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288 DIARIO DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO

classificação os melindrei e continuo a sustentar que elles se encontram áquem dos constituintes.

Mais avançado do que estes, acha-se o partido republicano, que incontestavelmente progride todos os dias, que sem cessar se organisa e de certo vae approveitar o ensejo que lhe damos para a propaganda das suas doutrinas a proposito da reforma constitucional. Alem do partido republicano temos ainda o socialista, que prosegue nos seus trabalhos de engrandecimento, e cujas doutrinas eloquentemente advoga um distintissimo escriptor, um homem de sciencia, que professa abertamente o socialismo theorico que em Allemanha é representado pela escola dos socialistas cathedraticos catheder socialisten

Este é o estado das opiniões politicas no paiz.

Os principios conservadores estão profundamente abalados, enfraquecidos, abandonados, custa-me ter de o repetir, abandonados pelo homem que parecia reunir todas as condições de prestar á sua patria ainda maiores serviços do que tem prestado, collocando-se á frente d'esses principies, defendendo-os, não transigindo, não cedendo. Mas as propostas de que se trata, revelam, no modo por que foram redigidas, estar o governo de accordo no fundo com todas as idéas revolucionarias e discordar sómente conquanto á rapidez da marcha, mas associando-se á mesma idéa fundamentalmente falsa de querer mais democracia onde a igualdade pratica é já maior que nas mais adiantadas republicas, mais liberdade onde já todos se queixam do abuso d'ella, onde a auctoridade é já tão fraca que só a indole bondosa do povo ainda, guiado pela sua excellente educação tradicional torna possivel a paz, a ordem e a coexistencia social.

Pedem todos progressos, mas são os progressos a que se referia mr. de Laveleye no seu artigo em que fallei hontem sobre a crise do liberalismo, mostrando que já não ha hoje rasão alguma para querer progredir ainda na modificação das instituições politicas dos povos modernos da Europa, porque todas as garantias importantes, necessarias de liberdade o desenvolvimento social estão perfeitamente asseguradas e quaesquer esforços ulteriores para novas transformações hão de necessariamente conduzir ao socialismo, á anarchia e á destruição da civilisação.

As questões politicas serias acabaram hoje, as questões do dia são sociaes e economicas.

Apesar de estarmos habituados a abstrahir do que se passa no resto da Europa, o facto é que assistimos presentemente a uma luta gigante, que por ora não tem passado dos dominios da diplomacia, entre o principio republicano, anarchista e o principio conservador monarchico.

A Allemanha, que se acha á testa deste movimento de associação de todas as forças conservadoras, já conseguiu uma alliança monarchica que se estende do mar glacial ao estreito de Gibraltar, desde a Russia até a Hespanha e isolou completamente a França republicana, fazendo reviver, a alliança dos tres imperadores.

Á ultima hora acaba de tirar á republica franceza a derradeira esperança que lhe restava de uma alliança europea, a da Russia.

Tudo indica uma união geral contra os esforços anarchistas, uma liga internacional conservadora, que resista á internacional socialista e perturbadora.

Não teve a confederação suissa de expulsar recentemente os revolucionarios que lá costumavam estabelecer o seu centro de operações?

Não teve essa republica que prohibir a entrada no seu territorio ao Mazzini da peninsula, Zorrilla, constante promotor de revoluções em Hespanha?

É o momento que julgamos opportuno para abrir as portas á anarchia europea, reconhecendo a necessidade de alterar todos os artigos essenciaes da nossa constituição, relativos ás prerogativas da corôa, á organisação do parlamento, ás garantias populares, ao direito de reunião, etc.

Tudo isso ha de ter uma solução que nenhum de nós prevê, porque nós não podemos contar senão com as declarações do sr. presidente do conselho, que são dignas de toda a confiança.

Mas, por muito leal e energico que seja s. exa., e comquanto eu reconheça a sua consummada habilidade em dirigir os homens e os acontecimentos, o seu profundo conhecimento da pathologia moral da natureza humana; não sei se poderá conter a agitação que se vae provocar.

E podemos nós crer que todos os homens politicos estejam decididos de boa vontade a acompanhar o sr. presidente do conselho, que se não manifestarão desaccordos na escolha das soluções a dar a tão variados problemas, como os que propõe á nação o artigo unico do projecto?

Estamos atrazados em tudo, até em revolução; os nossos homens novos, os pretendidos iniciadores de grandes reformas, estão ainda no ponto de vista dos agitadores de ha meio seculo.

Então pediam-se com justiça garantias contra o abuso da auctoridade, contra a prepotencia dos principes, mas hoje esses receios já não têem rasão de ser.

Justificavam-se ha cincoenta annos, no tempo dos governos oppressores e absolutos de cujo jugo todos desejavam libertar-se.

Hoje por toda a parte se procura fortalecer o principio de auctoridade, armar os governos com novos meios de de defeza em presença dos novos meios de ataque fornecidos pela sciencia moderna aos inimigos da ordem social. A propria Inglaterra, o paiz que respeita todas as liberdades, tem adoptado ultimamente medidas repressivas; medidas de excepção, destinadas, não só a fazer cessar a agitação da Irlanda, mas a oppor um dique á torrente das idéas revolucionarias que em toda a parte tendem a transtornar o seu pacifico e bem ordenado progresso.

Todos nós sabemos que o sr. presidente do conselho tem muitas vezes procedido contra as suas idéas proprias, de certo com excellentes intenções, mas sacrificando a sua propria opinião. E não sou eu só que o digo, muitos dos seus mais fieis partidarios o confessam, embora se não decidam, como eu, a proclamal-o bem alto.

Ainda não ha muito tempo s. exa. nos levou, áquelles que o seguiamos lealmente pela confiança que n'elle tinhamos, a votar uma moção, manifestamente inconveniente e prematura, mas que era necessario substituir a outra muito mais aggressiva e violenta que os partidarios impacientes aqui tinham apresentado.

O sr. presidente do conselho, para não deixar de ser o chefe, consentiu em ir apoz a minoria turbulenta do partido.

N'essa occasião o sr. Mar tens Ferrão, dirigindo-se ao gr. presidente do conselho, disse-lhe que dirigisse o seu partido, que se não deixasse arrastar por elle. (Apoiados.)

Ora, sr. presidente, quem nos assegura que na futura camara revisora se não hão de reproduzir situações analogas, scenas similhantes. E terá s. exa. mais energia então, poderá melhor conter os insubordinados e facciosos?

Durante a discussão na outra camara, debaixo da apparente unanimidade, não se manifestaram symptomas de resistencia ou antes de impaciencia d'aquelles que pretendem ir mais longe que o sr. presidente do conselho?

Sou tolerante para todas as convicções sinceras, mas exijo que se mostrem a descoberto e francamente se affirmem.

Quem quer a liberdade de cultos aliste-se nas fileiras dos partidos mais avançados, quem quer a ruina d'esta camara proclame-se ultra liberal, mas que se introduzam no partido do sr. presidente do conselho, ou talvez mesmo sejam chamados por s. exa. para á sombra do seu nome, approveitando-se da confiança que elle inspira, fazerem propaganda revolucionaria, minando as instituições em nome de um partido que tem por missão defendei-as, é o que me parece o mais traiçoeiro e fementido dos procedimentos.

Ora, a explosão d'esses elementos perturbadores, por