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SESSÃO N.° 37 DE 8 DE MARÇO DE 1907 361

as regalias que pertencem aos representantes da nação, mantinha por igual o respeito que é devido á primeira assembleia do paiz. (Apoiados).

Como Ministro, pugnou constante e inalteravelmente pelo bem do seu paiz.

Como parlamentar, era de uma argumentação por vezes irrefutavel. (Apoiados).

Encontrou seguramente durante a sua vida publica homens de não vulgar merecimento que o atacaram; 'mas elle, desde que a consciencia o acompanhava e lhe dizia que defendia uma causa justa, era verdadeiramente invencivel.

O Duque de Avila e Bolama terminava a sua carreira politica quando eu iniciei a minha. Estava elle no occaso da sua vida publica quando ou tomei assento no Parlamento.

Em 1881 o Duque de Avila fallecia, mas antes, já como Ministro das Obras Publicas, já como Ministro dos Estrangeiros, tive occasião de assistir a debates parlamentares em que elle honrou a tribuna portuguesa de uma maneira verdadeiramente admiravel. (Apoiados).

Fui um dia visitar o Duque de Avila, e depois de elle se ter sujeitado a uma operação melindrosa.

Tinha os seus dias contados; mas não perdera a serenidade extrema nem aquella presença de espirito que acompanha sempre o homem justo e bom.

Encarava a morte sem a recear, sem a temer.

Estava santamente resignado a entregar a alma a quem lh'a havia dado, mas a entregá-la pura e completamente isenta de sentimentos maus e de intenções ruins.

Lembro-me das palavras que me dirigiu no começo da minha carreira ministerial; palavras de incitamento e de generosidade que nunca mais me esquecerão.

Estas minhas palavras não representam só um acta de deferencia ou um dever de cortesia para com a memoria d'aquelle grande homem.

Cumpro um dever civico, e a nação inteira ha de reconhecer que deve ao Duque de Avila e de Bolama altos e relevantissimos serviços. (Apoiados).

Termino, dizendo que o Duque de Avila foi um benemerito da nação, e que bem fazem todos aquelles que honram a sua memoria.-

Vozes: - Muito bem, muito bem. (O Digno Par não reviu).

O Sr. Ministro da Marinha (Ayres de Ornellas): - Cabe-me falar em nome do Governo, associando-me á manifestação da Camara em honra de quem tanto se distinguiu na tribuna parlamentar portugueza.

Associo-me igualmente á proposta mandada para a mesa pelo Digno Par Sr. Hintze Ribeiro.

O Duque de Avila, partindo de uma origem modesta, attingiu as maiores culminancias.

Não espera decerto a Camara que, depois dos traços biographicos tão eloquentemente apontados pelos oradores que me precederam, e com tanta auctoridade, eu vá demorar a attenção dos que me ouvem na rememoração de uma carreira cheia de serviços relevantes ao paiz.

Mas como Ministro da Marinha mal andaria se não lembrasse os valiosos feitos prestados pelo Duque de Avila e Bolama, e como Sua Majestade El-Rei D. Luiz, de saudosa memoria, os quiz glorificar juntando ao titulo de Avila o de Bolama. Foi o então Duque de Avila o encarregado de sustentar, perante o tribunal arbitral, a pendencia entre a Grã-Bretanha e Portugal acêrca da posse da ilha de Bolama, e ainda recentemente, quando tive a honra de ser encarregado pelo Governo de uma missão analoga, tive occasião, procurando conhecer o que se tinha feito em Portugal em materia de arbitragem, de certificar da maneira como tinham sido mantidos os direitos de Portugal por aquelle a quem competia o dever de os manter e sustentar.

Foi em resultado d'essa arbitragem que, como disse á Camara, Sua Majestade El-Rei D. Luiz affirmou o reconhecimento publico juntando o nome de Bolama ao titulo de Avila, honrando assim esse grande estadista. Essa arbitragem marcou e marca para nós o advento de um principio novo do direito colonial, do qual temos usado, ainda que nem sempre com absoluta vantagem e feliz successo. Basta lembrar o que foi a arbitragem de Lourenço Marques e posteriormente outras como a de Manica e a do Barotze.

N'estes termos não posso senão repetir as palavras com que comecei a minha curta exposição, dizendo que o Governo se associa por completo á manifestação da Camara e á proposta do Digno Par o Sr. Hintze Ribeiro.

(S. Exa. não reviu).

O Sr. Sebastião Telles: - Em nome do partido progressista associo-me á manifestação da Camara e declaro que voto a proposta mandada para a mesa pelo Digno Par Sr. Hintze Ribeiro. A proposta representa uma homenagem á memoria do Duque de Avila e Bolama, a que elle tem direito pelos relevantes serviços prestados ao paiz.

Os brilhantes discursos que acabamos de ouvir aos Dignos Pares Marquez de Avila, Hintze Ribeiro e Ministro da Marinha, recordando os factos mais importantes da vida publica

do Duque de Avila e Bolama, encerram os traços principaes da biographia d'esse grande estadista.

Nunca o ouvi no Parlamento, mas aquelles que o seguiram durante annos na sua vida parlamentar, a esses tenho ouvido admirar as qualidades de orador, os grandes conhecimentos e a rara energia d'essa individualidade.

Essas qualidades juntas as facto d'elle ter sido membro d'esta Camara são circumstancias para apreciar e para servirem de fundamento á proposta.

Em vista d'isso proponho que o projecto mandado para a mesa pelo Digno Par Hintze Ribeiro seja dispensado das disposições regimentaes e approvado por acclamação. (Apoiados geraes)

Com esta proposta quero tambem mostrar que o partido progressista se associa ás festas do centenario do Duque de Avila que hoje se realizam na sua terra natal.

Por ultimo lembrarei á Camara a conveniencia de fazer a communicação das resoluções tomadas hoje á viuva do illustre extincto, e á commissão que promoveu o centenario nos Açores. (Apoiados geraes).

(S. Exa. A não reviu).

O Sr. Presidente: - Vou por á votação a proposta do Digno Par. Parece-me que antes d'isso a Camara desejará que continuem no uso da palavra os Dignos Pares que a pediram sobre o centenario do Duque de Avila e Bolama. (Apoiados geraes).

O Sr. Telles de Vasconcellos: - Não venho, Sr. Presidente, associar-me a esta manifestação da Camara em nome de um partido qualquer, porque actualmente não estou filiado em nenhuma das nossas agremiações politicas.

Venho em meu nome, e em nome das relações de amizade que mantive com o Sr. Duque de Avila; venho em nome de um dever, que a minha consciencia me impõe.

E se isto não bastasse para justificar o meu proposito, poderia ainda allegar a muita consideração e estima pelo Sr Marquez de Avila, que é o representante de seu illustre tio, e que, por fortuna minha, tive como primeiro secretario na epoca em que recebi a honra de ser Presidente d'esta Camara.

Não desaproveito o ensejo de lembrar aqui, bem alto, a maneira distincta como S. Exa. exerceu aquelle cargo, que a Camara lhe confiou.

Sr. Presidente: quando alongamos a vista sobre o passado, depara-se-nos um campo immenso, onde só se encontram cruzes; o nosso espirito abate-se, entristece se e aviva-se a saudade por aquelles que já não pertencem a este mundo. Resta-nos como unica compen-