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546 DIARIO DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO

proposta, não vejo no regimento qualquer distracção para os dignos pares fallarem antes da ordem do dia.

Creio que o digno par tambem fez algumas observações por se ter passado á ordem do dia logo depois de ter fallado um ministro da corôa, mas o que se estava tratando não era uma questão que seguisse, mas sim um assumpto em que um digno par julgou fazer algumas perguntas ao governo, o que não implicava a idéa de se não poder passar á ordem do dia por se fechar a inscripção apoz o discurso de um ministro da corôa.

É o que me cumpre responder a s. exa. para justificação da mesa, e agradeço as expressões que s. exa. se dignou dirigir-me.

O Orador: - Eu sei pelas explicações que o sr. ministro da marinha tem dado no parlamento que a noticia é inteiramente falsa.

O que eu sinto, sr. presidente, e n'esta parte associo-me ao digno par o sr. Vaz Preto, é que não se recompensem condignamente os serviços prestados á nação por aquelle illustre coronel, por aquelle bravo militar.

Segundo disse o sr. ministro da marinha creio que ha idéa de lhe dar a commenda da Conceição.

Ora, sr. presidente, a commenda da Conceição dá-se a qualquer sujeito que vem rico do Brazil, e não me parece que seja o bastante para remunerar quem vae arriscar a vida pela sua patria.

V. exa. sabe muito bem que nós temos uma lei que dá um posto de accesso aos militares que praticam acções da natureza d'aquellas que praticou aquelle brioso militar.

Parece-me que esse posto de accesso é a recompensa condigna com que elle deve ser contemplado.

Sobre este ponto nada mais direi visto não estar presente o sr. ministro da marinha.

Eu hontem tambem tinha pedido a palavra para tratar de um assumpto que me parece importante, e sobre o qual ninguem mais competente de que v. exa. para o considerar como general e como distinctissimo engenheiro que é.

V. exa. e a camara sabem muito bem que? sempre que se trata da questão da defeza do paiz, eu tenho levantado a minha debil voz em seu favor.

Chegámos a um tempo em que se dá pouca importancia á defeza do paiz, até se mette a ridiculo esta questão. Quem tal faz ridicularisa as maiores summidades militares, como os mais habilisados homens d'estado, como Moltke, Bismark, Freycinet, Guizot, etc. como eu terei occasião de mostrar á camara.

Quero referir-me ao traçado do caminho de ferro de Torres Vedras, traçado que, na minha opinião, prejudica altamente a defeza do paiz.

Eu não quero agora occupar-me d'este importante assumpto, mas hei de tratal-o opportunamente, e espero ter a meu lado a v. exa., que é competentissimo na materia.

Eu vou enviar para, a mesa um requerimento pedindo a v. exa. tenha a bondade de lhe dar andamento, e é elle concebido nos seguintes termos.

(Leu.)

Sr. presidente, este assumpto parece-me extramente grave e eu provarei á camara que o traçado podia ser feito de modo a satisfazer todas as condições economicas e de defeza do paiz.

Realmente é para lamentar que uma posição d'aquellas, considerada militarmente hoje como uma das mais fortes e inexpugnaveis do paiz, seja assim inutilisada.

Sr. presidente, não sei qual foi o sr. ministro das obras publicas que approvou este traçado.

Fosse qual fosse, eu hei de provar á camara que o traçado com relação á defeza do paiz, foi prejudicado pelos interesses da companhia.

Para evitar um tunnel de 1:000 metros, augmentou-se o trajecto prejudicando altamente a defeza.

Eu li hoje n'um jornal que o sr. ministro da fazenda, por quem eu tenho a maior consideração e admiração pelo seu talento, tinha dito na outra casa do parlamento que não queria que governasse o paiz nenhuma oligarchia financeira.

Eu tambem sou da mesma opinião; mas vou mais longe.

Não quero que o paiz seja governado por nenhuma companhia, por mais poderosa e respeitavel que seja. Desejo que se respeitem os seus legitimos interesses, mas não quero que se prejudiquem os do estado, principalmente quando affectem a defeza do paiz.

Tenho concluido.

O sr. Ministro da Fazenda (Marianno de Carvalho): - Affirmou que o governo está empenhado em recompensar os serviços prestados pelos nossos soldados na defeza e tomada da bahia de Tungue, se bem que reconheça que os militares portuguezes não carecem de incentivo para o cumprimento dos seus deveres.

Continuando disse que aquelle traçado não é da responsabilidade do actual governo, e que, não tendo competencia para discutir assumptos de estrategica militar, se limita a dizer que fará sciente ao seu collega das obras publicas das reflexões feitas pelo digno par o sr. Camara Leme.

Por ultimo, sendo certo que dissesse que na situação politica actual não preponderasse a influencia de nenhuma autocracia financeira, assevera que está disposto a não consentir que em Portugal governe senão o governo.

(O discurso de s. exa. será publicado quando o devolver.}

O sr. Presidente: - Vae ler-se o requerimento mandado para a mesa pelo digno par o sr. Camara Leme.

É o seguinte:

Requerimento

Requeiro que se peça ao governo, pelos ministerios das obras publicas e da guerra, remetta com urgencia a esta camara:

Copia do parecer do engenheiro João Joaquim de Matos, sobre o traçado do caminho de ferro de Lisboa a Torres Vedras, considerado sobre o ponto de vista estrategico;

Quaesquer pareceres que sobre o mesmo importante assumpto tenham sido enviados ao ministerio da guerra, pela commissão de defeza de Lisboa e seu porto, ou qualquer outra commissão.

Sala da camara, em 27 de junho de 1887. = O par do reino, D. Luiz da Camara Leme.

Mandou-se expedir.

O sr. Margiochi: - Na sessão de 1 de julho deste anno mandei para a mesa um requerimento, pedindo esclarecimentos, pelo ministerio das obras publicas, e como a publicação d'este requerimento foi feita de modo que transtornou completamente o seu sentido, eu peço para que fique consignada na acta de hoje a seguinte rectificação:

"Na sessão de 1 do corrente, no requerimento do digno par o sr. Margiochi, onde se lê: melhoramentos ferro-viaes na Granja do Marquez, deve ler-se: melhoramentos fundiarios na Granja do Marquez."

O sr. Presidente: - Far-se-ha na acta a rectificação pedida pelo digno par.

O sr. Visconde de Carnide: - Sr. presidente, em nome da commissão de agricultura, proponho que sejam aggregados á mesma commissão os dignos pares srs. Braamcamp Freire, conde de Valenças, Candido de Moraes e Margiochi.

Aproveito a occasião de estar com a palavra para chamar a attenção da camara e do governo sobre a necessidade de tomar algumas providencias com respeito ás vinhas de Torres, quasi todas já invadidas pela phylloxera.

Os vinhateiros dizem que ha difficuldade em obter o sulphureto que as formalidades estabelecidas para as requisições do sulphureto são morosas, e tanto que preferem mandar vir o sulphureto do Porto d'onde lhes vem mais rapidamente do que da Merceana.