SESSÃO N.° 40 DE 12 DE AGOSTO DE 1908 5
combatividade, fugindo sempre ao contacto do inimigo.
Aconselhou S. Exa. por isso, aos Srs. Campos Henriques e Wencealau de Lima, que abrissem a tiragem, reforçassem o pessoal das fornalhas, que moderassem a alimentação das caldeiras e que, num golpe de fogo esforçado aumentassem a velocidade, abrindo por completo as valvulas de passagem e de maneira a metter a proa aos dois bordos da velha carcassa do almirante, mettendo no fundo o chefe incompetente, que não saberia nunca conduzi-los á victoria.
Disse isto S. Exa., com aquella finura e boa vontade que todos lhe reconhecem para com o chefe do Governo.
A hypothese tactica foi descrita, o objectivo estratégico foi aconselhar homens da respeitabilidade de caracter e da envergadura moral dos meus dois collegas a revoltarem-se, não contra o chefe, porque todos são irmãos no desempenho de uma rude tarefa; contra o amigo que, em todos os casos graves da esquadra ministerial, só manobra depois de consulta unanime dos commandantes dos navios da esquadra.
O conselho do Digno Par, se pudesse ser seguido por homens como os meus collegas, não afundaria o velho almirante, que não pediu para estar no logar que hoje occupa, e que o está exercendo em virtude da sua lealdade, da sua firmeza e da sua dedicação. Afundaria a justa reputação de homens que me servem de companheiros leaes e dedicados, homens de caracter e de tão alta probidade moral como os Srs. Wenceslau de Lima e Campos Henriques. (Apoiados).
S. Exa. aconselhava que estes illustres membros do partido regenerador arriscassem a sua reputação de homens de bem, reputação nunca posta em duvida.
S. Exa. aconselhava uma cousa que não podia desejar que praticassem pessoas das quaes sou amigo, não só politico mas pessoal.
Mas os Srs. Wenceslau de Lima e Campos Henriques continuarão a ser homens de bem como até aqui, embora lhes aconselhem o contrario.
Quando os dois navios' alliados se aproximarem do velho almirante, não será para o metter no fundo, mas, como até aqui sempre teem feito, para darem o reboque valioso da sua dedicação e do seu conselho ao velho companheiro, que tanto os respeita, considera e estimai
E, quando o navio almirante içar o sinal de que está finda a batalha, quando a esquadra alliada passar mostra de desarmamento, o almirante tem a certeza de que poderá parafrasear, em nome de todos os seus companheiros da esquadra ministerial, o que disse Nelson, no final do seu despacho, ao iniciar a batalha de Trafalgar : «Todos nós cumprimos o nosso dever». (Vozes: Muito bem, muito bem). S. Exa. & não reviu.
O Sr. Teixeira de Sousa: — Parte do assunto que constitue o projecto em discussão já por tres vezes o versei, com o fim exclusivo de definir as minhas responsabilidades; vindo agora ao debate, em ordem do dia, não teria justificação o meu silencio, embora seja um assunto esgotado numa discussão de quasi tres meses no Parlamento e de longos meses na imprensa. Foi para o discutir que me inscrevi, não pensando em trazer para a discussão cousa alguma de politica, nem sequer responder ao Sr. Presidente do Conselho, cujas affirmações apreciarei em diversas passagens do meu discurso. Hoje, mais do que nunca, é meu proposito afastar da discussão o caracter politico, porque, ás razões que já tinha para isso, tenho de acrescentar a de não querer que o Sr. Ferreira do Amaral me inclua nos concorrentes a gozar a facil e desafogada situação que o país, conforme a opinião do chefe do Governo, offerece a quem o queira governar.
Sobre o projecto que se discute foram pronunciados quatro discursos brilhantes, com um estudo profudo do assunto, honrando a discussão e os oradores que os pronunciaram, os Srs. Ressano Garcia, João Arroyo, Dantas Baracho e Pimentel Pinto.
Este Digno Par e meu amigo veio acrescentar aos seus triunfos parlamentares o discurso pronunciado hontem, sobre cujos pontos de vista pode haver divergencias, mas sobre cujo valor, estudo e isenção, muito grandes, não ha nem pode haver discrepancia.
O Sr. Pimentel Pinto declarou-se em liberdade ao falar assim, sem deixar de honrar com o seu apoio e a sua collaboração o partido de que tem sido ornamento.
A esse discurso respondeu o Sr. Ferreira do Amaral em tem aggressivo e insolito, que bem mostra que mesmo os habituados á canicula não podem fugir á sua influencia.
Não tenho o proposito de dizer palavras que firam ou incommodem sequer o Sr. Presidente do Conselho, e não quero, por minha parte, responsabilidade de um rompimento politico, que seria inconveniente. Se o quisesse, nunca a occasião fôra para isso mais asada, attenta a attitude do Sr. Ferreira do Amaral na sessão de hontem. E não ha como a gente não querer. Não quero ir á puxada, e por isso não vou.
Num tem alguma cousa irritado, e referindo-se á affirmação de que a situação de agora era tão má como a dos primeiros dias de fevereiro, o Sr. Presidente do Conselho disse que seria assim, mas que havia agora mais concorrentes á Presidencia do Conselho do que nessa epoca.
Eu não sei se em fevereiro havia ou não concorrentes á Presidencia do Conselho, mas o que sei é que a affirmação, de que ha agora muitos concorrentes, se me afigura fantasia, ou logar commum de defesa parlamentar.
Concorrentes? Quem?
Os republicanos, embora brilhantemente representados no Parlamento, aspiram, não a substituir o Sr. Ferreira do Amaral, mas a monarchia. E o seu ideal e o seu fim.
Os franquistas, depois da dolorosa experiencia que terminou no dia 1 de fevereiro, não dão nenhumas demonstrações de pretenderem renová-la.
O Sr. Jacinto Candido e o Sr. Conde de Bretiandos, estimados collegas na Camara, veraneiam ou tratam da sua saude, em logar de requererem o poder para os nacionalistas.
Os dissidentes, com o prestigio do seu chefe, que é ao mesmo tempo um espirito brilhantissimo e una temperamento de aço, e com o valor dos seus companheiros, é ver como todos manobram quando julgam o barco ministerial em perigo, mas para o salvarem.
Os progressistas, esses, segundo resa a chronica da Arcada, teriam um enorme desgosto se, a despeito de todas as profundas cogitações do Sr. José Luciano, o Sr. Ferreira do Amaral abandonasse o poder.
Resta o partido regenerador, mas a respeito d'esse é que a fantasia vae alem do que é possivel imaginar-se.
É o Sr. Julio de Vilhena, illustre chefe do partido regenerador, que quer ir occupar o logar do Sr. Amaral? Os partidos fizeram-se para governar, e o Sr. Vilhena ha de querer dar ao seu país tudo o que. pode e vale o seu talento, que é grande, e a sua devoção patriotica, que é reconhecida; mas que não é agora concorrente á Presidencia do Conselho prova-o á evidencia o facto de o Governo viver com o seu apoio, e de nelle continuarem dois homens que são ornamentos do partido regenerador.
O partido regenerador é o mais numeroso na Camara dos Deputados e na Camara dos Pares.
Um gesto seu bastaria para derrubar o Governo, e para dar a indicação constitucional.
Mais concorrentes agora do que em fevereiro? Porquê? Porventura a situação é agora melhor do que nessa epoca. Está desembaraçada de difficuldades? Em que melhorou ella? Não