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526 DIARIO DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO

facto se dê, podem ficar certos de que me vou embora, desappareço, porque já estive emigrado por tres vezes.

Sr. presidente, estou fallando assim, mas não tenho nenhuma indisposição contra os actuaes ministros, e não a tenho principalmente contra o sr. Hintze Ribeiro, que é açoriano, o que basta para que eu seja seu amigo.

Peço aos srs. ministros presentes mo façam a fineza de communicar estas minhas observações ao seu collega chi guerra, ou ás pessoas a quem se devem dirigir, porque, segundo me consta, quando alguem se quer dirigir ao sr. ministro da guerra, não é ao sr. Serpa Pimentel que vae fallar, mas a outros cavalheiros, a uma commissão de sabios, segundo o que se diz.

Sr. presidente, creio que o que se passou commigo não foi devido á suspeita de ser republicano.

Durante o tempo que estive no exercicio das minhas funcções, nunca tive politica, era simplesmente um soldado, e tanto assim que estava na intenção de pedir a minha reforma para poder apoiar o partido progressista, mas não me deram tempo para isso.

Eu sendo empregado de confiança do governo não podia votar contra elle. Era tal a sêde, a ambição de arranjar vacaturas, que até um general que estava fóra do exercito, no conselho superior de guerra e marinha, e que não deixava vaga, foi reformado.

De um homem com os serviços que tenho, não se disse no decreto de exoneração, se serviu bem ou mal; ao passo que o sr. ministra da guerra eleva ás nuvens uns generaes que ninguem conhece, uns palafozes que matam tudo-que se gabam muito, mas que por fim não fazem nada.

O governo desculpa-se do que praticou para commigo, dizendo que resolveu mandar ajunta todos os officiaes que tivessem mais de setenta annos; mas a verdade é que não se cumpriu esta resolução.

Ha generaes que podem muito menos do que eu e que não foram ainda inspeccionados. Quero saber o motivo d'esta excepção. Tenho direito a isso.

O facto é que as leis não se cumprem; está rasgada a carta por todos os lados.

Nos documentos officiaes ainda fazem a honra de apontar um ou outro artigo da carta constitucional; mas tal citação é apenas pro forma.

Houve quem dissesse que os srs. ministros eram inglesados.

Não creio em tal, porque o certo é que não podem e s ha ter-nos com uma nação tão poderosa como é a Inglaterra.

Ninguem me tomará por suspeito de ser amigo dos inglezes.

Pelo contrario, tenho razões para não o ser. Ainda me lembro dos dezesete infelizes, quasi todos militares, que em 1817 o marechal Beresford mandou enforcar no campo de Sant'Anna. Foram essas, póde-se dizer, as primeiras victimas da liberdade.

Nenhum exercito tem dado mais provas de liberal do que o exercito portugues.

O povo em massa não queria senão o absolutismo. Em 1826, quando se entrava n'uma cidade ou villa, o que de todos os lados se ouvia era " viva el-rei absoluto! viva el-rei nosso senhor! "

Mulheres e homens cantavam o hymno realista.

Quando El rei D. João VI veiu de Villa Franca, foram muitos emmedalhados puxar o coche real; o que deu logar ao annuncio que veiu depois na Gazefa de Lisboa, para o leilão das parelhas que haviam tirado o coche ao entrar na Sé para o Te, Dewn.

Estas reformas dos generaes importam um angmento de despeza superior a 300.000$000 réis.

Mas o povo póde pagar, diz o sr. Serpa Pimentel e a sua maioria, e então pague.

Sabem o que eu fiz quando li a carta do sr. Serpa? Mandei dar posse, pelos ajudantes, a quem me substituia, e disse commigo: Quousque tandem., Catilina, abuteris patientia nostra?!

É o mesmo que digo aos pessos dictadores.

Sr. presidente, não tenho, como já disse, a minima indisposição contra nenhum dos outros srs. ministros; ao contrario.

Com quem tenho menos relações é com o sr. Arouca, mas fui amigo de seu pae; pelo sr. Hintze já disse o que sentia; com o sr. Arroyo sympathiso, porque é moço e d et embaraçado, e eu gosto sempre dos homens desembaraçados; admiro Tambem o talento do sr. Lopo Vaz, embora digam que é um pouco ardiloso. (Riso.)

O que não me canso de repetir é que temos hoje uma brigada de instrucção que não póde dar resultado nenhum, porque tanto sabem os tirocinantes como os tiroci-nados.

E, por ultimo, não tenho visto fazer ao actual ministro da. guerra nada com que o exercito tenha melhorado ou possa melhorar.

O sr. Ministro dos Negocios Estrangeiros (Hintze Ribeiro): - Disse que não desconhecia os serviços muitos e importantes prestados por s. exa.; não são serviços para que s. exa. se deva arrepender de os ter prestado, porque s. exa. tem a consciencia de que contribuiram efficazmente para a implantação do regimen liberal. Mas sentia por si e por s. exa., que um bravo militar, que tão nobremente derramou o seu sangue, viesse empregar palavras nada correctas para com o sr. ministro da guerra, quando a disciplina e o respeito pelos superiores é a base da organisação militar.

Isto não era uma censura, era um pezar.

Um outro sentimento do orador era pela maneira por que s. exa. se referira a um militar que não tem assento n'esta camara, e que hoje exerce a commissão de commandante da primeira divisão militar, por isso mesmo tem direito a que soja aqui respeitada a sua ausencia, nem o contrario se harmonisa com os bons preceitos parlamentares.

O governo resolveu mandar á junta da inspecção de saude todos os militares que ultrapassassem uma certa idade; este principio, que tem sido sempre importante em toda a organisação militar, e que não representa offensa alguma, foi tão geral, que nem o sr. D. Luiz de Mascarenhas, chefe da casa militar de El-Rei, foi poupado, porque, estando comprehendido n'elle, foi inspeccionado, e teve de abandonar o exercicio das suas altas funcções.

3. exa., que foi quem nos apresentou este exemplo, bem vê que o governo não abriu excepções, nem quiz por forma alguma ferir ninguem.

Ser reputado incapaz de serviço por invalidez, não é offensa para ninguem, nem para, s. exa., cujos distinctos serviços e actos de valor todos conhecem e admiram.

E uma consequencia a que todos estamos sujeitos pelo correr dos tempos.

S. exa. mesmo, se attender á sua vida militar, ao que foi, aos serviços prestados, á maneira como se desempenhou das arduas commissões que exerceu, e dos arriscados trabalhos com que se viu a braços, ha de reconhecer, como todos, que era melhor sentir uma saudade viva d'esses tempos, em que s. exa. brilhava nos campos de batalha, do que vir empanar o brilho da sua carreira, vir lançar uma nódoa, uma sombra sobre o seu passado, apresentando-se hoje de uma fórma que não está nada em harmonia com os sentimentos de s. exa., nem com a nobre e elevada posição que occupa.

(O discurso do digno par será publicado "a integra, e em appendice a esta sessão, quando s, exa. haja revisto as notas tachygraphicas.)

O sr. Sá Carneiro: - Agradeço ao sr. ministro as explicações que me deu; mas devo dizer a s. exa. que não se adoptou a idade, como base geral para a reforma.

Isso não é bem a verdade.

O sr. Firmino João Lopes: - Sr. presidente, mando