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SESSÃO N.° 37 DE 8 DE MARÇO DE 1907 359

ilha, sem effusão de sangue, para que a guarnição evitasse a sorte dos seus camaradas da Ilha de S. Jorge.

O conselho de officiaes, reunido immediatamente pelo governador, foi unanimemente de opinião que se defendessem a todo o transe, e tanto mais quanto se não podia demorar a chegada do soccorro que tinham pedido.

Era enorme a confusão.

Por um lado estava a força armada e as auctoridades, que eram todas miguelistas; por outro, a quasi totalidade dos habitantes do Fayal, mas unicamente armada com a força das suas convicções e do seu amor pela causa da Rainha e da Carta.

Deu-se, porem, no dia 30 de maio um acontecimento que fez mudar por completo o estado das cousas.

Appareceu no horizonte um navio de alto bordo, e, segundo o costume da terra, aprestou-se logo um barco que lhe foi levar refresco: o refresco foi todo comprado de bordo do navio, que era a fragata ingleza La Volage, e pago com quatro peças embrulhadas n'um papel escripto.

No barco ninguem sabia ler, mas quando chegaram ao cães, a primeira pessoa que ali estava nas condições de o poder fazer, leu as seguintes memoraveis palavras que a historia registou preciosamente e que ficaram gravadas no coração de todos os fayalenses:

"Quem vos fala e vos dá estas quatro peças é o Pae da vossa Rainha. As armas, ás armas contra a usurpação. As armas, ás armas que o Conde de Villa Flor está no Pico. = D. PEDRO".

Espalhou-se rapidamente a noticia de que o Imperador estava a bordo da fragata, e que tendo abdicado o Throno do Brasil, vinha á Europa sustentar os insuferiveis direitos da Rainha, Sua Augusta Filha.

Estas noticias causaram grande desanimo entre os miguelistas e indiscriptivel enthusiasmo entre os fayalenses.

Logo no dia seguinte (31 de maio de 1831) reuniu a Camara, com o corregedor, e officiou ao governador, pedindo-lhe que convocasse o conselho para que resolvesse de novo o que convinha fazer em attenção ao bem publico ; comquanto uma parte do conselho se pronunciasse pela continuação da defesa, a maioria foi da opinião que, em vista do que ultimamente occorrera e da bem conhecida desaffeição dos fayalenses a causa realista, convinha mais capitular com vantagem do que exporem-se á sorte das armas, que tão pouco propicia se lhes mostrava.

Em harmonia com esta resolução, partiu na madrugada do dia 6 de junho para a Ilha de S. Jorge o major D. José Maria de Noronha para ultimar as condições da capitulação e voltou no mesmo dia á noite com a resposta.

Succedeu, porem, que, justamente n'esse dia fundeou na bahia da Horta a corveta D. Isabel Maria, de 24 peças.

A chegada d'este soccorro fez com que a guarnição miguelista se pronunciasse de novo contra a capitulação.

Corramos um véu sobre as scenas pavorosas e sanguinolentas, que occorreram nos dezasete dias seguintes, scenas que eu ouvi varias vezes descrever a testemunhas presenciaes e a que poz felizmente termo o desembarque do Conde de Villa Flor, com parte da divisão do seu commando, na praia do Almoxarife da Ilha do Faial, no dia 23 de junho, tendo fugido na vespera a bordo da corveta e n'um navio inglez, o governador e uma grande parte da guarnição miguelista.

No dia 24 de junho de 1831 foi acclamada com a maior solemnidade na Camara, da villa da Horta a Rainha e a Carta.

Procedendo-se pouco tempo depois ás eleições municipaes e parochiaes, o Dr. Antonio José de Avila teve a honra de ser eleito presidente da primeira Camara Municipal da Horta.

Esta eleição do Dr. Antonio José de Avila, que tinha apenas vinte e quatro annos, feita por uma população, que tanto tinha pugnado e que tanto tinha soffrido pela causa da liberdade, prova á mais completa evidencia, a valia dos serviços por elle prestados á mesma causa.

Assumindo a presidencia da Camara Municipal da Horta, o Dr. Antonio José de Avila começou logo a manifestar as suas muito distinctas qualidades de administrador, como o provam os documentos publicos da epoca.

Constando na Ilha do Fayal que Sua Majestade o Imperador preparava uma expedição com que se propunha vir libertar o continente do reino, expedição de que faria parte toda a tropa de linha, a Camara Municipal da Horta, pela voz do seu presidente, convidou os fayalenses a alistarem se voluntariamente, para formarem um corpo de voluntarios nacionaes que se encarregasse da guarnição da ilha, quando aquella tropa se retirasse. Logo no primeiro dia se alistaram 190 voluntarios, que foram divididos em quatro companhias, armados e uniformizados, e tendo estes voluntarios sido convocados para elegerem os seus officiaes no domingo 6 de outubro, teve o Dr. Antonio José de Avila a honra de ser eleito capitão de uma das companhias.

Foi no memoravel dia 7 de abril de 1832 que desembarcou pela primeira vez no Fayal o magnanimo Dador da Carta. O enthusiasmo com que Sua

Majestade Imperial foi recebido, affirma-se pelo seguinte facto. Só aquelles que estavam absolutamente impossibilitados de sair de suas casas é que não foram ao cães para levar a Sua Magestade Imperial o tributo da sua dedicação, do seu respeito e da sua immensa alegria.

Coube ao Dr. Antonio José de Avila, como presidente da Camara Municipal da Horta, dirigir uma allocação ao Imperador logo que desembarcou, allocação a que Sua Majestade se dignou responder.

Da favoravel impressão que ella causou no Imperador no seu estado maior e na sua comitiva, falam as memorias da terra e fala tambem uma memoria importante, mas ainda medita, de uma muito illustre testemunha presencial.

Tendo continuado a afluencia dos fayalenses no alistamento no batalhão de voluntarios nacionaes, o presidente da Camara Municipal da Horta, dirigia o Governo Central, que estava em Ponta Delgada, dois officios, um em 5, outro em 7 de junho. No primeiro participava o presidente da camara a grande affluencia que tinha havido de voluntarios, excedendo já de 400, e no segundo pedia que para elles fosse enviado armamento, visto não haver n'aquella municipalidade. A estes dois officios respondeu a portaria de 20 de junho de 1832,rassignada por Mousinho da Silveira. É de tal modo honrosa para os voluntarios fayalenses que peço licença para a ler á Camara:

"Ministerio do Reino.- O Duque de Bragança Regente, em nome da Bainha, a quem foram presentes os officios da camara da Villa da Horta, da Ilha do Fayal, datados de 5 e 7 de junho corrente, manda, em nome da mesma Augusta Senhora, á camara, e por meio d'ella aos leaes habitantes da Ilha do Fayal, a sua imperial satisfação pelo distincto patriotismo, promptidão e enthusiasmo com que se teem prestado a pegar em armas para defender a sagrada causa da legitimidade e liberdade constitucional, mostrando-se por este modo dignos de servirem de exemplo e de serem propostos como modelo aos habitantes de todas as outras ilhas dos Açores; e manda juntamente participar-lhes, que teem sido expedidas as necessarias ordens para serem entregues a tão briosos voluntarios as armas que a mesma camara requisitou.

Paçô, em Ponta Delgada, 20 de junho de 1832. = José Xavier Mousinho da Silveira".

Sr. Presidente: nos primeiros dias de janeiro de 1833 teve o Dr. Antonio José de Avila a honra de ser nomeado sub-perfeito interino da Camara da