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N.º 37

SESSÃO DE 24 DE MAIO DE 1898

Presidencia do exmo. sr. Marino João Franzini

Secretarios — os dignos pares

Julio Carlos de Abreu e Sousa
Luiz Bandeira Coelho

SUMMARIO

Leitura e approvação da acta. — Expediente. — Propõe um voto de sentimento pela morte de Gladstone o digno par Antonio Candido, e acompanha a sua proposta de algumas palavras.— O sr. ministro dos negocios estrangeiros e os dignos pares Hintze Ribeiro e Luiz do Soveral faliam sobre o mesmo assumpto.— É approvada por acclamação a proposta do sr. Antonio Candido, com o additamento do sr. ministro dos negocios estrangeiros. — Encerra-se a sessão e aprasa-se a subsequente.

Pelas tres horas e cinco minutos da tarde, verificando-se a presença de 32 dignos pares, o sr. presidente declarou aberta a sessão.

Foi lida, e seguidamente approvada, a acta da sessão antecedente.

Mencionou-se o seguinte expediente:

Officio do ministerio dos negocios estrangeiros, acompanhando a copia de uma carta em que Sua Alteza Real o Principe de Joinville agradece a manifestação de sentimento da camara por occasião do fallecimento de sua esposa.

Para o archivo.

Officio da presidencia da camara dos senhores deputados, acompanhando a proposição de lei que tem por fim. dispensar D. José Telles da Gania do pagamento dos emolumentos, direitos de mercê e sello pelo titulo de conde da Vidigueira com que foi agraciado, e conceder ao mesmo e a seus irmãos D. Luiz, D. Constança e D. Eugenia, com sobrevivencia de uns para os outros, os direitos que o actual conde da Vidigueira, seu pae, herdou de seus avós, sobre as propriedades denominadas Mouchão do Inglez e Lezivia da Palmeira, que lhe pertencem em ultima vida, com reversão para a fazenda nacional.

Para a commissão de fazenda.

Officio da mesma procedencia, incluindo a proposição de lei que tem por fim fixar a receita e despeza do estado na metropole, para o exercicio de 1898-1899.

Para a commissão de fazenda.

(Assistiu á sessão o sr. ministro dos negocios estrangeiros.)

O sr. Antonio Candido: — Sr. presidente, sabe v. exa. e sabe a camara para que eu pedi a palavra. Sendo esta a nossa primeira sessão depois da morte de Gladstone, é natural que se consagre toda á memoria de quem, na tribuna politica da sua patria, tanto honrou o decoro e a eloquencia das assembléas legislativas. (Muitos apoiados.}

Por isso, tenho a honra de mandar para a mesa a seguinte proposta, que leio em obediencia ao regimento, e é tambem assignada pelo meu illustre amigo, o digno par sr. Hintze Ribeiro.

A proposta é nestes termos:

(Leu.)

Luiz Bandeira Coelho

A Inglaterra dá a esta hora o alto exemplo de congregar, para a magestosa glorificação do que ella justamente considerava como o mais illustre dos seus filhos, todos os partidos, todas as classes, todas as categorias sociaes, tudo o que pensa e sente nesse vasto imperio, desde os que mais o amaram em vida até aos que mais tenazmente o combateram no seu pensamento ou na sua acção.

Associa-se o mundo todo ao solenme funeral de Gladstone; e associa-se, não por um simples dever de cortezia internacional, mas porque o homem que a Inglaterra perdeu não era apenas orgulho e honra de uma poderosa nação: era tambem gloria, e incontestada gloria, da nossa civilisação e do nosso tempo. (Muitos apoiados.)

Desde que me conheço, e sou testemunha dos acontecimentos que passam ao alcance do meu espirito, ainda não VI mais justa homenagem do que esta, prestada em todas as linguas, em todas as latitudes, por todas as raças e por todos os povos, ao sublime velho, que a propria morte tratou amoravelmente nas derradeiras horas, retrahindo, na sua agonia, a garra terrivel, e deixando-o resvalar sem dor á eternidade!

Não é só a Inglaterra, da qual Gladstone foi um dos mais illustres, senão o mais illustre cidadão neste seculo, e com certeza, sob muitos aspectos, o primeiro, o maior, em toda a esplendida era victoriana; e a Irlanda, que elle soberbamente indemnisou do mal que lhe fez nos principios da sua vida publica, dando-lhe depois, com a liberdade religiosa, a dignidade e a paz da consciencia, com a reforma agraria, a justiça que reclamara desde tanto tempo, e, com a proposta do home rule, a esperança de que, a final, lhe será reconhecida a sua constante aspiração a governar-se por si mesma, — merecendo ficar por tudo isto, na memoria agradecida desse povo, perto da collossal figura de Daniel 0’Connell; e a Itália, que tanta sympathia inspirou sempre á sua alma poética e ao seu coração justo; e a Grecia, que lhe votou uma estatua em preito de gratidão, — e lha erigiu nessa terra abençoada em que só ficam bem, banhadas pelo sol, as estatuas dos poetas, dos heroes e dos deuses; e a Arménia, martyr miseranda do fanatismo musulmano e da abominavel crueldade europea, que elle, já inclinado para a sepultura, vivendo já da morte,, ainda defendeu com tão fervorosa indignação, com tão bella e tão suggestiva eloquencia: — não são apenas estes povos os que comparecem a esta hora, erguendo fachos de luz, no adito da gloriosa immortalidade, a que chega, finalmente, este grande nome.

Todas as nações abatem as bandeiras diante do feretro de Gladstone; e a propria França a sempre gentil e generosa França, esquece que lhe não acudiu em 1870, nessa provação terrivel de que saiu dilacerada, perdidos, arrancados á força dois pedaços sagrados da sua bandeira e da sua alma; esquece, apaga essa dolorosa recordação, e, fazendo justiça ás rasões que determinaram o homem de estado a proceder como procedeu, curva-se respeitosa diante da sua grande memoria, e endereça-lhe ao cortejo, ao mesmo tempo funerario e triumphal, a piedosa e commovida offerenda das suas lagrimas e das suas flores.

(Muitos apoiados.)