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SESSÃO DE 27 DE JUNHO DE 1887 537

do districto, desde Cabo Delgado até á bahia do Lurio, na extensão de 320 kilometros.

Fez o recenseamento de todas as povoações marcadas na dita carta, e alem d’estes trabalhos importantes fez durante quatro annos observações meteorologicas n’aquellas paragens. Todos estes trabalhos scientificos são de grande valor não só para o governo, mas para a sociedade de geographia.

E qual foi o premio conferido áquelle activo e solicito governador?

Nenhum.

Até agora os seus relevantes serviços e trabalhos scientificos não têem merecido a menor prova de apreço da parte dos governos, serviços que, como já disse não são de agora sómente, mas de ha muito, não fallando já no acto heroico de hastear a bandeira de Portugal em Macaloé, em janeiro de 1886, arrancando ao destacamento arabe a do sultão que tremulava ali na casa do quartel. Tudo isto parece ainda ignorado do governo, pois não consta que o mais pequeno premio lhe tenha sido conferido.

Ignora porventura ainda o sr. ministro da marinha estes serviços?.

Não tem s. exa. ainda conhecimento d’aquelles trabalhos scientificos na Africa, que está ainda pouco explorada, civilisada, e deficientemente conhecida?

D’aquella região apenas me consta que ha uma carta geographica allemã, muito imperfeita, o que deixa ver bem o valor que deve ter o trabalho voluntario e espontaneo do nosso compatriota, o sr. Palma Velho.

Parece incrivel que o governo ignore todos estes factos, que são notorios, do dominio publico e authenticados por documentos officiaes.

A modestia d’aquelle illustre official tem-lhe feito occultar na sombra o que deve estar patente á luz do sol.

Se tão grande modéstia procura attenuar e esconder tão brilhantes feitos, era ao governo que competia engrandecel-os, conferindo-lhe o premio condigno e devido.

Se o governo tem tido a incuria e à negligencia, de ignorar ainda os trabalhos scientificos d’aquelle illustre governador, é conveniente ao menos que os fique conhecendo por minha intervenção, no que tenho muito prazer e orgulho.

Sr. presidente, s. exa. o sr. ministro da marinha deve saber quão deficientes e inexactas são em geral as cartas de Africa e portanto quanta importancia deve ter um trabalho d’este genero.

Sr. presidente como eu sou avaro em elogios, tudo. o, que estou dizendo deve ter algum merecimento para o. sr. Palma Velho, porque é o tributo de homenagem que presto aos seus gloriosos serviços altamente patrioticos. Se os governos do paiz têem, praticado a indesculpavel falta de os não commemorar, sirvam ao menos estas sinceras e convictas palavras para os fazer conhecer da camara e do publico, que lhe fará a justiça devida.

Sr. presidente, quer v. exa. saber e a camara qual foi o galardão que teve aquelle valente e brioso official por tão relevantes serviços? Foi uma demissão secca! No decreto que o demittiu nem sequer vinham as palavras do estylo «serviu a meu contento!

Sr. presidente, a compensação dada áquelle illustre militar pelos relevantes serviços que tem prestado, foi demittil-o a 4 de janeiro de 1887, transmittindo-se pelo telegrapho essa demissão ao governador de Moçambique; o qual immediatamente a communicou áquelle official. Nem uma palavra de louvor, nem uma palavra de consideração, nem a justiça que lhe era devida acompanhou áquelle decreto de demissão secco, e inconveniente.

É muito, é demais, custa acreditar similhante proceder, mas é a verdade!!! A demissão foi lhe pois communicada, mas o governador de Moçambique, que tinha recebido ordem para tomar Meningane e Tungue, entendeu não dever para esse fim prescindir da cooperação deste valente, corajoso e intelligente militar, que era tambem homem de conselho, e mandou-lhe pedir para se encarregar d’aquella difficil e arriscada empreza, e fazer immediatamente os preparativos para ser levada a cabo.

O sr. Palma Velho, que tinha sido gravemente desconsiderado ante o serviço da patria, esqueceu o seu resentimento, e prestou-se como soldado a fazer parte da força expedicionaria. Não o consentiu o governador geral da provincia de Moçambique, confiou plenamente n’elle, e entregou-lhe a direcção e o commando das forças! Sr. presidente, elle já não era governador e por consequencia escusava de arriscar a vida em favor de um paiz que não sabia reconhecer os seus serviços. Mas apesar de ter deixado de ser governador, e ter sido tão desconsiderado, quiz confundir o governo que não lhe soube fazer justiça e apreciar o merecimento, e por isso, elle proprio em pessoa, poz se á frente das forças que tomaram Meningane e Tungue.

Sr. presidente, tão solicito foi sempre este official, que apenas foi chamado para executar aquelle espinhoso emprego partiu a toda apressa no hiate, que recebeu em viagem um rombo tão forte, que naufragou. Felizmente, poderam salvar-se todos, porque a maré desceu e o barco ficou em secco. Era mister tomar pelas armas Meningane e Tungue, para reivindicarmos as possessões a que tinhamos direito. Difficilima e arriscada era a empreza, mas o animo guerreiro e brioso d’aquelle militar, perigo algum o entibiava.

Sabia e conhecia bem as difficuldades, e o risco que corria, tendo á sua disposição tão poucas e limitadas forças para desalojar de posições fortes e defendidas quatrocentos arabes aguerridos, e as forças do regulo macua Mapeta, que auxiliava o vali de Tungue, que estava já disposto a tomar a iniciativa do ataque. Alem d’estas noticias aterradoras e graves, o commandante de Mocimboa participou-lhe que o poderoso regulo de Mussacá estava combinando com Said e Alibo, governador de Tungue, a fazer ao mesmo tempo a guerra em todo o territorio, desde a bahia de Mocimboa até á de Meningane. Aqui está a situação em que se achava o coronel de cavallaria, José Raymundo de Palma Velho, que tinha ordem de tomar Meningane e depois Tungue.

S. exa. entendeu que, n’esta difficilima conjunctura, só um acto de grande arrojo e de verdadeiro heroismo podia dar resultado proficuo; entendeu que no momento em que os arabes estavam ousados e provocadores, era mister responder-lhes immediatamente com a maxima energia e denodo, e atacar, antes que elles o fizessem. Resolveu, pois, por si só, tomar a responsabilidade toda, dar o assalto á aldeia de Meningane, defendida por muitas arabes, e tres peças de artilheria. Preparou tudo com a maior pericia, zelo e prudencia, combinou a hora de desembarque com as horas da maré, para os barcos não ficarem em secco, prevenindo assina qualquer desastre na occasião do reembarque. Embarcou nos escaleres da canhoneira Douro o destacamento de caçadores n.° l, composto de 30 praças, e uma força da canhoneira Douro, de trinta homens, foi com este punhado de valentes que mandou remar para Meningane. Os soldados iam desconfiados, porque o fogo era vivissimo e eram poucos para tão arriscada e importante empreza. O commandante, porém, que não contava o numero, más sabia qual a sua responsabilidade, e o que mandava o dever, disse-lhes que aquelle que voltasse para a retaguarda lhe deitaria os miolos fóra. Animados todos com o exemplo do bravo commandante, que se lançou á agua, todos se lançaram, e com maior ardor responderam ao fogo vivissimo, avançando sempre a marchemar-he para Meningane. O valor e coragem foi de tal ordem, que em pouco tempo os arabes foram desalojados, fugindo para o mato, deixando em poder dos nossos a aldeia de Meningane, que breve foi pasto das chammas, tres pecas de artilheria e duas bandeiras. Esta aldeia ficou tendo o nome