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DIARIO DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO 331

um fim altamente importante; pois são dirigidos de modo, a colher resultados praticos e positivos, não só com respeito aos intuitos humanitarios da mesma associação, á civilisação dos negros, e ao commercio geral do mundo, mas tambem para seu proveito proprio e particular, estabelecendo colonias ou estações commerciaes em differentes pontos d'aquelle vasto continente.

A associação internacional africana, posto que perdesse os primeiros exploradores que mandou a Africa, não esmoreceu, e dispondo de recursos consideraveis, tem enviado para ali successivamente novos exploradores, que partindo da costa oriental e occidental, para o interior d'aquelle continente procuram desempenhar o mais cabalmente possivel a sua missão.

Entre os exploradores que presentemente estão avançando de Bagamayo, no Zanzibar, para o interior em direcção ao lago Tanganika pelo 5° ou 6° parallelo austral, figuram os srs. Carter, Cambier, Popelin, Burdo e outros.

Pelo lado occidental marcha Stanley, que, como todos sabem, partiu da foz do Congo ou Zaire, á testa de uma expedição que vae por conta de uma sociedade particular composta de capitalistas e commerciantes, em que predomina o elemento inglez e belga.

As expedições que partiram do lado oriental encontraram a maxima protecção da parte do sultão Said-Bargasch, que já tem protegido outras expedições, e as aprecia muito, sobretudo depois da sua recente viagem á Europa.

Estas ultimas expedições têem sido organisadas de modo que disponham de todos os meios para tornar altamente productivos os seus resultados praticos. Compraram-se elephantes na Asia para acompanharem as expedições, e esses animaes têem servido de grande auxilio aos exploradores, não obstante o seu pequeno numero, pois tendo morrido dois, restam apenas outros dois, que fazem o serviço de carregadores e prestam outros auxilios muito valiosos.

N'um relatorio dirigido pelos expedicionarios ao comité belga da associação internacional, a que já me referi, assignalam-se os serviços feitos pelos elephantes, e diz-se que têem sido mais vantajosos em favor da exploração que todos os trabalhos anteriormente feitos com o mesmo intuito, pelas circumstancias particulares que se têem dado a tal respeito e que eu vou explicar.

Acontece, como é sabido de todos, que os elephantes de Africa não têem sido domesticados. Até hoje não foi possivel levar estes animaes á obediencia do homem, por falta de outros elephantes amestrados para a sua caça e ensino.

Ora as tribus selvagens de Africa, os negros do interior habituados a ver os elephantes d'aquelle paiz, sempre indomitos, acostumados a caçal-os, matando-os, e não sabendo aproveitar os seus serviços, imaginam que é impossivel domesticar aquelles monstros, e quando vêem que elles acompanham pacificamente as expedições, obedecendo á voz dos brancos, ficam impressionados de tal modo, que não hesitam mais em ajudar os exploradores, e servil-os em tudo que podem.

Vendo os negros que os elephantes se acham domesticados pelos brancos, ao ponto de servirem de carregadores, e ao mesmo tempo obedecendo a todos os seus acenos, consideram aquelles brancos como dominadores de todo o mundo, e julgam impossivel resistir-lhes. E assim tem acontecido.

As expedições, antes d'este recurso, passavam com difficuldade por entre os selvagens, sendo mesmo aggredidas por essas tribus.

Hoje, porém, acontece o contrario, e a superstição relativa ao dominio dos elephantes tem contribuido principalmente para isso.

Os elephantes resistem á terrivel mosca tsétsé, fatal para os outros animaes de carga; e alem do serviço de carregadores, equivalentes ao de sessenta ou setenta negros, os elephantes servem tambem para a caça, e para o ensino dos elephantes africanos, ao modo da Asia.

Os exploradores a que já me referi contam com resultados cada vez mais proveitosos para continuarem as suas operações no sertão africano. Têem elles estabelecido já, ou começado o estabelecimento de oito estações distanciadas de vinte a vinte e cinco leguas, (e esperam tel-as promptas até ao fim d'este anno) desde o Zanzibar até Karéma, junto ao lago Tanganika, a cerca de duzentas leguas da costa oriental, e n'uma longitude proximamente de 27°, o que é de uma alta conveniencia para a exploração d'aquellas regiões.

Ao mesmo tempo Stanley dirigir-se-ha para a parte oriental de Africa. Esta grande expedição, em vista das instrucções que tem da sociedade internacional africana, as quaes têem o caracter scientifico e commercial, deve acompanhar o percurso do rio Congo, e seguir por elle até ás suas origens, quer provenham do lago Tanganika, quer das proximidades da sua margem occidental; vindo assim, a encontrar-se com as expedições que partirão de Zanzipota, a qual se faz acompanhar dos meios necessarios para armar n'este lago um barco a vapor.

É assim que se estão preparando os trabalhos das duas grandes expedições: a do lado oriental e a do lado occidental.

D'este modo, é evidente que uma parte do commercio que se podia obter para o augmento de riqueza e do desenvolvimento das colonias de Moçambique e de Angola, será derivado para o norte d'estas nossas possessões, para os portos de Zanzibar e do Zaire, sem que nós tenhamos feito valer o nosso direito á posse exclusiva da foz d'este rio.

Necessariamente havemos de sentir essa falta, e para a reparar não temos senão a fazer o mesmo que está praticando a associação internacional africana.

Emquanto procurâmos resolver a questão do Zaire, podemos tambem enviar expedições á similhança d'estas a que me referi.

Façamos pelo sul das nossas possessões o mesmo que outros estão fazendo pelo norte. Sigamos o itinerario do major Serpa Pinto. O seu relatorio official póde ser um grande auxiliar n'este caso.

É sobre este ponto que eu tenho a honra de chamar a attenção do nobre ministro da marinha e do ultramar, para que em favor dos maiores estabelecimentos coloniaes que possuimos, Angola e Moçambique, se façam alguns sacrificios por parte da metropole, de modo que não sejam infructiferos os trabalhos emprehendidos e realisados n'aquellas regiões, não só por Serpa Pinto, mas pelos distinctos officiaes Capello e Ivens que o acompanharam e que fizeram importantes trabalhos n'outras direcções.

Eu desejava que, em relação aos recursos do thesouro, repetissemos e aproveitassemos trabalhos d'esta natureza, á similhança do que as nações, que não têem como Portugal os mesmos interesses na Africa, mas procuram tel-os, estão fazendo de um modo pratico e vantajoso.

Não digo mais nada sobre este assumpto, porquanto não é o que se discute. Foi apenas uma divagação. Volto a fallar ácerca do projecto Com muita satisfação lhe dou o meu voto. Como premio dos notaveis serviços feitos pelo distincto official Serpa Pinto, parece-me pouco. Como proposta para regularisar a posição do mesmo official no exercito, era necessaria, e é indubitavel que não devia deixar de ser apresentada.

Todos sabem que os officiaes do exercito portuguez, quando despachados para o ultramar, devem servir ali por tres annos para ter direito a conservar o posto de accesso que obtiveram sem prejuizo de antiguidade dos officiaes da sua classe.

Quando voltam sem haver completado esse tempo de serviço, ou têem de passar ao posto em que estavam anteriormente á sua partida, ou têem de voltar ainda ao ul-