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548 DIARIO DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO

vavelmente não o serão, que fiquem ao menos aqui bem reconhecidos e patentes ao publico. Para esse fim vou ler á camara o Boletim official em que elles são apreciados pelo governador geral de Moçambique, que, cumprindo as ordens do sr. Pinheiro Chagas, elogia aquelles que se tornaram dignos de louvor:

"Tendo chegado ao meu conhecimento a maneira como o dito governador se houve no desempenho d'esta difficil commissão até arvorar a bandeira nacional na margem meridional de Meningane, em 23 de janeiro, já usando de toda a prudencia para bem dispor os diversos elementos que tinha em jogo, já dando mostras da mais energica attitude para manter por todos os modos a dignidade, o prestigio do nosso bom nome, já sabendo inspirar nos xeques o devido respeito á nossa bandeira, já finalmente conseguindo tornar sympathica a nossa dominação suave, civilisadora e liberal, e inspirando a todos a necessaria confiança para accentuar a permanencia real d'essa dominação.

"Hei por conveniente louvar em meu nome o dito governador coronel do exercito de Portugal José Raymundo de Palma Velho, pela maneira digna, briosa, intelligente e energica como cumpriu o serviço de que o incumbi, e pedir-lhe que louve os empregados sob suas ordens, o thesoureiro almoxarife João de Barros Carrilho e o tenente da guarnição Antonio da camara Calyndo, ficando em lhe dar minuciosa conta do procedimento de todos ao governo de Sua Magestade.

"Palacio do governo geral da provincia de Moçambique, 3 de fevereiro de 1886. = O governador geral, Augusto de Castilho."

Aqui tem v. exa. como eram apreciados pelo governador geral de Moçambique os serviços prestados por aquelle distincto official, tão bravo quanto prudente.

Das palavras levantadas e encomiesticas do governador se reconhece o grande apreço e conceito em que era tido aquelle distincto, brioso e modesto official.

Merito, valor, lealdade, prudencia, dignidade, firmeza, energia e prestigio, todas estas qualidades o governador geral de Moçambique reconheceu ao sr. Palma Velho; custa, porém, a acreditar que o actual governo, apesar d'ellas terem sido tão altamente apregoadas, até agora não mostrasse por obras que lhe reconhecia pelo menos algumas.

Tenho fallado dos serviços militares do sr. Palma que deveriam estar premiados por serem de longa data, e para que não esqueçam os scientificos relembrei-os outra vez.

Eu já hontem disse aqui, repito, e logo que elle fizera durante quatro annos as observações meteorologicam o districto de Cabo Delgado, assim como elaborára a carta chorographica da costa e ilhas do districto, desde Cabo Delgado até á bahia de Lurio, na extensão de 320 kilometros, que fizera o recenseamento de todas as povoações marcadas na dita carta; trabalho este que n'um paiz onde se apreciassem os homens de merito bastaria para o tornar merecedor de una premio condigno pela importancia do serviço que prestou, attenta a deficiencia dos trabalhos que existem d'aquella natureza.

Rias não fez só isto, levantou a planta da villa de Ibo, e fez um mappa geographico para conhecimento de limites comprehenhendo do lado norte o parallelo 9°, a leste o oceano indico, a oeste o lago Niassa e o rio Chire, ao sul o Zambeze.

Sr. presidente, estes estudos, estes trabalhos scientificos que deviam ser do conhecimento do governo e do dominio da sociedade geographica já ha muito que deviam ter sido premiados.

Saberá v. exa. e a camara que o governo apreciou-os já; e qual foi a opinião e a resolução que tomou? Foi demittir o sr. Palma Velho do insignificante governo que elle exercia, não para o mandar para um governo geral importante mas para o mandar para Portugal á sua custa, sem lhe pagar a passagem!!! E não cesso de repetir estes factos, que revelam. verdadeira ingratidão, para ver se por esta fórma levo o governo a recordar-se da injustiça que fez aquelle benemerito. Disse aqui o sr. ministro, que quizeram aggracial-o com a commenda da Conceição, o que elle recusára.

Sr. presidente, será porventura remuneração condigna, premio proprio a commenda de Aviz ou da Conceição para recompensar o merito, o valor e a lealdade?

Para este fim ha condecoração especial, a da Torre Espada, e foi essa que o governador geral de Moçambique propoz.

Pois, sr. presidente, o governo que tem achincalhado todas as graças, incluindo a da Torre Espada, pondo-a ao peito de insignificantes e de covardes, regateou ao sr. Palma Velho aquella homenagem a que tinha direito pela sua bravura.

Queriam agracial-o com a commenda da Conceição, dando-lhe o que não tinha valor, e que não obstante o obriga vá ainda a despezas fortes!

Queriam agracial-o com a commenda da Conceição, confundindo-o com essa turba-multa de insignificantes, de cavalheiros de industria, de zangãos da sociedade, que nada possuem de valor e importancia e nada são capazes de fazer. Não, isso não, contra tamanha affronta protesto eu.

S. exa. recusou com toda a dignidade a graça, que n'este caso, em logar de condecoração, em logar de uma honra, seria uma nódoa lançada sobre a farda d'um valente militar.

Sr. presidente, eu acho baixo e ridiculo todo este procedimento do governo, acho nobre e levantada a lição que o brioso lhe deu, recusando a graça insultante.

Sr. presidente, talvez pareça que eu tenha sido demasiado severo na apreciação do esbanjamento, e rebaixamento que este governo tem feito de todas as graças e condecorações; pois não o tenho sido: talvez tenha dito pouco, para o que podia e devia dizer, o que ficará para outra sessão. Os governos té em achincalhado tanto estas graças, que eu tenho por ellas um profundo desprezo, e por isso me revolto e indigno quando vejo querer pagar em moeda falsa serviços reaes e effectivos, com moeda que nada vale e que costumam dar a traficantes que enriquecem sem se saber aonde nem como. Todos os dias a folha official vem carregada com o peso enorme de graças, que nem ao menos têem a vantagem de trazerem uma verba para o thesouro. Supponho que os direitos de mercês dadas e não pagos ascendem a mais de 1.000:000$000 réis.

Espero, pois, que o sr. ministro da fazenda chame a attenção do seu collega da marinha e de todo o governo, a fim de que sejam contemplados com premio condigno todos os que se distinguiram na tomada de Meningaue e de Tungue.

É necessario que não fiquem esquecidos estes brilhantes feitos do sr. Palma Velho, e bem assim outros serviços já prestados de longa data, e que eu tive a honra dej á submetter á apreciação da camara.

Sr. presidente, vou concluir, asseverando em termos bem precisos, que acima de todos os galardões, acima de todos os premios, está a consciencia pura do homem modesto, que para conservar a honra, o prestigio e a dignidade do seu paiz, arriscou a vida. Acima de todos esses premios insignificantes e ephemeros, está esse padrão de gloria immorredoura, collocado em Meningane, onde se lê Palma, padrão que atravessando os seculos, attestará aos nossos vindouros que o coronel de cavallaria, José Raymundo de Palma Velho, foi o bravo que hasteou e manteve ali a bandeira das quinas.

É este o premio mais subido, é este o galardão mais significativo, que cabe a um benemerito da patria. Sr. pre-