O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

10 ANNAES DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO

O Orador: — Ouvi o Digno Par com todo o respeito e consideração e, por consequencia, espero que S. Exa. me dispense a mesma cortesia, não me interrompendo.

S. Exa., que tão acerbamente critica o Governo, por ter submettido á ponderação do Parlamento uma proposta, que de modo algum se proporciona a referencias a adeantamentos, porque nella se não trata de fazer adeantamentos, mas de pagar dividas, apressa-se a varrer a sua testada, de clarando que nem como Ministro da Guerra, nem como Ministro do Reino, fez quaesquer adeantamentos.

Quem é que levou o Digno Par a fazer uma tal declaração, e quem foi que o forçou a dizer tambem que assumia a responsabilidade de quaesquer adeantamentos feitos pelos Ministerios a que pertencera, visto ser absolutamente solidario com os seus collegas?

Será um procedimento muito coherente; mas os collegas de S. Exa. nos Ministerios a que pertenceu que digam a tal respeito aquillo que se lhes offerecer.

Disse tambem o Digno Par que a situação politica é actualmente muito mais complicada e difficil do que era no dia 2 de fevereiro, quando eu fui forçado, não por ambições politicas, que não tinha nem tenho, mas por um dever de honra e de lealdade, a tomar conta dos sellos da Coroa.

Pode ser que a situação seja agora mais complicada, pode ser que seja mais .difficil, mas o que posso assegurar a S. Exa., de sciencia certa, é que, no momento presente, ha mais concorrentes ao logar de Presidente do Conselho, do que havia quando acceitei a honrosa missão que o Chefe do Estado me confiou. (Risos).

No dia 3 de fevereiro a situação politica era como que uma interrogação, a que ninguem podia responder.

Hoje, essa situação está perfeitamente definida, e não ha apprehensões pelo que respeita ao futuro, se realmente se quiser continuar a politica de tolerancia e liberdade que o Governo inaugurou e tem sabido manter.

Convença-se o Digno Par de que hoje, quer se trate de uma monarchia ou de uma republica representativa, não pode acceitar-se forma de Governo que não repudie e enjeite medidas vexatorias e oppressoras da liberdade que o Digno Par preconizou. (Apoiados).

Não é de hoje o meu amor intenso ao systema que nos rege. Ainda mesmo nos meus tempos de estudante, não soffri d'aquella brotoeja republicana que tão facilmente ataca os que cursam as escolas.

Quero uma monarchia cheia de tolerancia, e que absolutamente se inspire em sentimentos liberaes; uma monarchia á maneira de Fontes, de Barjona e Aguiar: uma monarchia como foi a nossa nos tempos mais gloriosos do partido regenerador.

Afigurou-se a S. Exa. que era menos adequado ao prestigio de um homem, que tem as responsabilidades da Presidencia do Conselho, vir declarar que pertenceu a uma sociedade, em que os associados davam pelo nome de makavencos.

Se para se ser makavenco fosse preciso ser um bandido, uin ladrão de estrada, um homem que não pode ser acceito na sociedade limpa e correcta, então sim, que o Digno Par se deveria deixar conduzir pela mão do Sr. Lacerda, ou de qualquer outro espirita igualmente abalisado, e teria motivo para ir perturbar a quietação dos astros radiosos, que tanta luz derramaram no horizonte politico da epoca em que viveram. De Antonio Joaquim de Aguiar, com o seu golpe conhecido nas ideias reaccionarias; de Fontes, cuja tolerancia politica ficou proverbial; de Barjona, com a sua lei de imprensa; de Sampaio, com o seu Codigo Administrativo... A sociedade que ao Digno Par merece uma tão completa animadversão, compõe se de homens que se reunem em cavaco despreoccupado e ameno, e que ao fim das refeições, que compram com o seu dinheiro, se não esquecem de dar de comer a quem tem fome, e de proporcionar instrucção a quem d'ella precisa para ganhar honradamente a sua vida.

S. Exa., depois, no decurso das suas considerações, disse que a situação financeira e que a situação economica eram hoje peores do que quando este Governo subiu ao poder.

O Sr. Pimentel Pinto: — Eu disse que ha tres annos que a nossa, situação politica é má, que a situação financeira se aggrava dia a dia, e que as despesas crescem na proporção do decrescimento das receitas.

O Orador: — Mas, então, porque se ha de imputar a responsabilidade d'esse mau estar ao actual Governo? (Apoiados).

Este Ministerio, ao encetar o encargo que lhe foi commettido, encontrou uma crise politica das mais agudas que tem havido no periodo constitucional.

Deparou se-lhe uma desorientação de espiritos, que ainda não desappareceu totalmente, mas de que não resultarão vestigios, quando todos lidem sincera e patrioticamente no cumprimento do bem commum.

Attribuiu-me o Digno Par um grande egoismo, e uma grande affeição ao commodismo.

Pois posso garantir a S. Exa. que durante toda a minha vida não tenho feito outra cousa que não seja tratar dos outros. (Apoiados),

Creio que todos aquelles que conhecem a minha vida privada não deixarão de assentir á asseveração que apresento.

Pois, a despeito de um egoismo que o Digno Par teve a habilidade de desobrir, e de um amor ao commodismo que a minha longa vida publica não justifica de qualquer maneira, tenho tido a ventura de congraçar dois partidos, que as lutas politicas tornavam, em dados momentos, absolutamente irreconciliaveis, não sabendo que possa ter-se na conta de correria recreativa um logar que escassos momentos de repouso proporciona a quem o exerce.

Não sei se o Digno Par, que durante algum tempo sobraçou a pasta do Reino, se viu a braços com a difficilima escolha de administradores de concelho, e teve de resolver algum dos intricados problemas que por vezes apparecem nas juntas das parochias, ou nos serviços de instrucção primaria.

Se a S. Exa. se apresentou alguma vez a solução d'esses assuntos momentosos, e que são principalmente nas provincias assuntos de primeira grandeza, se teve as difficuildades que estes casos representam, deve comprehender que não supporta missão tão escabrosa quem por temperamento e habitos é affeiçoado ao commodismo.

O Digno Par censurou certos actos do Governo para chegar á conclusão de que se não mantem a ordem, ou se não procura assegurar a ordem.

O Digno Par, porem, esqueceu-se de que ir alem do que a lei exige para a manutenção da ordem, é a forma mais efficaz de provocar e manter a desordem.

A monarchia, como todas as formas de Governo, para poder viver, tem de cercar-se de formulas liberaes, ou de manter em constante revolta o país, e em manifesta inquietação espiritual e materia, o que é bem peor do que a tolerancia com quesquer excessos oratorios que, á força de permittidos e usados, perdem de todo o seu effeito no ponto de vista da intenção com que são pronunciados.

O Governo tem procedido por forma a garantir a estabilidade das Instituições; e não lhe fica na consciencia o mais leve remorso de ter desprezado qualquer recurso que tenda ao conseguimento d'esse fim.

O Governo que se succeder a este, se não seguir o mesmo caminho, compromette o país e as instituições.

Aquelas que teem verdadeiro amor ás instituições, os que tomaram, verdadeiramente a peito a defesa da monarchia, fazem um mau serviço ao país,