Quem, se não eu, se levantou n'esta casa contra as extorsões feitas ao palacio de crystal? Quem, se não eu, atacou a lei eleitoral, decretada por aquella dictadura? Movi-lhe toda a guerra que lhe podia mover no limite das minhas faculdades parlamentares; mas o que se não póde deixar de dizer é que o paiz estava repassado da necessidade da applicação do principio de economias aos dinheiros do estado, e que esse principio serviu de norma aquella administração.

Bastou que se fechasse meia porta dos negociantes, para que aquelle governo, perseguido pelos interesses illicitos, pelo despeito dos empregados publicos e de muitos interesses offendidos com as economias tivesse nova popularidade, achasse mais força, para que o governo que já ia em descredito tornasse a rehabilitar-se; aquelle governo era composto de homens honrados, mas que infelizmente não estavam á altura da sua missão revolucionaria, respeitavam porém a opinião publica e foi por isso, e só por isso, que se sustentaram.

Desprezar a opinião publica, é que faz com que os governos se achem em perigosa situação, que mais tarde compromette a fazenda e a tranquillidade do paiz.

Sr. presidente, não quero eu exagerar tanto esta minha opinião como o meu amigo, o sr. conde de Rio Maior, que na má administração das finanças quer filiar a revolução franceza.

Estou persuadido que revoluções como a revolução franceza não podem ser causadas por uma desorganisação financeira. As causas eram sociaes, ha muito tempo que estavam a accumular-se; é comtudo certo que as crises financeiras apressam esses cataclismos. Na actualidade póde acontecer o mesmo: quando começa a ser discutida a conveniencia ou não conveniencia das monarchias, quando os monarchas teem de descer a litigar o reconhecimento do seu direito perante a uma eleitoral, quando estes principios se estabelecem, as monarchias vão em decadencia, a democracia vae subindo. Eu considero a introducção das idéas democraticas no systema representativo como um grande meio de governo, de progresso, de segurança publica, mas tambem considero que a monarchia constitucional é um esteio firmissimo da nossa independencia, principalmente na actualidade.

Não ha temer das tempestades externas, quando se approximarem da nossa porta, se nós tivermos um bom governo, uma boa administração, uma prudente economia.

O nosso povo está congraçado com a idéa monarchica.

Mas quando as inscripções tiverem de baixar sem esperança de tornarem a subir, quando tiver de ser lançado um imposto excessivo e vexatorio, então, sr. presidente, é que eu muito terei de receiar não só da questão financeira, mas da questão monarchica; temo essas questões, e temo-as ainda mais pelo bem e pela independencia do meu paiz do que pela propria monarchia.

Caminhemos no progresso material, mas não queiramos caminhar muito depressa. Porque, como dizia D. fr. Caetano Brandão, quando visitava os parochos, e lhe pediam reformas, a muitos dizia: vamos de vagar, que temos pressa, quem caminha de vagar, caminha sempre, não cança e alcança; quem caminha depressa, cança antes de chegar ao fim da sua jornada.

Sr. presidente, eu não quero por fórma alguma tomar muito tempo á camara; por isso vou começar a justificar a minha proposta, que é uma proposta de adiamento.

Eu desejava que o sr. ministro das obras publicas fallasse, mas o sr. ministro não quer fallar; está no seu direito, o governo está silencioso, não teu nada a dizer! Comtudo, sr. presidente, é a primeira vez que um ministro não quer absolutamente tomar a palavra quando as suas idéas são tão impugnadas! Pergunta-se ao ministro competente a sua opinião, e elle não quer dizer nada. Este silencio equivale a dizer: façam o que quizerem, arrebentem a fallar como a cigarra a cantar no verão. Eu bem sei que isto não é uma desconsideração, é um pensamento reservado, para não gastar tempo, e para que a camara não possa tratar esta questão pausadamente, o que fazia com que não houvesse tempo de votar o projecto; é, por assim dizer, collocar-nos entre a espada entre a parede, ou havemos de deixar de votar ou havemos de nos calar porque o ponteiro inexoravel nos mostra a hora. Pois, sr. presidente, o debate não poderá durar senão uma hora ou hora e meia, e uma vez que o governo não quer discutir, o que ha de fazer a opposição? A opposição tem de se demorar mais n'elle, pois que tem de ponderar as rabões pró e contra.

A responsabilidade que vá a quem tocar, eu pela minha parte antes quero a responsabilidade de não votar por discutir, do que a de votar calando-me.

Sr. presidente, uma das causas mais justificativas do adiamento, que vou propor, é sem duvida, em primeiro logar, o não termos conhecimento do ponto exacto, em que esta linha tem que se encontrar com a do caminho de ferro hespanhol, e isto já o governo devia saber, para no-lo dizer.

Sr. presidente, uma das emendas que se fez na camara dos srs. deputados, foi por causa da quentão militar, circumstancia que era forçoso attender, n'um caminho de ferro internacional, e que está em contacto com a Hespanha.

Porventura já o governo marcou de accordo com o governo de Hespanha, a fórma por que se devia tratar este assumpto? Quaes são os trabalhos que o governo a este respeito tem feito? Eu desejava que o sr. ministro das obras publicas, ou em seu nome o sr. ministro da guerra me dissesse se effectivamente ha já alguns trabalhos combinados, ou decididos sobre este assumpto com a n'essa visinha Hespanha? Esperando a resposta de s. exa. eu continuarei depois o meu discurso: creio mesmo que já se nomeou uma commissão para este fim e que esta commissão fez alguns trabalhos.

O sr. Ministro das Obras Publicas (Cardoso Avelino): - Por emquanto não ha trabalho algum positivo feito com o paiz vizinho, para marcar o ponto em que se devem encontrar os dois caminhos de ferro designados no projecto em discussão, com os caminhos de Hespanha, nem tão pouco os podia haver pois que é necessario que o governo esteja habilitado com a respectiva auctorisação das camaras para fazer estes caminhos, sem o que eram desnecessarias quaesquer transacções. Ha comtudo um tratado com a Hespanha, em que os dois governos se obrigam reciprocamente, a não construir caminho de ferro algum que tenha direcção ás fronteiras, sem que previamente uma commissão mixta de engenheiros portugueses e hespanhoes estude e determine o ponto onde devem ligar-se esses caminhos. Não embaraça porem esto tratado a construcção de quaesquer vias ferreas que os dois paizes intentem fazer no seu interior.

O Orador: - Eu agradeço ao sr. ministro das obras publicas o ter quebrado o seu silencio, que me parecia intencional, para me responder á pergunta que dirigi a s. exa., mas a sua resposta auctorisa-me e ida vez mais a que eu sustente o meu adiamento, visto que não ha ainda tratado algum feito com a Hespanha, e que ha um tratado pelo qual se resolveu que nós não poderiamos ir en-